Migrantes necessários
12 de julho de 2010Segundo um relatório da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) divulgado nesta segunda-feira (12/07) em Bruxelas, em alguns países da organização o desemprego entre migrantes e seus descendentes aumentou bem mais do que entre a população nativa. Esse foi o caso principalmente da Espanha, Irlanda e Portugal, mas também da Áustria.
Os mais afetados foram migrantes jovens com trabalho de baixa remuneração, sobretudo nos setores de construção civil, hotelaria ou na gastronomia, divulgou a pesquisa. Na Europa, 24% dos migrantes entre 15 e 24 anos estão desempregados, um índice bem maior do que entre a população local.
Diferentemente de outros países, o relatório constatou que, na Alemanha, a crise econômica pouco influenciou as chances de trabalho para estrangeiros. Entre as mulheres imigrantes foi constatado até mesmo um desenvolvimento positivo da situação de emprego.
O principal motivo seria o aumento da demanda de mão-de-obra nas áreas de enfermagem e serviços domésticos. Com o envelhecimento da população, essa tendência promete se acentuar, afirma o documento. A OCDE explicou ainda que a aquisição da cidadania tem efeito bastante positivo sobre as chances de trabalho dos imigrantes.
Origem e destino
O relatório anual da OCDE também constatou que, em 2009, o número de migrantes diminuiu em todo o mundo. No ano passado, 4 milhões de pessoas deixaram seu país de origem, o que representa uma queda de 6% em relação a 2008.
Já há cinco anos essa tendência é decrescente, afirma o documento. O principal motivo seria a crise econômica e financeira, que levou a cortes de postos de trabalho, salários mais baixos e contratos empregatícios temporários.
Segundo a OCDE, a Europa recebe quase 40% dos emigrantes do mundo todo. Os principais destinos são a Noruega, Suíça, Áustria e Alemanha. Os países com a maior taxa de emigração, por sua vez, são China, Índia, Polônia e Marrocos.
Tendência decrescente
A comissária europeia para Assuntos Internos, Cecília Malmström, mostrou-se preocupada com essa tendência migratória decrescente. "Precisamos de migrantes", disse ela por ocasião da apresentação do relatório. "A população irá diminuir bastante. A longo prazo, não poderemos manter, sem os migrantes, nosso bem-estar social", acresceu.
A comissária explicou que, principalmente no setor assistencial e de serviços, há carência de mão-de-obra e que muitos países não podem mais preencher esses postos de trabalho com sua população. Os especialistas da OCDE afirmam que, em alguns países do sul da Europa, na Áustria e na República Tcheca, os migrantes já perfazem mais de um terço da população ativa.
Política migratória
Ao apresentar o novo relatório em Bruxelas, o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, afirmou que "os atuais problemas não irão modificar os futuros desafios demográficos. Por esse motivo, é importante que a política migratória mantenha uma perspectiva de longo prazo". Restrições demasiadas à imigração não seriam solução, explicou Gurría.
O secretário-geral da OCDE considera importante compreender que, principalmente quando a economia vai bem, os migrantes prestam uma importante contribuição para o desenvolvimento econômico.
Apesar da crise, a OCDE aconselhou seus Estados-membros a adotar uma política migratória de longo prazo e ajudar de forma direcionada a integração dos migrantes desempregados.
László Andor, comissário europeu do Trabalho, afirmou que a luta contra o desemprego entre os jovens é um dos maiores desafios da União Europeia. "Os jovens migrantes são o nosso futuro", disse Andor. "Temos que garantir sua formação profissional e impedir que eles caiam na pobreza". Para o comissário europeu, a integração é a chave do combate ao desemprego juvenil.
Cidadania alemã
A OCDE também aconselhou seus países-membros a estimular a naturalização de migrantes e a reduzir as dificuldades existentes para tal. Segundo dados da organização, na Alemanha, cerca de 94,5 mil pessoas adquiriram a cidadania em 2008 – um número 16% menor que no ano anterior. Esse é o menor nível desde os anos 1990. A OCDE disse ainda que os esforços do governo alemão para atrair migrantes com qualificação profissional elevada até agora tiveram pouco êxito.
Segundo Gunnar Heinsohn, cientista social de Bremen, a Alemanha é um país pouco atraente para migrantes profissionalmente qualificados. Nos Estados Unidos, a proporção dos profissionais com alta qualificação entre os imigrantes é de 55%, na Austrália de 85% e no Canadá de até mesmo 99%. Na Alemanha, por sua vez, essa taxa se restringe a 5%.
CA/dpa/afp/kna/edp/dw
Revisão: Simone Lopes