Moldávia seria o novo alvo da Rússia?
5 de fevereiro de 2023Para o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, a Moldáviaé o novo "projeto antirrusso" do Ocidente. Em entrevista à televisão estatal russa, ele declarou que "o Ocidente agora está de olho na República da Moldávia para o papel da próxima Ucrânia".
As ameaças de Moscou contra a Moldávia se intensificaram desde o início da invasão da Ucrânia , em 24 de fevereiro de 2022.
Na entrevista, Lavrov também afirmou que a presidente da Moldávia, a pró-europeia Maia Sandu, havia sido nomeada com métodos "nem de longe livremente democráticos" e que estaria "pronta para tudo" no interesse do Ocidente.
Lavrov acusou ainda a presidente de ter cidadania romena, de ser a favor da unificação da Moldávia com a Romênia, e de se empenhar por um ingresso na Otan. No momento, o Ocidente estaria "preparando a Moldávia para esse papel", completou o chefe da diplomacia russa.
Romênia, Otan e Transnístria
Lavrov também criticou a recusa da Moldávia em retomar as negociações no formato 5+2 para resolver o conflito na Transnístria, região separatista pró-Rússia na Moldávia que declarou independência em 1990, com a ajuda de Moscou. Segundo ele, "isso diz muito".
Os 5+2 referem-se à Moldávia e o estado não reconhecido da Transnístria (partes diretamente envolvidas no conflito) e Rússia, Ucrânia e Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). A União Europeia (UE) e os Estados Unidos atuam como "observadores".
Cerca de 2 mil soldados russos permanecem estacionados na Transnístria, uma faixa estreita no leste da Moldávia. Cerca de 20 mil toneladas de munições e equipamentos militares de antigos estoques russos estão armazenados num antigo depósito de armas soviético em Cobasna, o maior desse tipo na Europa. Em 1999, a Rússia assumiu o compromisso oficial de retirar suas tropas e armas, mas nunca o cumpriu.
O que Maia Sandu realmente disse?
No fim de janeiro, a presidente moldava disse, em entrevista à revista americana Politico, que havia uma "discussão séria" sobre a capacidade de seu país de se defender, e se deveria fazer parte de uma "aliança maior".
"E se chegarmos, em algum momento, à conclusão, como nação, de que precisamos mudar o status de neutralidade, isso deve acontecer por meio de um processo democrático", declarou na época.
A neutralidade da Moldávia, consagrada na Constituição, tornou-se objeto de um debate mais intenso desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. No entanto, atualmente não haveria apoio suficiente no Parlamento para uma emenda constitucional.
Ameaças veladas e advertências
Na esteira dos comentários da presidente, houve várias advertências veladas de políticos russos próximos ao presidente Vladimir Putin, caso a Moldávia decidisse ingressar na Otan – o mesmo que a Rússia fez com a Ucrânia.
Além disso, numa videoconferência com políticos russos, Vitali Ignatiev, o assim chamado "ministro das Relações Exteriores" da Transnístria, reclamou do "aumento da pressão" sobre a república não reconhecida, devido ao exército moldavo ter expandido suas capacidades de defesa. E acescentou que estaria aumentando a "repressão de tudo o que é russo" na Moldávia.
O argumento normalmente é usado por propagandistas russos para justificar a agressão militar contra estados independentes – como ocorreu na Ucrânia e na Geórgia no passado.
O ministro do Exterior da Moldávia, Nicu Popescu, reagiu rapidamente às últimas ameaças de Moscou, reforçando que as declarações de Lavrov não são verdadeiras e fazem "parte da conhecida retórica ameaçadora da diplomacia russa". Ele lembrou aos líderes em Moscou que os moldavos desejam "paz, prosperidade, democracia e adesão à União Europeia".
Solidariedade com a Ucrânia
Contando cerca de 2,6 milhões de habitantes, a Moldávia declarou solidariedade à vizinha Ucrânia logo após o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, e simplificou as medidas para refugiados ucranianos que cruzam sua fronteira.
Chisinau condenou ainda, consistentemente, os ataques da Rússia à população e infraestrutura crítica da Ucrânia. Em todas as reuniões internacionais, os políticos moldavos emitiram alertas sobre o aumento dos riscos de segurança para seu país.
"Rússia tem que ser detida"
Gunther Krichbaum, porta-voz para política europeia do grupo parlamentar conservador alemão CDU/CSU e por muitos anos presidente do Comitê de Relações Exteriores do Bundestag, comentou à DW que as novas ameaças russas contra a Moldávia mais uma vez demonstraram a agressividade de Moscou e a importância de colocar a Rússia no devido lugar.
"Esta guerra não pode valer a pena para a Rússia, a Ucrânia tem que vencer a guerra."
Ele acrescentou que todos os políticos que defendem o apaziguamento deveriam finalmente entender que a Rússia não pararia com uma vitória sobre a Ucrânia e continuaria com suas invasões.
Para Krichbaum, a Moldávia seria a próxima vítima e não seria capaz de enfrentar a Rússia. E então Moscou seguiria para a Geórgia, e os Estados bálticos teriam motivo para se sentir inseguros: "Portanto a Rússia deve ser detida agora."