Novos vazamentos indicam articulação entre Dallagnol e Moro
23 de junho de 2019O jornal Folha de S. Paulo publicou neste domingo (23/06) mensagens atribuídas a membros da operação Lava Jato, indicando que procuradores atuaram para evitar que tensões entre o então juiz Sergio Moro e os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) prejudicassem as investigações durante uma fase crítica para a força-tarefa em 2016.
As novas revelações de conversas privadas entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, reforçam as suspeitas de que houve estreita cooperação entre juiz e procurador, prática que seria, segundo a Folha, incompatível com a imparcialidade exigida a magistrados. Mensagens divulgadas no começo de junho pelo site The Intercept já indicavam isso.
A Folha e o portal The Intercept anunciaram uma associação para analisar e publicar uma série de reportagens sobre o acervo de mensagens realizadas pelo aplicativo Telegram, que o The Intercept afirma ter recebido de uma fonte anônima e que incluiria vídeos, fotografias e áudios.
A equipe da Folha destaca que, ao examinar o pacote de mensagens obtido pelo The Intercept não detectou indício de adulteração. "Os repórteres, por exemplo, buscaram nomes de jornalistas da Folha e encontraram diversas mensagens que de fato esses profissionais trocaram com integrantes da força-tarefa nos últimos anos, obtendo assim um forte indício da integridade do material", diz o jornal.
De acordo com a reportagem, os diálogos agora publicados indicam que tanto os procuradores como o atual ministro da Justiça temiam que o ministro do STF Teori Zavascki, morto em um acidente aéreo em 2017, desmembrasse os inquéritos sob o controle de Moro em Curitiba, num momento considerado "crítico", já que as investigações sobre a empreiteira Odebrecht avançavam rapidamente.
A Folha observou que o incidente ocorrera em março de 2016, após a divulgação de uma planilha encontrada pela Polícia Federal na casa de um executivo da Odebrecht, contendo nomes de políticos que tinham direito a foro especial, os quais só podem ser investigados com autorização do STF.
"Lambança"
O episódio deixou Moro contrariado e temeroso de um possível novo atrito com o Supremo, um dia após ele ter sido repreendido pelo tribunal por ter divulgado áudios de escutas telefônicas alvejando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O então juiz enviou uma mensagem a Dallagnol se queixando da PF, chamando o ocorrido uma "tremenda bola nas costas" da Polícia Federal, que iria "parecer afronta". Após resposta de Dallagnol, sugerindo que a divulgação dos documentos pela PF não fora intencional, o juiz voltou a reclamar: "Continua sendo lambança. Não pode cometer esse tipo de erro agora."
Deltan tentou então confortar e encorajar Moro, prometendo-lhe apoio incondicional e trabalhar pela blindagem do juiz. "Concordo. E sei que Vc, de todos nós, está debaixo da maior pressão", respondeu. "Não desanime com a decisão do Teori de ontem ou com os fatos e lambanças recentes. As coisas vão se acalmar", acrescentou, referindo-se ao despacho em que o ministro do STF Teori Zavascki repreendera Moro pela divulgação das escutas de Lula.
"É um momento de ânimos exaltados. Saiba não só que a imensa maioria da sociedade está com Vc, mas que nós faremos tudo o que for necessário para defender Vc de injustas acusações", assegurou Dallagnol, completando que "admira" a "serenidade" com que Moro "enfrenta notícias ruins e problemas", completando: "Continue firme, não desanime e conte conosco."
Segundo o portal G1, Moro afirmou neste domingo, através de nota, que não confia "na autenticidade de mensagens obtidas de forma criminosa e que podem ter sido adulteradas total ou parcialmente". O texto ressalta que "causa revolta que se tente construir um enredo com mensagens cuja autenticidade não se pode reconhecer", e que "só atestam a correção e isenção com que o ministro atuou enquanto juiz federal da Operação Lava Jato".
MD/efe/ots
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