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Opinião: Guerra gera fome no Sudão do Sul

James Shimanyula
23 de fevereiro de 2017

Com a falta de comida desencadeada pela guerra civil, país africano depende inteiramente da ajuda humanitária internacional. Mas o potencial agrícola sul-sudanês é grande, escreve o correspondente James Shimanyula.

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James Shimanyula é correspondente da DW em Nairobi, Quênia
James Shimanyula é correspondente da DW em Nairobi, QuêniaFoto: DW

Há anos, o Sudão do Sul depende de ajuda alimentar externa. Desde que se tornou independente, seis anos atrás, o mais jovem Estado africano só subsiste graças à intervenção da comunidade internacional, cuja ajuda humanitária é crucial nas regiões mais afastadas, quando a seca continuada destrói a colheita.

O país sofre atualmente uma crise de abastecimento extrema e declarou estado de calamidade nacional. Cinco milhões de pessoas – quase a metade da população, portanto – necessitam de mantimentos urgentemente. A fome se transformou em trágica e onipresente realidade num país marcado pela guerra civil e por problemas econômicos.

Essa situação perdurará, no futuro próximo, enquanto o Sudão do Sul não se tornar finalmente autossuficiente. Para tal, é necessário implementar programas de infraestrutura e introduzir reformas já em grande atraso.

A pré-condição para tal seria um acordo de paz no país – algo que não está em vista. Nos combates constantes entre as tropas do presidente Salva Kiir Mayardit e os rebeldes liderados por Riek Machar, dezenas morrem diariamente, milhares continuam sendo expulsos de suas moradias.

Em vastas regiões permanecem baldias terras que, sem problema, teriam potencial para alimentar seus habitantes. Contudo, devido à guerra, há anos os campos não são mais cultivados. Além disso, nos últimos dois anos a chuva tem sido escassa, e há muito as reservas nacionais foram esgotadas. Para os fazendeiros, vai longe a época em que eles se orgulhavam da economia baseada no gado.

Ainda assim, já estaria mais do que na hora de o governo em Juba se desligar da assistência humanitária internacional. Nenhum país autônomo pode depender a longo prazo de ajuda externa, sobretudo quando tem a chance de se autoajudar.

O governo sul-sudanês precisa enfim aproveitar as possibilidades de aprimorar os sistemas de irrigação, já que o país tem a sorte de ser atravessado pelo Nilo. O rio dispõe de grande volume d'água que, em princípio, permitiria irrigar os campos o ano inteiro. Com a instalação de sistemas de bombas e canais, seria fácil abastecer as férteis terras aráveis às margens do rio mais longo do mundo.

Os campos próximos a cidades como Malakal (capital da região do Alto Nilo), Bor (metrópole da província de Juncáli) e a capital nacional Juba poderiam assim se transformar em celeiros do Sudão do Sul, com a exportação de agroprodutos até mesmo proporcionando receita adicional. Pois até agora o petróleo é praticamente a única fonte de divisas do Sudão do Sul, embora a agricultura siga sendo seu principal setor econômico e tenha, portanto, grande potencial.

Infelizmente o jovem país africano fracassou na meta autoimposta de conseguir alimentar a própria população. Nem mesmo se chegou a tentar de produzir gêneros alimentícios para exportação. O atual estado de calamidade é de fabricação doméstica: a causa decisiva não é o clima, mas sim a guerra civil ininterrupta e a fracassada política governamental de infraestrutura.