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Opinião: Em Berlim, acabaram-se os dias ensolarados

25 de setembro de 2017

O resultado da eleição legislativa não tornará mais simples a política federal da Alemanha. A formação de governo será penosa, com uma Angela Merkel debilitada, opina o jornalista Christoph Strack.

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Deutschland Merkel
Foto: Reuters/M. Rehle

Em Berlim, o dia seguinte a uma eleição legislativa fora do comum se mostra nublado, úmido, desagradável. Os dias de sol chegaram ao fim. Uma imagem simbólica para os próximos meses? O novo Bundestag (Parlamento alemão), cujos integrantes se reúnem pela primeira vez nesta segunda e terça-feira (25-26/09) será o maior de todos os tempos: 709 deputados de sete partidos, em seis bancadas.

Com a estreia da populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e o reingresso do Partido Liberal Democrático (FDP), um número inusitado de políticos estará pisando o órgão legislativo pela primeira vez. A situação deverá ser confusa, talvez também desagradável.

Isso não se deve apenas ao primeiro pronunciamento público da AfD. Antes mesmo de sua bancada estar formada, a figura mais destacada e bem-sucedida da legenda, a copresidente Frauke Petry, já se distanciava, criticando que os membros moderados estavam sendo "desacreditados em todos os níveis".

Pouco mais de uma hora mais tarde, chegava do estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental a notícia de que quatro políticos haviam se desligado da bancada estadual da AfD. Isso mostra que populismo não é programa partidário: o partido corre perigo de se desviar ainda mais para a direita – embora parte de sua missão seja também manter-se confiável para os eleitores.

Pode-se julgar como se quiser as apresentações públicas do líder do Partido Social-Democrata (SPD), Martin Schulz. Mas é notável a legenda ter registrado, segundo ele, a adesão de 975 novos membros, da noite para o dia. O Partido Verde, por sua vez, acusou 268 novas adesões. Sem dúvida, em breve outros partidos terão notícias semelhantes para dar: a participação política não se esgota com a ida às urnas.

A votação de domingo mobilizou 76,2% do eleitorado alemão – uma percentagem assustadoramente baixa. Nos tempos das maiores controvérsias políticas internas, até o fim dos anos 1970 – quando a República Federal da Alemanha ainda estava se organizando, após sua criação em seguida ao fim da Segunda Guerra Mundial –, o país não só apresentava uma presença às urnas muito mais numerosa: na época, os grandes grupos políticos ainda eram, de fato, partidos populares, ostentando números de adeptos bem mais elevados.

É preciso que mais gente volte a se engajar, os partidos alemães precisam se mostrar novamente capazes de integrar mais cidadãos. Com frequência excessiva são sempre os mesmos velhos círculos que atuam: política é competição e briga pelas melhores concepções, política é também combate em conjunto, com todos.

No tocante à União Democrata Cristã (CDU) de Angela Merkel, havia na noite da eleição suficientes espíritos entusiasmados da juventude do partido comemorando como vitória um resultado decepcionante. E o principal candidato da irmã bávara União Social Cristã (CSU), Joachim Herrmann, celebrava o fato de ter sido evitada uma coalizão governamental reunindo social-democratas, esquerdistas e verdes. Sem chances de ser o chefe de governo, ele precisará de um cargo de ministro em Berlim.

Isso torna penosa a formação do governo federal. Mas alguém precisa governar, dialogar de forma confidencial, estabelecer confiança, negociar consensos, assumir responsabilidade. No fim da noite de domingo, a chanceler federal Merkel disse, na sede da CDU, que "agora não virão semanas muito fáceis", mas que serão vencidas com "responsabilidade" pelo país e o programa partidário.

Há, ainda, o fator tempo: em 2005, quando precisou se formar a primeira grande coalizão encabeçada por Merkel, a composição do governo levou 65 dias; a segunda investida, em 2013, precisou de 86 dias. Já nesta segunda-feira, numerosos representantes da economia pressionaram por uma formação de governo veloz, dirigindo-se sobretudo à atual e – segundo os dados atuais – futura chanceler federal.

No entanto, Angela Merkel está debilitada, por mais que, com toda sua experiência, irradiasse tranquilidade em meio à tempestade do resultado eleitoral. Examinadas de perto, as urnas mostraram que a CDU/CSU perdeu os votos dos que se sentem excluídos da sociedade, que temem pelo próprio futuro, que talvez por isso se mostrem tão agressivos na questão dos refugiados.

Na grande política, Angela Merkel se reinventou algumas vezes, em seus 12 anos à frente do governo. Em termos de política partidária, isso ficará mais difícil. Seus dias ensolarados chegaram ao fim.

 

Christoph Strack Repórter, escritor e correspondente sênior para assuntos religiosos@Strack_C