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"Nunca tive tatuagem de suástica", afirma cantor afastado de Bayreuth

26 de julho de 2012

Barítono Evgeny Nikitin, dispensado sumariamente do Festival Wagner, nega tudo: suposta cruz no peito é estrela, e ele jamais teve ligações com a extrema direita. Mas então, de que "pecados da juventude" ele se desculpa?

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Barítono Evgeny Nikitin
Foto: Mariinsky Theater SPB

Contratado para cantar o papel principal na nova montagem de O Navio Fantasma, no Festival Wagner de 2012, o barítono russo Evgeny Nikitin teve que deixar Bayreuth às pressas, desde que se divulgou que ele portava no peito a tatuagem de uma cruz suástica. O escândalo foi desencadeado por imagens do cantor como baterista metal, no programa Aspekte, da TV alemã ZDF.

O Festival de Bayreuth se encontra justamente no processo de elaborar seu passado nazista, e sua diretoria não teve alternativa, senão dispensar imediatamente o cantor, após entrar em acordo com ele. A Deutsche Welle procurou o protagonista do escândalo, para ouvir a sua versão dos fatos.

Deutsche Welle: Sua tatuagem desencadeou tamanho escândalo por associar o senhor à ideologia radical de direita. O senhor tem ou já teve conexões desse tipo?

Evgeny Nikitin: Nunca na vida fui adepto de qualquer partido ou grupo político, nem de direita, nem de esquerda. O nacional-socialismo me é profundamente abjeto, em qualquer forma que seja. Francamente! Afinal de contas, ambos os meus avôs tombaram no front, na Segunda Guerra Mundial.

Então, o que significa essa tatuagem?

Ela nunca teve nada a ver com uma cruz suástica. Era para ser uma estrela de oito pontas, com um brasão no meio, que eu mesmo desenhei. No entanto, fizemos essa tatuagem em diversas etapas: primeiro o brasão, depois, passo a passo, a estrela em volta, formada por dois quadrados superpostos. Eles têm uma superfície tão grande, que simplesmente dói, caso se faça tudo de uma vez só.

Esboço para estrela de oito pontos no peito de Nikitin
Esboço para estrela de oito pontos no peito de NikitinFoto: Mariinsky Theater SPB

Assim, o motivo foi tatuado faixa por faixa, no decorrer de um tempo longo. E numa das etapas, quem tiver muita imaginação pode interpretar as futuras pontas dessa estrela como partes de uma suástica. Mas, como eu disse, foi um estágio provisório. Nunca foi concebida como cruz suástica, como se vê nas fotos mais recentes.

Então o senhor nunca teve uma cruz suástica na pele?

De forma alguma. Nunca quis isso, e muito menos teria posado diante de uma câmera com uma suástica! Também detesto o "novo fascismo russo". Sou artista, cantor de ópera, não um neonazista.

No entanto, numa declaração recentemente divulgada, o senhor falava de um "pecadilho de juventude" e "uma grande besteira" na sua vida. A que "pecados" se referia, se não cometeu nenhum?

Com "pecados de juventude" me referia a sequer ter começado com as tatuagens. Foi uma grande tolice, pela qual eu sofro muito, agora. Se pudesse, hoje eu as removeria todas.

Mas se o senhor não tem nenhuma culpa, então por que se desculpa? Por que rescindiu o contrato e se foi de Bayreuth?

Tudo foi ultrarrápido, os acontecimentos se desenrolaram vertiginosamente. Acho que decisão que tomamos na manhã seguinte foi a ideal para o momento. Redigimos minha declaração conjuntamente com a secretaria do festival.

Quem teria interesse nessa história?

Gente que quer prejudicar o Festival de Bayreuth e sua diretoria. Talvez mais alguém, não sei.

Houve problemas artísticos durante o trabalho? Talvez atritos com a equipe de diretores?

Não, não houve qualquer problema. Acho que [o diretor de cena] Jan Philipp Gloger nos proporcionou uma montagem incrível, e desejo muito sucesso a todos os colegas, também a Katharina e Eva Wagner [diretoras do festival] e [ao maestro] Christian Thielemann.

Antes e depois: esta imagem, divulgada pela TV ZDF, desencadeou o escândalo
Antes e depois: esta imagem, divulgada pela TV ZDF, desencadeou o escândalo

A diretoria do festival havia visto fotos de suas tatuagens, anteriormente? Conversou-se a respeito?

A pedido do festival, fotografei todo o "material visual" – e é bastante coisa! – do meu corpo e enviei. Eles queriam levá-lo em consideração ao realizar a maquiagem e o figurino. Naturalmente não se constatou nada de criminoso.

Depois de tudo o que se passou, o senhor voltaria a trabalhar em Bayreuth?

Se Deus quiser, sim.

Entrevista: Anastassia Boutsko (av)
Revisão: Carlos Albuquerque