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Castillo é proclamado presidente do Peru

20 de julho de 2021

Esquerdista é declarado vencedor de disputa acirrada com Keiko Fujimori, que afirma reconhecer resultado apesar de "ilegítimo". Esquerda latino-americana celebra eleição do professor e líder sindical.

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Pedro Castillo
Castillo, que obteve 50,12% dos votos válido, ao lado da vice, Dina BoluarteFoto: Guadalupe Pardo/AP/dpa/picture alliance

O candidato de esquerda Pedro Castillo foi proclamado presidente eleito do Peru nesta segunda-feira (19/07), um mês e meio após vencer nas urnas a política de direita Keiko Fujimori, que atrasou o processo eleitoral com mais de mil pedidos de impugnação do resultado alegando uma suposta fraude.

Após declarar infundados os últimos recursos apresentados por Keiko, o Júri Nacional de Eleições (JNE), principal órgão eleitoral do país, endossou os resultados do segundo turno do pleito presidencial, realizado em 6 de junho. Dina Boluarte foi proclamada vice-presidente.

Castillo, do partido Peru Livre, que se define abertamente como de esquerda marxista e comunista, obteve 50,12% dos votos válidos e uma margem de apenas 44.263 votos de vantagem sobre a filha do ex-presidente Alberto Fujimori e líder do partido Força Popular.

"Quero saudar as autoridades eleitorais e também os partidos políticos que participaram dessa festa democrática", declarou Castillo após a proclamação de sua vitória, diante de centenas de partidários reunidos na sede do Peru Livre, em Lima.

A proclamação de Castillo ocorreu oito dias antes da data prevista para a transição presidencial, 28 de julho, dia em que expira o mandato do presidente interino Francisco Sagasti e em que o país comemora 200 anos de independência.

Keiko considera proclamação ilegítima

Keiko Fujimori afirmou que respeitará a decisão do JNE, embora a tenha classificado de ilegítima por considerar que houve fraude no dia da eleição. "Vou reconhecer os resultados porque é o que mandam a lei e a Constituição que jurei defender”, afirmou.

Até o momento, nem Keiko nem seus aliados apresentaram qualquer prova confiável das irregularidades que têm denunciado, com base essencialmente em supostas assinaturas falsificadas. Em diversos casos, porém, as pessoas vinculadas a essas assinaturas confirmaram publicamente que foram as autoras delas e que não houve falsificação.

Keiko é acusada pela Lava Jato peruana de lavagem de dinheiro, de ter recebido suborno e de se beneficiar de caixa dois nas campanhas eleitorais de 2011 e 2016, quando também tentou se eleger presidente. A direitista, de 46 anos, já passou mais de um ano presa enquanto as investigações estavam em andamento. Em março, o Ministério Público peruano pediu uma sentença total de 30 anos e 10 meses de prisão para a política.

Keiko Fujimori
Keiko: "Vou reconhecer os resultados porque é o que mandam a lei e a Constituição que jurei defender"Foto: Martin Mejia/AP Photo/picture alliance

"Aqui neste peito não há rancor"

Castillo é professor primário na zona rural desde 1995. Quatro anos depois de sair do anonimato ao liderar uma greve de professores, ele assumirá com um discurso profundamente reformista. Seus planos incluem uma nova Constituição, por considerar que a atual, nascida no governo de Alberto Fujimori, em 1992, promoveu uma economia neoliberal cujo progresso econômico não resolveu as profundas desigualdades no país.

O Peru Livre será minoria num Congresso fragmentado e deverá buscar acordos para acabar com a instabilidade recente. Após cinco anos de convulsões políticas que levaram o Peru a ter três presidentes em cinco dias, em novembro de 2020, o país vivia sob tensão desde as eleições de junho. Centenas de militares aposentados pediram que as Forças Armadas impedissem que Castillo assumisse o poder.

"Trago o coração aberto para cada um de vocês, aqui neste peito não há rancor", declarou Castillo nesta segunda.

Castillo também assumirá um país duramente atingido pela covid-19: o Peru acumula quase 2 milhões de infecções pelo coronavírus e quase 200 mil mortos em decorrência da doença. Após ajustar as cifras no fim de maio, o país passou a ter a maior taxa de mortalidade do mundo na pandemia: 592 mortos por 100 mil habitantes.

Celebração da esquerda latino-americana

O governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, celebrou a eleição de Castillo e manifestou vontade de "desenvolver uma relação bilateral de cooperação integral". Para Caracas, a eleição do professor é um passo histórico para o povo peruano.

"Os humildes, os homens e mulheres do campo, os professores e professoras, a classe trabalhadora, os jovens, os povos originários decidiram ser protagonistas e marcaram com seus votos o rumo que deve seguir o Peru, rumo a um novo horizonte de esperança, justiça e igualdade", afirmou o Ministério do Exterior venezuelano em comunicado.

"Nossas mais cordiais felicitações ao presidente eleito do Peru, Pedro Castillo, e ao povo peruano por sua histórica vitória nas urnas", escreveu no Twitter o ministro do exterior de Cuba, Bruno Rodríguez.

"Juntos trabalharemos por uma América Latina unida", tuitou o presidente argentino, o peronista Alberto Fernández.

O México, cujo presidente é o também esquerdista Andrés Manuel López Obrador, uniu-se às felicitações a Castillo e as estendeu às autoridades eleitorais e ao povo peruano "por terem defendido a vontade do povo e das instituições democráticas".

O governo boliviano desejou sucesso a Castillo e que os "laços históricos de irmandade" entre os dois países se aprofundem.

O ex-presidente boliviano Evo Morales escreveu no Twitter: "É o triunfo da dignidade e da unidade do povo sobre o neoliberalismo. Pedro ensinará como se governa ao povo mais marginalizado e sacrificado".

Também conservadores parabenizaram Castillo pela vitória. O presidente colombiano, Iván Duque, disse esperar que Bogotá e Lima sigam trabalhando para fortalecer seus laços. Castillo também foi saudado pelo presidente do Equador, Guillermo Lasso, e pelo governo do Chile, presidido pelo conservador Sebastián Piñera.

No Twitter, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), parabenizou Castillo e disse que a OEA está comprometida a trabalhar com o novo governo peruano. A Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) também felicitou o novo presidente.

A embaixada dos Estados Unidos em Lima afirmou que espera fortalecer os laços com o governo de Castillo e felicitou os peruanos pelo encerramento do processo eleitoral.

lf/as (Efe, AFP)