O que é a lista de procurados da Rússia
14 de fevereiro de 2024A Rússia emitiu nesta terça-feira (13/02) uma ordem de busca e captura em seu território para a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, de 46 anos, assim como outros funcionários de alto escalão e deputados desse país e da Lituânia.
Todos foram incluídos numa lista de procurados, feita pelo Ministério do Interior da Rússia e na qual estão acusados de crimes. O Kremlin acusa os países bálticos de "atos hostis contra a memória histórica" da Rússia.
No caso de Kallas, o motivo seria a destruição ou danos causados a monumentos de soldados soviéticos no país báltico, disseram funcionários das forças de segurança russas à agência de notícias Tass. "Essas pessoas são responsáveis por decisões que equivalem à profanação da memória histórica", alegou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Kallas é uma das vozes mais contundentes dentro da União Europeia (UE) e da Otan a favor do fornecimento de armas à Ucrânia e do endurecimento das sanções à Rússia. Em janeiro de 2021, tornou-se a primeira mulher a chefiar o governo do país báltico, cargo que renovou quando seu partido venceu as eleições legislativas realizadas em março do ano passado.
Que lista é essa?
Trata-se de um banco de dados oficial do Ministério do Interior da Rússia. Ele pode ser encontrado no site do ministério. Suspeitos de terem escapado da Justiça russa são incluídos na lista de procurados. O ministério não divulga os critérios pelos quais isso ocorre. Hoje a lista inclui 96.752 pessoas procuradas por delitos criminais.
Quem são os estrangeiros na lista?
Centenas de estrangeiros estão nessa lista, principalmente soldados ucranianos e da Legião Internacional das Forças Armadas da Ucrânia. Mas há também 160 políticos, parlamentares e funcionários públicos do Leste Europeu. Eles são da Estônia, Lituânia, Letônia, Polônia e Ucrânia.
Entre os nomes mais conhecidos estão a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, o secretário de Estado da Estônia, Taimar Peterkop, e o ministro da Cultura da Lituânia, Simonas Kairys.
De que eles são acusados?
Um dos motivos oficiais para a busca são "atos hostis ao legado histórico da Rússia". Por exemplo, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, o Parlamento da Letônia votou a favor da demolição de todos os monumentos remanescentes da era soviética no país. Esses monumentos são dedicados à Grande Guerra Patriótica, como a Segunda Guerra Mundial é conhecida na Rússia.
Para o Ministério do Interior da Rússia, esse é um motivo suficiente para colocar todos os membros do Parlamento que votaram a favor da demolição, em maio de 2022, na lista de procurados. Só aí já são 83 pessoas, incluindo a ex-ministra do Interior Maria Golubeva.
Os monumentos soviéticos começaram a ser demolidos na Lituânia na década de 1990. Em 2022 foram removidos os últimos remanescentes. Também na Estônia foram demolidos monumentos soviéticos.
Mesmo entre a população do Báltico houve protestos isolados contra essas demolições. A Rússia, porém, criticou duramente essas decisões. "A guerra contra a nossa história comum e a remoção de monumentos àqueles que salvaram a Europa do fascismo é, obviamente, ultrajante", declarou o Kremlin.
Mas demolir monumento não é o único motivo que pode levar uma pessoa para a lista de procurados da Rússia. O presidente russo, Vladimir Putin, criticou repetidamente sobretudo a Letônia e a Estônia pelo tratamento dado às suas minorias de língua russa.
Os dois Estados bálticos estão virando completamente as costas para o idioma russo. Aulas são ministradas nos respectivos idiomas nacionais. E quem quiser continuar a viver na Letônia com um passaporte russo deve comprovar seus conhecimentos do idioma letão até o ano que vem, no máximo. Caso contrário, há o risco de expulsão, mesmo que a pessoa tenha passado toda a sua vida na Letônia.
O que pode acontecer?
Desde que não coloquem o pé na Rússia, nada. Mas, uma vez na Federação Russa, as pessoas procuradas podem ser presas e sofrer processos criminais por "atividades criminosas".
Há interesses políticos nessa lista?
Sim. De olho nas eleições presidenciais de março, Putin quer mostrar que defende todos os russos – e isso vale também para os que não vivem na Rússia. O líder do Kremlin quer se posicionar como um presidente de mão forte e resoluto, mesmo que isso coloque em risco as relações bilaterais, já tensas, com os países bálticos.
E essa lista também contribui para fortalecer a imagem de uma Europa hostil, que apoia fortemente a Ucrânia. Em especial Kallas é uma defensora veemente do envio de mais armas para a Ucrânia.