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O caso Drygalla: uma atleta deve pagar pelos erros do namorado?

8 de agosto de 2012

Caso da remadora alemã que deixou os Jogos Olímpicos devido à proximidade do namorado com o meio neonazista levanta discussão na Alemanha: alguém pode ser responsabilizado pelas posições e atitudes do companheiro?

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Foto: picture-alliance/dpa

Seria a segunda grande ruptura profissional no período de um ano: em setembro de 2011, a remadora olímpica Nadja Drygalla se retirou, por vontade própria, da carreira policial após uma conversa com seu chefe. Há uma semana, a atleta de 23 anos retornou mais cedo para a Alemanha, abandonando os Jogos Olímpicos de Londres, e sua carreira esportiva está em jogo.

Em ambos os casos, o motivo foi o mesmo: a vida privada da atleta, ou melhor, a do namorado dela, Michael Fischer. Ele é um conhecido líder da cena neonazista da cidade de Rostock e foi candidato pelo partido de extrema direita NPD em Rostock na eleição de 2011, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.

Numa entrevista à agência de notícias alemã DPA, Drygalla se distanciou da ideologia de extrema direita, dizendo que não tem conexão alguma com os amigos de seu parceiro, que ele deixou o NDP em maio de 2012 − informação posteriormente confirmada pelo partido − e se despediu daquele círculo político.

Embora não esteja claro até que ponto essas declarações são verdadeiras, o caso Drygalla levanta algumas questões. É justo que uma atleta de ponta tenha sua carreira prejudicada devido às atividades políticas do namorado? E a liberdade de expressão não teria que ser respeitada, mesmo no caso de a remadora concordar com as opiniões neonazistas de seu namorado?

Nadja Drygalla
Drygalla negou ter ligações com o neonazismoFoto: picture-alliance/dpa

Carta Olímpica proíbe discriminação

"No movimento olímpico vale a Carta Olímpica", afirma o historiador do esporte Ansgar Molzberger, da Universidade de Esportes de Colônia, em entrevista à DW. A Carta contém o conjunto de regras do Comitê Olímpico Internacional (COI). Um dos seus parágrafos proíbe a todos os participantes olímpicos qualquer forma de discriminação.

No entanto, Molzberger observa que a própria Drygalla não violou essas regras, pelo menos segundo as informações atuais. Ela não disse ou fez nada que possa ser condenável por ser de extrema direita. "A questão é se a pessoa pode estar integralmente em concordância com os valores olímpicos se ela vive em um relacionamento com uma pessoa que é contra esses valores. É difícil avaliar esse caso pelo lado jurídico", observa.

O motivo de as Olimpíadas possuírem uma Carta com uma legislação clara está no fato de os jogos originalmente não serem um evento centrado puramente no esporte. O fundador, Pierre de Coubertin, era pedagogo e queria usar os esportes olímpicos para a educação. Os participantes deveriam, portanto, desempenhar um papel de exemplo a ser seguido.

Os organizadores são minuciosos na hora de escolherem quem admitem para participar dos Jogos Olímpicos. Por isso, por exemplo, o jogador de futebol suíço Michel Morganella foi expulso das Olimpíadas por ter escrito um comentário racista no Twitter depois de uma derrota contra a Coreia do Sul. E a saltadora Voula Papachristou foi suspensa porque fez comentários preconceituosos sobre os imigrantes africanos em seu país.

Mas é incomum um atleta ser levado a abandonar a Vila Olímpica sem ter ele próprio dito algo preconceituoso. A razão por que a Federação Alemã de Esportes Olímpicos (DOSB, na sigla em alemão) veio a questionar a vida privada de Nadja Drygalla só após o início dos Jogos Olímpicos foi falha de comunicação, segundo o secretário-geral da DOSB, Michael Vesper.

Michael Vesper
Vesper atribui incidente a falha de comunicaçãoFoto: AP

Numa entrevista a uma rádio alemã, ele disse: "Nós nomeamos nossa equipe olímpica com base nas sugestões das respectivas associações esportivas. Só tomamos conhecimento do caso na quinta-feira passada". Já a Associação Alemã de Remo alegou não saber de nada.

Controvérsia política

O debate sobre a remadora alemã chegou ao meio político do país. No fim de semana, a deputada Dagmar Freitag, presidente da comissão de esportes do Parlamento propôs que o caso Drygalla seja discutido na próxima reunião do grêmio. O ministro alemão da Defesa, Thomas de Maizière, criticou o tratamento que a opinião pública dá ao caso. "Onde estão realmente os limites? Será que temos o direito de vasculhar os círculos de amizade dos atletas?", questionou.

O futuro profissional de Drygalla permanece incerto. Até 31 de agosto, a remadora permanece empregada como coordenadora esportiva da Associação de Remo de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, trabalho que obteve após deixar o emprego de policial. Ela fez um pedido de admissão como soldado no grupo de incentivo ao esporte das Forças Armadas alemãs a partir de 1° de setembro. Segundo a Associação Alemã de Remo, o requerimento se encontra suspenso.

Autora: Christina Ruta (md)
Revisão: Francis França