O cenário berlinense queridinho de Hollywood
19 de fevereiro de 2018Esse lugar daria um cenário ideal para cena de um bom filme de suspense ou terror, foi o que pensei na primeira vez que passei pela passagem subterrânea que atravessa a avenida Messedamm, entre a rodoviária e a estação de trem Messe Nord/ICC. Os azulejos laranja nas paredes e colunas da passagem, além de suas luminárias redondas, dão um ar futurista ao espaço.
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A solidão do corredor e seus cantos escuros estimulam ainda a sensação de medo... aquela que prediz cenas de perseguição. Tempos depois da minha travessia na passagem, ela se tornou pela segunda vez, desde 2004, cenário de um filme de Hollywood, em Hanna. A primeira foi em A supremacia Bourne, que transformou o espaço berlinense no aeroporto de Moscou.
Depois disso, em três anos seguidos ela foi locação de filmes de ação. Em 2015, a passagem apareceu em cenas da última parte da saga Jogos vorazes. Em 2016, foi a vez de estrear na franquia Capitão América, surgindo no terceiro filme, Guerra civil. Já em 2017, em Atômica, a passagem foi escolhida para a primeira cena de ação, na chegada da personagem de Charlize Theron a Berlim.
Apesar do glamour cinematográfico, a realidade da passagem é oposta à da ficção. Construída na década de 1970, planejada para ser futuramente uma estação de metrô (algo que nunca aconteceu), ela é um lugar evitado por quem precisa cruzar a avenida na região.
Até mesmo antes da instalação do semáforo, muito preferiam se arriscar atravessando nos meios dos carros do que passar pelo túnel. Além de escadas rolantes constantemente quebradas, o lugar é usado como banheiro, tela para pichadores e também acumula lixo, exalando odores que transformam a travessia numa jornada pouco agradável.
E nem mesmo a atenção de Hollywood conseguiu afastar a má reputação do espaço. Devido a esta realidade sombria, que afasta pedestres do local, e aos custos anuais de manutenção (345 mil euros por anos), a prefeitura do bairro decidiu que fechará o acesso ao túnel. A data ainda não foi anunciada, por isso, para quem não conhece ainda dá tempo de conhecer esse cenário.
As autoridades analisam possibilidades para a utilização da passagem após seu fechamento. É certeza que ela continuará sendo oferecido como locação para filmes. E enquanto estiver fechada, e isso pode perdurar por anos, os berlinenses só terão acesso a esse cenário futurístico através do cinema.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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