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ConflitosMoldávia

O que a Rússia quer com a Moldávia?

25 de fevereiro de 2023

Apoio do Ocidente à Moldávia cresce à medida que país rejeita a intromissão política russa. Embora pequeno, vizinho ocidental da Ucrânia é de importância estratégica na guerra - e atrai há décadas o interesse da Rússia.

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Soldados em um tanque no meio de uma rua
Soldados em tanque na "capital" da Transnístria, Tiraspol, em abril de 2019Foto: DW/Cristian Stefanescu

Foi um gesto marcante de Joe Biden. O presidente americano pediu à sua homóloga moldava, Maia Sandu, que participasse de uma reunião com representantes dos nove países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Europa Central e do Sudeste, em Varsóvia, em 21 de fevereiro, apesar de a Moldávia ainda nem sequer ter tentado a adesão à aliança.

Durante um discurso, Biden se dirigiu diretamente a Sandu: "Estou orgulhoso de estar com você e com o povo moldavo amante da liberdade", disse, levando os presentes a aplaudi-la.

Mas a ação de Biden evidencia uma situação grave. Encravada entre a Ucrânia e o noroeste da Romênia, a República da Moldávia há muito teme ser a próxima vítima da agressão russa, com as ameaças militares de Moscou assumindo um tom cada vez mais beligerante.

No início desta semana, o presidente russo, Vladimir Putin, anulou um decreto de 2012 no qual o Kremlin garantia a soberania da Moldávia. Pouco antes, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, havia alertado que a Rússia estava tentando forçar a saída da liderança pró-europeia de Sandu. Moscou respondeu em 23 de fevereiro e disse que era a Ucrânia que planejava uma intervenção militar na Moldávia.

Do que se trata todo esse barulho? E por que a pequena República da Moldávia, com apenas 3,5 milhões de habitantes se move cada vez mais para o centro da guerra?

Biden fala em um púlpito
O presidente dos EUA, Joe Biden, falando em Varsóvia em 21 de fevereiroFoto: Michal Dyjuk/AP/picture alliance

A importância estratégica da Transnístria

A Moldávia foi o primeiro país após o colapso da União Soviética em que a Rússia apoiou os separatistas, provocando uma guerra sangrenta que durou vários meses em 1992. O resultado foi um conflito congelado, com forças pró-Moscou governando a Transnístria, uma estreita faixa de terra no leste da Moldávia que abriga muitos falantes de russo há mais de três décadas. Cerca de 2 mil soldados russos ainda estão estacionados lá, apesar de Moscou ter garantido a retirada de suas tropas da região em 1999. O maior depósito de armas da Europa, contendo cerca de 20 mil toneladas de munição e equipamento militar, também está localizado perto do povoado transnístrio de Cobasna.

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia há um ano, a Transnístria tornou-se estrategicamente mais importante do que nunca.  A Rússia poderia não só abrir uma frente ocidental para atacar a Ucrânia a partir dali, mas também fomentar o caos interno na Moldávia, criando uma crise na fronteira externa do sudeste da Otan.

Rotas de contrabando bloqueadas

As forças separatistas na Transnístria provavelmente teriam interesse em tal cenário. Nas últimas décadas, elas se financiaram, entre outras coisas, com operações maciças de contrabando que também atravessaram o território ucraniano. Desde o início da guerra, no entanto, a Ucrânia fechou a fronteira com a Transnístria, que agora enfrenta um colapso econômico.

Inicialmente, após o início da guerra, Sandu e seu governo pró-europeu adotaram uma postura cautelosa de solidariedade com a Ucrânia, com o objetivo de evitar o confronto com Moscou.

Mas, desde o outono europeu, o país candidato à União Europeia (UE) tem buscado laços mais estreitos com o Ocidente, depois que Moscou continuou cortando o fornecimento de gás e apoiou os partidos de oposição em suas tentativas de desestabilizar a situação política interna do país. Isso levou Sandu à conclusão de que qualquer tentativa de reconciliação com Moscou seria em vão.

Maia Sandu
Presidente da Moldávia, Maia Sandu, é pró-EuropaFoto: Aurel Obreja/AP Photo/picture alliance

Fim da neutralidade?

A Moldávia começou, então, a buscar seus suprimentos de energia em outros países além da Rússia em um ritmo acelerado.

Além disso, o país passou a discutir abertamente se e como o status de neutralidade consagrado na Constituição deve e pode ser alterado. Uma atualização das forças armadas quase indefesas do país também está em discussão - há algumas semanas, a Alemanha entregou os primeiros veículos blindados do tipo Piranha para a Moldávia.

Atualmente, o país dificilmente poderia se defender mesmo contra os separatistas na Transnístria, que provavelmente têm dezenas de tanques de batalha e outros equipamentos militares pesados, juntamente com os grandes estoques de munição. A Ucrânia, portanto, se ofereceu para fornecer assistência militar se Moscou e os separatistas provocarem um conflito. Mas qualquer relato de que a Ucrânia está planejando uma intervenção militar na Moldávia é absurda e, na melhor das hipóteses, um pretexto para o Kremlin justificar sua beligerância. A Ucrânia pode certamente passar sem uma segunda frente e não precisa comprometer os seus recursos militares em outro lugar.

Uma coisa, no entanto, que Putin conseguiu na região foi forçar a Moldávia a se libertar decisivamente do estrangulamento de Moscou após três décadas de ambivalência.

A mudança recebeu apoio além de gestos simbólicos como o feito por Biden em Varsóvia: a Romênia, coloquialmente conhecida como "irmão mais velho" da Moldávia, já compartilha língua, cultura e uma longa história comum com seu pequeno vizinho, e tem oferecido níveis crescentes de apoio para alcançar a independência econômica da Rússia.