O renascimento do luxo na primeira classe
17 de junho de 2015Seja em solo ou no ar, as companhias aéreas sempre deram tratamento diferenciado aos clientes especiais. Mas, após a mais recente crise financeira internacional, os passageiros da primeira classe pareciam ser uma espécie em extinção. No entanto, as viagens de primeira classe estão agora numa fase de renascimento.
De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês), neste ano, as reservas na classe premium da aviação comercial cresceram 2% mundo afora em comparação com o mesmo período de 2014. O serviço inglês de dados da aviação OAG verificou um aumento de um terço desde 2009.
Porém, há fortes diferenças regionais nesses números. Enquanto que os mercados da América do Sul e da África recuaram fortemente, o maior aumento nas vendas de bilhetes de primeira classe se deu no Leste Asiático.
As empresas aéreas europeias, americanas e dos países do Golfo expandiram suas primeiras classes principalmente nas rotas no Hemisfério Norte. Já a companhia australiana Qantas é praticamente a única a oferecer o serviço na Austrália.
Diante das melhorias implementadas pelas empresas na classe executiva, se fez necessária uma reinvenção da primeira classe para justificar seus altos preços, e esta se deu mais no sentido qualitativo do que quantitativo. Assim, Air France, British Airways e Lufthansa diminuíram a quantidade de assentos na primeira classe, mas não o espaço reservado para ela. Com isso, o conforto aumentou, e a primeira classe se tornou ainda mais exclusiva.
A revolução do A380
Esse movimento das companhias aéreas tem muito a ver com a chegada do Airbus A380. A fuselagem do maior avião da aviação civil anunciou a tendência de um novo tipo de luxo. A aeronave ofereceu às companhias aéreas o espaço para se criar todas as comodidades que parecem ser importantes para os clientes mais abastados. Com isso, o avião se tornou o showroom da primeira classe.
Com a entrega do seu primeiro A380, a Singapore Airlines introduziu um novo modelo, com cabines separadas para proporcionar mais privacidade. Outras aéreas apostaram numa decoração com cores frias e design sóbrio (Air France, British Airways e Korean Airlines) ou no estilo barroco, com luminárias em ouro e mogno (Emirates).
A configuração das poltronas é quase sempre 1-2-1. Somente a australiana Qantas disponibiliza, por fila, apenas três assentos, que também podem ser inclinados, fazendo com que o espaço para o passageiro seja ainda maior. Além disso, há os chamados Skybars, onde os clientes podem saborear coquetéis (em companhias como Etihad e Qatar). Já a Emirates disponibiliza cabines privativas com chuveiro.
Há a opção de alocar a primeira classe no deck superior dos A380. Empresas que o fazem (entre elas a Qatar, Etihad, Thai e Lufthansa) têm menos espaço à disposição do que as companhias que utilizam o deck inferior (como Qantas, British Airways e Singapore). O número de assentos oferecidos pelas companhias na primeira classe varia de oito a 14 assentos.
Relançamento nos mínimos detalhes
"Nossa primeira classe é uma obra de arte. Juntos, todos os detalhes compõem a experiência", afirma Joachim Schneider, chefe de gerenciamento de produtos da Lufthansa.Os detalhes incluem as novas poltronas da primeira classe, cada uma com seu próprio armário para roupas; divisórias que transformam o ambiente num refúgio ideal para descansar; isolamento acústico para que o som da máquina de café não atrapalhe o sono e, ainda, um sistema de umidificação do ar da cabine – exclusivo da Lufthansa. Todos esses mimos fizeram com que a primeira classe da companhia aérea alemã recebesse 5 estrelas do portal de consultoria de aviação Skytrax.
Nenhum detalhe passou despercebido pelas aéreas. As comodidades a bordo (de pijama a nécessaire) podem incluir marcas como Bulgari e Bogner, e os comissários de bordo são especialmente selecionados para servir os passageiros de primeira classe. As companhias aéreas também não economizam em termos de alimentação: caviar, lagosta, champanhe e vinhos finos se tornaram padrão. E é o passageiro quem define a hora da refeição, preparada por renomados chefs.
Altos padrões
"Fazemos todos os esforços que nossos clientes esperam de nós, do check-in ao embarque", define Schneider o conceito da Lufthansa.
Hannah Roberts, responsável pelo setor de marketing da British Airways, diz que os passageiros da primeira classe são muito exigentes. "Para eles, o mais alto padrão é sempre o mínimo a ser oferecido", afirma.
Schneider e Roberts silenciam ao serem perguntados sobre quem são os clientes de luxo. Em meio a presidentes de empresas, empresários e celebridades estão também pessoas que, pelo menos uma vez na vida, desejam ter a oportunidade de voar na primeira classe.
O melhor também em solo
O luxo já começa em solo, antes mesmo do cliente embarcar no avião. Equipados com spas e restaurantes, os lounges de primeira classe são o cartão de visitas das companhias aéreas, que todos os anos disputam as avaliações dos passageiros em rankings na internet. Os clientes que voam de primeira classe, porém, não chegam a representar 1% do tráfego mundial de passageiros.
O lounge Qantas First, em Sydney, seduz com seu design utópico (o melhor de acordo com o Portal DesignAir); o lounge da Thai Airways, em Bangkok (primeiro lugar no Skytrax), e o londrino Commodore Room, da British Airways, se parecem com lobbies de hotéis de luxo.
A Lufthansa oferece aos seus passageiros de primeira classe até mesmo um terminal próprio em Frankfurt, com controle de passaporte e segurança exclusivos, assim como um serviço de limusine que leva o cliente da sala de embarque diretamente ao avião.
Luxo dos países do Golfo
Schneider e Roberts admitem que a competição agressiva com as companhias aéreas dos países do Golfo fez necessário reinventar as primeiras classes, o que custou milhões de euros.
Tudo isso para manter a imagem das empresas como as principais companhias aéreas do mundo. Desde o começo, Qatar Airways, Emirates e Etihad viram sua frota como porta de entrada para um Oriente Médio moderno e, por isso, queriam proporcionar a empresários e investidores a melhor viagem possível à região.
As primeiras classes servem ainda para promover uma marca. E o luxo oferecido ao passageiro sobre as nuvens continua sendo o principal fator de referência.
A Etihad mostra o quão longe isso pode ir. Há pouco tempo, a companhia oferece aos passageiros a oportunidade de reservar, numa viagem entre Londres e Abu Dhabi, a suíte de três cômodos "The Residence", que inclui mordomo e banheiro privativo. A habitação a 10 mil metros de altura custa a bagatela de 17.200 euros – só para a viagem de ida.