O consórcio mundial Covax atingirá sua meta de vacinação?
8 de junho de 2021Há meses a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem apelando aos países ricos para que forneçam doses de vacinas contra o coronavírus para o consórcio mundial Covax Facility. Porém, até o momento, a recomendação foi apenas parcialmente atendida. Enquanto em países como a Alemanha, por exemplo, cerca de 45% da população já foi vacinada com pelo menos uma dose, em outros lugares a imunização apenas começou. Em algumas nações, como a Tanzânia e o Chade, as campanhas de vacinação ainda nem começaram.
"A desigualdade na vacinação é um grande desafio: 75% das doses de vacina foram para apenas dez países. Menos de 1% de todas as doses foi para países de baixa renda", afirmou a OMS em resposta por escrito à DW. "Infelizmente, isso representa uma recuperação da pandemia em duas vias."
Mas, aparentemente, houve uma reviravolta nos últimos dias: o Covax arrecadou 2,4 bilhões de dólares em fundos adicionais em uma conferência virtual de doadores – cerca de 400 milhões de dólares a mais do que o esperado. Com base nas doações que foram prometidas, a iniciativa diz que será capaz de fornecer mais 1,8 bilhão de doses de vacinas contra o coronavírus para pessoas em países mais pobres.
"Uma gota no oceano"
Com essas promessas, o Covax, lançada em abril de 2020 pela OMS, pode ter se aproximado um pouco mais de seu objetivo de uma distribuição mais igualitária de vacinas em todo o mundo. Mas, de acordo com organizações humanitárias, o esforço não é suficiente.
"É claro que os países também perseguem seus próprios interesses estratégicos e tendem a doar diretamente para nações amigas. Em nossa opinião, porém, essas doações teriam que passar pelo consórcio Covax para haver uma distribuição mais justa", afirma Mareike Haase, consultora de política internacional de saúde da organização alemã Brot für die Welt, em entrevista à DW.
Entre outras coisas, os EUA prometeram recentemente doar cerca de 80 milhões de doses de vacinas aos países mais pobres da América Latina e do Caribe, Sul e Sudeste da Ásia e África. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que apenas cerca de três quartos dos imunizantes serão distribuídos por meio da iniciativa internacional Covax, e o restante será entregue diretamente aos países.
Haase afirma que as quantidades anunciadas seriam apenas "uma gota no oceano". "Essas são apenas soluções de curto prazo". As vacinas de reforço necessárias e as novas variantes do coronavírus tornam necessários maiores esforços, afirma.
"Sempre nos encontraremos na situação em que os países mais pobres não poderão pagar pelas vacinas, e o Covax se mostra insuficiente." Haase também pede que as patentes das vacinas contra a covid-19 sejam suspensas durante o período da pandemia, uma opção rejeitada pela União Europeia neste momento.
Índia não fornece mais vacinas para o Covax
O Covax também deve sofrer um grande revés como resultado da proibição da exportação de vacinas pela Índia. O Serum Institute of India era um dos maiores doadores de vacinas do mundo, mas, agora, não deverá fornecer mais imunizantes até outubro – originalmente, a exportação deveria recomeçar em junho. Como resultado, deverão faltar dezenas de milhões de vacinas.
O Serum Institute, o maior fabricante mundial, produz na Índia a vacina contra o coronavírus para a empresa farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca – e antes disso era a fonte de vacinas mais importante para a África.
Mas, atualmente, a própria Índia está sendo duramente atingida pela pandemia. As exportações originalmente anunciadas foram prometidas quando a Índia registrava números comparativamente baixos de infecção. Porém, na primavera do Hemisfério Norte, a incidência de sete dias por cada 100 mil habitantes aumentou para cerca de 200 em apenas algumas semanas no país.
"Estamos vendo os efeitos traumáticos da terrível onda de covid-19 no Sul da Ásia – uma onda que também afetou severamente as remessas globais de vacinas, inclusive o Covax", afirmou a OMS à DW.
Falta de imunizantes persiste
Grandes doações de um lado, a suspensão das exportações do outro: organizações humanitárias, como a alemã Brot für die Welt, também veem o Covax de forma crítica. "Do nosso ponto de vista, o Covax é um sistema que já provou que não funciona", diz Haase.
Em sua opinião, a natureza voluntária em que o Covax se baseia é particularmente problemática. "O problema é que os países preferiram garantir vacinas bilateralmente em vez de fazê-lo por meio do Covax. Eles compraram todas as doses disponíveis no mercado e as acumularam. Ao mesmo tempo, o Covax nunca foi financiada adequadamente, e as empresas preferiram vender suas vacinas aos países que lhes apresentaram as melhores ofertas – em vez de firmarem um compromisso com o consórcio mundial."
Mas Haase também critica os objetivos do Covax: enquanto o plano original era vacinar as pessoas até atingir a imunidade de rebanho, agora se fala em imunizar apenas de 20% a 30% da população – portanto, apenas uma fração do que seria realmente necessária para deter a pandemia de forma generalizada.
"Desde o início, gostaríamos de ter visto um sistema diferente e obrigatório que fosse voltado para a igualdade e permitisse que todos os países tivessem acesso às vacinas", afirmou Haase. Ela disse ainda que as promessas de doação da Alemanha e dos EUA devem, portanto, ser "vistas com cautela quando olhamos ao mesmo tempo para a enorme lacuna".