Tempos loucos! Pelo terceiro trimestre seguido, grandes conglomerados alemães como Volkswagen, Deutsche Bank e Eon apresentam perdas que alcançam o escabroso total de 16 bilhões de euros.
Más notícias chegam de muitos países que já foram considerados grandes esperanças para a economia. Do Brasil, por exemplo, ou da Rússia: ambos caíram de vez na recessão, por motivos distintos. Também na China o motor já não está mais correndo tão suavemente. As nações que enchem seus cofres estatais com o petróleo têm problemas devido ao baixo preço do combustível. E uma velha conhecida desponta novamente no horizonte. Sim: a crise do euro.
E aí, à primeira olhada no smartphone pela manhã, quando as notícias já pipocam, lê-se: a economia alemã continua crescendo. Com a pequena ressalva: moderadamente. Bem, um acréscimo de 0,3% no terceiro trimestre pode ser um pouco inferior ao que os oráculos previram, mas é um acréscimo. Então está tudo bem? Não realmente.
Embora o crescimento médio de 1,5% da economia da Alemanha ainda esteja no campo das coisas possíveis, os riscos predominam. Pois, em grande parte, é o consumo que vai mantendo a economia em movimento.
E mesmo que os exportadores do país se encaminhem para um recorde em 2015, isso não permite ignorar os problemas. Pois esse recorde de exportações se baseia em encomendas feitas há muito tempo. Agora, os clientes estão cautelosos com novas encomendas. Não só nos países emergentes, esmagados pelo peso das dívidas, mas também na própria Alemanha, grande parte das empresas médias, em especial, prefere manter guardado o dinheiro que possui – e ele é muito.
Tudo somado, o resultado é que a indústria, a espinha dorsal da economia alemã, demonstra fraqueza. Na mais longa série negativa em quatro anos, já há três meses o volume das encomendas vem caindo. As razões são óbvias. Devido às sanções econômicas impostas pela União Europeia à Rússia, os negócios dos fabricantes de máquinas alemães com o país apresentam perdas vultosas. As nações produtoras de petróleo lucram bem menos devido à redução pela metade do preço do óleo e cancelam investimentos.
Tudo isso atinge as firmas alemãs – as quais, como dito, têm dinheiro suficiente guardado e, diante das taxas de crédito módicas, na verdade poderiam modernizar sua produção. Só que não o querem, pois a situação geral reforça, antes, a visão dos pessimistas.
Numerosos fatores contribuem para essa insegurança: a incerteza sobre a mudança da política de juros nos Estados Unidos; a possível saída do Reino Unido – país que compra mais produtos alemães do que a China – da União Europeia. E o mais tardar desde a guinada de Portugal para a esquerda, assim como com o recente adiamento das reformas por Atenas, também um retorno da crise do euro volta a se anunciar.
O efeito do afluxo de refugiados é controverso. No curto prazo, com certeza será positivo, já que o Estado terá que elevar consideravelmente seus gastos para fazer frente a problemas como alojamento e abastecimento. Porém, se e quando os próprios refugiados vão contribuir para impulsionar o desempenho econômico alemão, depende da rapidez com que se conseguirá integrá-los à sociedade.
No total, esse coquetel é bastante indigesto. A Alemanha precisa mostrar se, apesar dos ventos contrários, é capaz de ser a locomotiva da conjuntura europeia ou se não passa de uma embarcação mediana, que não vai mais adiante quando o vento fica forte.