A estreita vitória do esquerdista professor de escola rural Pedro Castillo agora é oficial, quase um mês e meio após o segundo turno no Peru, em um processo eleitoral turbulento.
Em muitos aspectos, a eleição de Castillo representa uma nova era no país andino. Porque o homem que tomará posse no dia 28 de julho encarna como nenhum outro político peruano as expectativas da população historicamente negligenciada, principalmente indígena do país.
O novo chefe de Estado, ele mesmo oriundo de uma das regiões mais pobres do Peru, tomará posse exatamente no dia em que o país celebra seu 200º aniversário como república independente. É uma história frequentemente marcada pela pobreza e pela desigualdade.
Contra as elites
Mas Castillo também é execrado por muitos de seus compatriotas. Ele se apresentou com um programa populista de esquerda e até recentemente não tinha laços estreitos com a capital Lima.
Mas depois de sua surpreendente vitória no primeiro turno, Castillo se tornou o terror das elites, também porque foi alvo de uma campanha de difamação sem precedentes. Sua oponente, a populista de direita Keiko Fujimori, denunciou, sem evidências, uma suposta fraude eleitoral, que não foi confirmada por nenhum observador eleitoral internacional.
Fujimori contou com o apoio de grandes empresas e personalidades reconhecidas no país na sua campanha para lançar dúvidas sobre o pleito. Alguns chegaram mesmo a defender a intervenção militar para evitar o "perigo comunista". Os ataques mostram profundo desprezo não só pela democracia, mas também pelo político provinciano que ousou desafiar as elites.
A teoria da fraude eleitoral é comum até mesmo no seio da sociedade peruana – um veneno que ameaça corroer o país. A saída indigna do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, infelizmente, deu o exemplo. A boa notícia, porém, é que as autoridades eleitorais do Peru resistiram aos ataques ao Estado de direito nas últimas semanas.
No centro da sociedade
Milhões de peruanos estão agora preocupados com o futuro de seu país sob o novo presidente. Pois como candidato, Castillo às vezes mostrava pouco respeito pelas instituições democráticas, e seu partido fez campanha com um programa radical que lembrava os modelos socialistas fracassados na região.
Castillo, portanto, faria bem caso se voltasse para o centro da sociedade, também correndo o risco de perder aliados no campo de esquerda mais intransigente. Essa seria a verdadeira surpresa da eleição. E a melhor maneira de proteger a democracia de seus inimigos.
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Isaac Risco é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.