ONU pede investigação de supostas execuções de russos
22 de novembro de 2022Vídeos que mostram soldados russos deitados no chão, rendidos por ucranianos, e aparentemente sendo executados a tiros em seguida provocaram reações internacionais para possivelmente dar início a uma investigação sobre o caso – e os votos de Moscou para encontrar os responsáveis.
Uma porta-voz do gabinete dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, na Suíça, disse à agência de notícias alemã dpa nesta segunda-feira (21/11) – e também previamente à Reuters – que tomou conhecimento sobre o fato, que deve ser investigado.
"As alegações de execuções sumárias de pessoas 'hors de combat' devem ser pronta, plena e efetivamente investigadas, e quaisquer perpetradores, responsabilizados", declarou Marta Hurtado.
O termo francês 'hors de combat' integra o direito internacional e significa "fora de combate", ou seja, descreve soldados que não estão ativamente em combate ou não são capazes de combater em guerra.
Os vídeos surgiram na semana passada em mídias sociais e também na mídia da Ucrânia, segundo o jornal The New York Times, e mostram diversos soldados russos vigiados por ucranianos. Na sequência, tiros podem ser ouvidos. Mais tarde, outra parte do vídeo exibe em torno de uma dúzia de cadáveres.
As imagens teriam sido feitas no meio deste mês de novembro, quando o exército ucraniano recapturou o vilarejo de Makiivka, na região de Lugansk, no leste do país. Conforme especialistas consultados pelo NY Times, o vídeo parece autêntico, embora o contexto ainda cause dúvidas.
Devido a esse episódio, russos e ucranianos acusam-se mutuamente de cometer crimes de guerra. Moscou alega que "soldados desarmados foram impiedosamente alvejados".
Kiev, por meio do comissário de Direitos Humanos da Ucrânia, Dmytro Lubinets, diz que o ato ocorreu em legítima defesa porque pelo menos um dos soldados russos teria atirado no momento da rendição.
Ao comparar os vídeos com imagens de satélite, o NY Times concluiu que as filmagens foram feitas em uma propriedade rural de Makiivka por pelo menos duas fontes: um soldado ucraniano que documentou as batalhas no vilarejo e também drones possivelmente das forças ucranianas que foram utilizados para vigiar a ofensiva.
Suspeitas de extermínios de civis
Ucranianos e russos têm se acusado mutuamente de cometer crimes de guerra desde o início da invasão, que começou oficialmente em 24 de fevereiro deste ano. Mas o número de acusações reportadas contra o exército russo aparenta ter uma escala maior.
A cidade de Bucha, nos arredores da capital Kiev, ficou marcada quando as tropas russas deixaram a região e um rastro de brutalidade: estima-se que 458 civis foram mortos, vários deles enterrados em valas comuns descobertas após o êxodo russo do município, em abril.
Em setembro, uma vala comum e pelo menos dez locais usados para tortura foram descobertos na cidade de Izium, na região de Kharkiv, no nordeste do país, depois que forças ucranianas retomaram a área.
Após Moscou anunciar a retirada da cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, no início de novembro, o conselheiro da Presidência ucraniana, Mykhailo Podolyak, afirmou que as forças russas colocaram minas e pretendem transformar o município numa "cidade da morte".
O governo ucraniano também acusa a Rússia de bombardear propositadamente alvos e infraestruturas civis. Na semana passada, o presidente Volodimir Zelenski disse que cerca de 10 milhões de habitantes – de uma população total pré-guerra de 44 milhões – estavam sem energia, isto é, às escuras e sem aquecimento.
Rússia não prevê mais convocações
Nesta segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que os responsáveis pela suposta execução de soldados russos no vilarejo de Makiivka devem ser punidos e que a Rússia vai em busca dos perpetradores.
Ao mesmo tempo, Peskov descartou quaisquer planos concretos do governo russo para uma segunda onda de convocações de reservistas, após os 300 mil homens que foram chamados em outubro para se preparar ou mesmo lutar na Ucrânia.
Em território ucraniano, de acordo com a inteligência britânica, as forças russas estão concentradas em defender a cidade de Svatove, no leste do país, embora a escassez de munição e de pessoal capacitado estaria dificultando progressos russos na guerra.
"Como um centro populacional significativo dentro de Lugansk, os comandantes russos muito provavelmente encaram a manutenção do controle da Svatove como uma prioridade política", publicou o Ministério da Defesa do Reino Unido no Twitter.
Na usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, as instalações permanecem intactas, apesar de meses de fortes bombardeios, a exemplo dos que ocorreram no último final de semana. A consequente destruição na área, no entanto, ainda causa preocupação entre as autoridades.
"Esse é um grande motivo de preocupação, pois demonstra claramente a intensidade do ataque a uma das maiores usinas nucleares do mundo", divulgou o diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), Rafael Grossi, em um comunicado.
Zelenski pede união à Otan
Em um vídeo transmitido para uma sessão plenária da Assembleia Parlamentar da Otan, em Madri, o presidente ucraniano reforçou a necessidade de união entre os países da União Europeia e da Otan, e reiterou o desejo de que o país se torne membro de ambos os blocos.
"Eu apelo a fazerem de tudo para garantir que nossa comunidade não seja enfraquecida", afirmou Zelenski, que também disse que as consequências dos bombardeios a alvos civis deveriam levar a Rússia a ser classificada como um "estado terrorista".
Também nesta segunda-feira, a Noruega anunciou que repassará à Ucrânia o equivalente a quase 195 milhões de dólares para investir em gás para o inverno.
O acordo foi assinado pelo ministro das Finanças do país nórdico, Trygve Slagsvold Vedum, que fornecerá fundos através do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento.
gb (dpa, Reuters, ots)