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O que levou o Brasil à atual crise econômica?

Jean-Philip Struck3 de março de 2016

Resultado do PIB não surpreende economistas, que apontam instabilidade política, queda de consumo, falta de reformas e problemas na Petrobras como causas. Previsões para 2016 não são otimistas.

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Container Hafen von Rio de Janeiro
Foto: picture-alliance/dpa

A divulgação do resultado do PIB não surpreendeu os economistas brasileiros. Os dados do IBGE mostram que a economia sofreu uma queda de 3,8% em 2015, o pior índice desde que a atual série histórica foi iniciada, em 1996.

Os números consolidaram um cenário de estagnação nos cinco anos de governo Dilma Rousseff. Com o último resultado, a média anual de crescimento dos anos Dilma chega a apenas 1%. O resultado negativo também anulou o crescimento dos últimos anos, fazendo com que a economia voltasse ao patamar registrado no início de 2011.

O PIB de 2015 chegou a 5,9 trilhões de reais. O PIB per capita, por sua vez, foi de 28.876 reais, o que aponta uma queda de 4,6% em relação aos dados de 2014.

Crise de confiança

Para o economista Julio Hegedus, da consultoria Lopes Filho & Associados, o número ficou dentro das previsões, que apontavam uma queda de até 4%. “Esse é o resultado de uma crise de confiança, queda de investimentos e de instabilidade política”, afirma.

Segundo Hegedus, a falta de articulação do próprio Planalto, somada à erosão da base do governo no Congresso, resultou num cenário de incapacidade em passar reformas que poderiam ter estancado um cenário tão negativo.

"O governo só conseguirá reverter esta onda de desconfiança geral se atacar o desequilíbrio fiscal de frente. Só que reformas e propostas como a CPMF, que poderiam trazer um pouco de alívio para as contas do governo, não parecem ter chance de passar com essa crise política. Então, o cenário ainda vai se manter", afirma. "Esses fatores foram decisivos para o resultado de 2015, e devem se repetir em 2016."

Já o economista Juan Jensen, professor do Insper, aponta que o escândalo de corrupção na Petrobras, revelado pela operação Lava Jato, também explica a queda tão acentuada: “Os investimentos no país caíram 14% em 2015. A crise na Petrobras, a maior investidora do país, impactou boa parte desse resultado. A operação também afetou grandes empreiteiras, que também respondiam por parte desses investimentos.”

Cálculos do Ministério da Fazenda divulgados em outubro já havia apontado a ligação entre a situação da Petrobras com os maus resultados da economia brasileira, indicando que ao menos dois pontos percentuais da retração do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 poderiam ser atribuídos aos problemas na estatal.

Outros números do PIB são reveladores. No setor de serviços, a retração foi de 2,7% em relação ao ano anterior. A Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP) avaliou a queda total como resultado "dos desajustes internos dos principais fundamentos econômicos e da demora do governo em adotar as medidas necessárias".

Na Indústria, o PIB da indústria caiu 6,2% em 2015, com resultado ainda pior na indústria da transformação, que mostrou retração de 9,7%. A queda se refletiu na participação do setor, que caiu pelo quinto ano consecutivo, chegando a 22%

Com menor ritmo da atividade industrial, consequentemente a arrecadação de impostos sobre o setor também se reduz, disse. A indústria perdeu participação do PIB pelo quinto ano seguido, chegando a 22,7% no ano passado.

Para Jensen, o resultado da indústria foi afetado pela queda de consumo. “Até ano passado, uma série de tarifas estavam defasadas, mas elas foram finalmente reajustadas. Só a energia aumentou 60%. Isso teve impacto direto no poder de consumo e deixou menos renda para as famílias.”

A chefe da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, também apontou a relação entre queda de poder aquisitivo e os maus resultados da indústria. “Em época de inflação alta, o consumidor não pode parar de comprar alimentos, mas substitui por produtos mais baratos, ou compra menos.”

Previsões sombrias

As previsões para 2016 são ruins. Diferentes agências e economistas estimam que o PIB deve sofrer uma nova queda neste ano. O Banco Central estima que a queda será de 3,45%. Se isso se confirmar, será a primeira vez desde 1930-1931 – quando o Brasil sentia os efeitos da grande depressão provocada pelo crash da Bolsa de Nova York e os efeitos da revolução de 30 – que o país vai registrar queda no PIB por dois anos seguidos. Uma leve recuperação só deve ocorrer a partir de 2017, quando o país deve crescer 0,5%, segundo o BC.

Em um ranking de crescimento de 32 países, a agência classificadora de risco brasileira Austin Rating situou o Brasil na 30° posição, apenas à frente da Venezuela (que sofre com os desmandos do chavismo) e da Ucrânia (que passa por uma situação de guerra civil no leste do seu território). A agência estima que a queda em 2016 deve ser de 2,9%.

O economista Jansen aponta que as receitas para a saída são bem conhecidas, mas que é a “estabilidade política é fundamental”.

“Veja só o caso da Argentina, um país com os mesmos problemas do Brasil, com contas públicas deterioradas e inflação. O novo presidente começou em pouco tempo a implementar as reformas necessárias para tentar recuperar a confiança. Já no Brasil há muito debate e pouca ação”, afirma.