Tornou-se triste quotidiano a presença de vídeos na internet que documentam episódios de antissemitismo na Alemanha. Ora é uma bandeira judaica sendo queimada; ora um homem que insulta o proprietário de um restaurante judaico, falando de câmaras de gás.
A cada vez, essas imagens desencadeiam uma onda de indignação. Políticos prometem tudo fazer para proteger os judeus no país, apelam para a história, a responsabilidade, anunciam iniciativas de cidadania. E falam dos complexos desafios enfrentados pela Alemanha, que só agora e tarde demais reconhece oficialmente ser um país de imigrantes.
O atual vídeo feito em Berlim prova de forma brutal que nada disso bastará para fazer frente à destemida naturalidade com que gente como o jovem em questão dá livre vazão a seu ódio: no bairro de Prenzlauer Berg, no coração da capital, numa praça movimentada e em pleno dia, um rapaz árabe espanca um outro jovem que usa uma quipá, dando a entender que é judeu.
É ódio frio que se lê em seu rosto quando ele tira o cinto para bater. Não está mascarado, pelo contrário, sabe que está sendo filmado, a vítima lhe segura o celular diante do rosto, grita várias vezes, claramente: "Estou filmando, estou filmando!" Para o agressor, é óbvio que tanto faz que seu ato de violência esteja sendo filmado, que ele seja identificado e que a polícia muito provavelmente vai encontrá-lo.
O que está acontecendo na Alemanha? Esse vídeo é uma perturbadora prova de que a sociedade alemã precisa urgentemente encontrar outras respostas para preservar as regras básicas de convivência. As punições usuais parecem não ser mais suficientes para intimidar tais agressores.
Uma olhada nos pátios das escolas talvez ajude a entender onde nós estamos. Professoras e professores tentam há anos sensibilizar a opinião pública para como se tornou corriqueiro os jovens se insultarem reciprocamente de "judeu". Também uma olhada nos textos do rap alemão comprova que, cada vez mais, erode-se o consenso de que termos antissemitas não têm lugar neste país. E que não se deve, sob nenhuma circunstância, relativizá-las e, desse modo, aceitá-las.
Seria falso afirmar que, hoje em dia, quem é judeu deve partir do princípio de que será agredido na rua se deixar visível a que religião pertence. Mas é igualmente falso dizer que um judeu não precisa temer ser agredido nas ruas alemãs, assim que sua religião se torne visível.
E o que é certo, de toda maneira, é que os instrumentos existentes não bastam mais. A Alemanha chegou a um ponto em que tem que decidir com que determinação pretende lutar por seus valores civilizatórios e por suas liberdades individuais.
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