Para muitos republicanos, passou a ser de bom tom fazer piada sobre gays e lésbicas. Mais do que nenhum outro grupo, as pessoas trans foram alvo em centenas de eventos de campanha nos últimos meses. A batalha pela interpretação do que são os verdadeiros valores americanos se concentrou nos pronomes.
O senador do Texas e possível candidato à Presidência Ted Cruz, por exemplo, não deixa escapar um discurso para enfatizar que seus pronomes são "kiss my ass". O governador da Flórida, Ron DeSantis – também possível candidato à Casa Branca – colocou a luta conta famílias arco-íris no centro de sua agenda política. E isso apesar de, há seis anos, 49 pessoas terem sido assassinada na boate gay Pulse em seu próprio estado.
LGBTQ como foco da direita conservadora
Ataques mortais a gays e lésbicas não são algo novo. Mas o ataque a tiros do último fim de semana ocorreu num novo ambiente político, cada vez mais acalorado. Depois que a Suprema Corte derrubou o direito ao aborto no último verão, a direita conservadora se concentra na limitação da igualdade de direitos para pessoas LGBTQ.
Nas escolas, serviços de orientação e aconselhamento são abolidos, livros são proibidos, e professores LGBTQ são aconselhados a não discutir suas "preferências pessoais".
O fato de que esse último ataque aconteceu no estado do Colorado se encaixa tragicamente nesse cenário político. No estado predominantemente liberal, que elegeu Jared Polis, um homem gay, como governador, também existem regiões extremamente conservadoras.
Uma dessas regiões é Colorado Springs, onde ao menos cinco pessoas foram assassinadas no fim de semana por causa de sua orientação sexual. Em 2015, três pessoas foram mortas e nove foram feridas numa clínica de aborto local.
A cidade abriga não apenas a academia da Força Aérea americana, mas também a sede do grupo evangélico de atuação nacional "Focus on the Family" (Foco na Família).
Duas ideias de sociedade
Como num núcleo atômico, duas ideias de sociedade colidem aqui: os EUA são um país moderno e aberto ou ficaram presos a uma compreensão retrógrada dos papéis do homem, da mulher e da família? É em lugares como Colorado Spring que a luta mortal pelos direitos liberais é travada nos EUA.
São massacres como o do último fim de semana que trazem ainda mais insegurança à comunidade LGBTQ, já abalada em meio às atuais injúrias políticas e exclusão social.
Ou como Brandon Wolf, um sobrevivente do massacre da Pulse, me escreveu no domingo de manhã: "A situação está ficando pior. E não vamos mais a lugar algum sem medo de ser a próxima vítima. A retórica do ódio está tendo efeito."
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Ines Pohl é correspondente da DW em Washington. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.