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Opinião: A perigosa crítica de Trump aos serviços secretos

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Michael Knigge
6 de janeiro de 2017

Com suas críticas às agências de inteligência dos EUA, futuro presidente enfraquece a já abalada confiança dos americanos em suas instituições governamentais, opina o jornalista Michael Knigge.

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Michael Knigge é jornalista da DW
Michael Knigge é jornalista da DW

Um presidente americano não tem que ser um amigo dos serviços secretos. Pelo contrário, a história nos ensina – não só desde as falsas provas sobre supostas armas de destruição em massa do Iraque, que serviram de motivo principal para a guerra contra o país – que um ceticismo saudável e, melhor ainda, uma certa desconfiança em relação aos serviços de inteligência é algo necessário.

Isso se aplica aos serviços secretos dos Estados Unidos de uma forma geral e, especialmente, também a seu chefe atual, James Clapper. Pois ele também não é sempre preciso ao lidar com a verdade. Assim foi que, durante uma audiência oficial no Congresso sobre o escândalo da NSA em 2013, ele simplesmente mentiu ao responder à pergunta sobre se a autoridade monitorava dados telefônicos de seus compatriotas, alegando que isso não acontece e que, caso aconteça, trata-se de algo involuntário.

Mas mesmo com toda a desconfiança pertinente em relação aos serviços de inteligência, suas informações e seus gestores, é pretensioso, ingênuo e perigoso não reconhecer em geral o trabalho que realizam, como faz o futuro presidente Trump há algum tempo. Dizer, como Trump fez em dezembro, que ele não precisa de um relatório de inteligência diário, mas apenas quando a situação exige, porque ele é "esperto", é prova não apenas de arrogância e ignorância, mas também coloca em risco a segurança dos Estados Unidos e do mundo.

O mais recente ataque de Trump aos serviços de inteligência dos Estados Unidos com referência ao fundador do Wikileaks, Julian Assange, tem, naturalmente, como meta transparente principal apagar ou deslegitimar a mácula de uma possível influência da Rússia sobre sua eleição. Ao mesmo tempo, sua manobra atabalhoada e realizada, como de costume, por meio do Twitter, enfraquece a já abalada confiança dos americanos em suas instituições governamentais.

Para ser mais claro: é lógico que não existe uma "arma fumegante", ou seja, uma evidência clara de que hackers russos, com conhecimento ou em nome de altos políticos russos, estariam por trás dos ataques aos democratas. Mas não somente há numerosos indícios de que pode ter sido assim, como também tal ocorrido combinaria com o já conhecido comportamento do Kremlin.

Ninguém é obrigado a concordar com essa avaliação dos serviços secretos, da Casa Branca e de muitos especialistas em segurança. Mas, como presidente eleito, é necessário justificar melhor uma opinião divergente sobre um tema tão importante para os EUA e para o mundo do que através de uma série de tuítes, cuja fonte principal é, evidentemente, uma entrevista de Assange à Fox News.

Acreditar mais na declaração dele de que as informações sobre os democratas não têm origem no lado russo do que na avaliação dos serviços de inteligência dos EUA é algo que não tem precedentes, perigoso e que provavelmente deve agradar ao Kremlin.

Mas o comportamento de Trump não surpreende muito. Durante a campanha eleitoral ele já havia semeado dúvida sobre o processo democrático dos Estados Unidos, com sugestões vagas e repetidas sobre um sistema supostamente manipulado, para afastar com antecedência a responsabilidade pessoal diante de uma possível derrota eleitoral.

Ele age da mesma maneira agora, com sua crítica aos serviços de inteligência. Pois se há algo que aprendemos sobre o futuro presidente nesse meio tempo, é que, apesar de seu controverso slogan "America First", quase sempre tudo gira em torno de um só indivíduo: Donald Trump.