O cientista que vai liderar o combate à pandemia na Alemanha
7 de dezembro de 2021Alertas incessantes, explicações, apelos – há quase dois anos, Karl Lauterbach tem explicado a pandemia do coronavírus aos alemães. O parlamentar social-democrata, médico com dois doutorados, que pesquisou e ensinou nos EUA em Harvard, é convidado permanente em talk shows, dá entrevistas e produz tuítes às vezes de hora em hora. Na maioria das vezes, ele não tinha nada de bom a anunciar, repetidamente pediu um ritmo mais duro e mais restrições sanitárias na gestão da pandemia – e suas previsões quase sempre se concretizavam.
As opiniões são divergentes sobre Karl Lauterbach. Alguns se irritam com e dizem que ele é alguém que só quer criar pânico e levar insegurança à sociedade. O social-democrata também é alvo do ódio de negacionistas da pandemia e de céticos da vacinação, que também culmina em ameaças de morte.
#WirwollenKarl
Outros, no entanto, confiam nele, alguns até se tornaram seus seguidores fervorosos durante a pandemia. Em seu distrito eleitoral em Leverkusen, no estado de Renânia do Norte-Vestfália, Lauterbach alcançou um resultado notável nas eleições federais passadas, com 45,6% dos votos. Quando foi noticiado que o Partido Social-Democrata (SPD) ocuparia o Ministério da Saúde no novo governo, foi formada imediatamente uma campanha por ele nas redes sociais. A hashtag #WirwollenKarl (queremos Karl) esteve por dias seguidos nos trends do Twitter.
Na noite de domingo (05/12), poucas horas antes do anúncio dos candidatos do SPD ao ministério, um médico intensivista disse em um programa de entrevistas na TV para Lauterbach, que também estava presente: "Eu conheço muitos médicos, inclusive eu, senhor Lauterbach, que ficaríamos muito felizes se o senhor se tornar nosso futuro ministro da Saúde, simplesmente porque o senhor é alguém da área, um médico."
Na meta de seus desejos
Essa é uma popularidade que o futuro chanceler Olaf Scholz não pôde ignorar no final. "A maioria dos cidadãos quer que o próximo ministro da Saúde seja um especialista, alguém que possa fazer muito bem o trabalho e que se chame Karl Lauterbach. E é ele", disse Scholz na apresentação dos nomes dos social-democratas para o ministério do novo governo.
Assim, Karl Lauterbach atinge a meta de seus desejos. °É claro que não recusaria um cargo ministerial nas áreas que conheço", disse ele antes das eleições gerais, sem deixar dúvidas de que se considera o candidato mais adequado para o cargo.
Controverso
Ele é uma personalidade que sempre foi muito polêmica no SPD. No partido e na bancada parlamentar, da qual Lauterbach faz parte há 16 anos, é considerado um lutador solitário, excêntrico e metido a saber tudo. Uma piada sobre ele diz assim: Karl Lauterbach encontra um menino na rua e pergunta: "Quantos anos você tem?" O garoto responde: "Oito". Lauterbach então diz: "Na sua idade eu já tinha nove!"
Ele encontrou seu caminho para a política tardiamente. Estudou medicina, epidemiologia e gestão de saúde na Alemanha e nos EUA, onde obteve vários diplomas. Com bolsa da Harvard Medical School, era financiado pela Fundação Konrad Adenauer, vinculada à União Democrata Cristã (CDU), ele mesmo chegou a ser membro da CDU.
Gravata-borboleta como marca
De volta à Alemanha, se tornou professor universitário em Colônia e diretor de um instituto de economia da saúde e epidemiologia clínica, que fundou em nome da universidade. Em 2001, ingressou no SPD e, em 2005, concorreu com sucesso para o Bundestag pela primeira vez.
Externamente, manteve sua aura de professor universitário nos seus primeiros anos no Parlamento. Marca registrada por muito tempo foi a gravata-borboleta, que usava quando era médico nos Estados Unidos. Quando questionado, ele ficava feliz em explicar que a gravata-borboleta era usada como um diferencial do médico na enfermaria, já que gravata normal está fora de questão por questões de higiene. Foi só em 2019, quando Lauterbach se candidatou fazendo duo com Nina Scheer à presidência do partido, que ele tirou a gravata-borboleta. Ao mesmo tempo, tentou se tornar mais sociável e acessível e, desde então, tem mostrado também uma certa habilidade para a autoironia.
Uma das peculiaridades de Lauterbach é que ele não come sal. No Bundestag, os fornecedores que oferecem lanches prontos para os membros do parlamento se adaptaram a isso – há sempre algo especialmente preparado sem sal para ele. Se alguém pergunta a ele sobre esse detalhe, o político explica, como se fosse a coisa mais normal, por que é muito mais saudável se alimentar como ele.
Pode-se supor que Olaf Scholz sabe que, com Lauterbach, está levando um político incômodo ao seu gabinete. Por outro lado, a quarta onda de coronavírus na Alemanha é tão dramática que o futuro chanceler federal não poderia nomear um ministro da Saúde que precisasse de tempo para se inteirar dos assuntos da pasta.
Alemães devem poder viajar no Natal
Lauterbach pode e vai começar imediatamente, como anunciou o político de 58 anos ao ser nomeado. "Venceremos a luta contra a pandemia", disse ele, e ao mesmo tempo que anunciou ter grandes planos: "Estaremos melhor equipados para novas pandemias do que estivemos para esta." Ele acrescentou que o objetivo do novo governo é reduzir o número de novas infecções pelo coronavírus, para que se torne possível se recomendar, de consciência tranquila, que os alemães viagem durante os feriados de fim de ano.
No entanto, resta saber se Lauterbach conseguirá passar de intérprete de estudos científicos a chefe bem-sucedido de um ministério.
Principalmente porque muitas decisões no combate à pandemia são tomadas nos estados federais. Lauterbach não poderá, então, fazer muito sozinho, mas terá que chegar a um acordo com os secretários estaduais. Além disso, no futuro, muitas decisões serão tomadas no novo comitê de crise do coronavírus e no conselho de especialistas, que são vinculados diretamente à Chancelaria.
Sistema de saúde doente
Além da pandemia, há muito o que fazer no sistema de saúde alemão. O fato de a situação em muitos hospitais ter se tornado difícil com relativa rapidez durante a quarta onda também está ligado a problemas estruturais. Há muitos anos, a política de saúde é vista como uma forma de economizar recursos públicos. Também Lauterbach pediu em 2013 o fechamento de hospitais.
Agora ele promete que não haverá cortes nos serviços de saúde. "Pelo contrário, vamos tornar o sistema mais robusto novamente. Temos orgulho de um bom sistema de saúde, vamos precisar dele."