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Christa Wolf lança livro

18 de junho de 2010

Manuscritos que serviram de base para o livro remontam a uma estadia na Califórnia, no início da década de 1990. Nessa época, a abertura das atas Christa Wolf junto ao serviço secreto socialista causaram debate nacional.

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Christa WolfFoto: picture alliance / dpa
Buchcover Christa Wolf: Stadt der Engel (Suhrkamp)

Stadt der Engel oder The Overcoat of Dr. Freud (Cidade dos Anjos ou o Sobretudo do Dr. Freud), livro recém-lançado da escritora alemã Christa Wolf, tem como pano de fundo Los Angeles, a cidade norte-americana onde a autora passou um ano, entre 1992 e 1993, a convite do Getty Center. Na época, essa estadia de trabalho dos Estados Unidos possibilitou que Wolf se distanciasse da polêmica literária desencadeada pela publicação de Was bleibt (O que fica), um texto narrativo que, em linhas gerais, ela já havia escrito em 1979.

A mesma opinião pública alemã ocidental que havia cooptado Christa Wolf como suposta escritora "dissidente" da antiga Alemanha socialista acabava de declará-la, a posteriori, uma "literata a serviço do Estado". O debate reduziu a trajetória da autora aos três anos em que ela trabalhara como "colaboradora informal" do serviço secreto socialista, de 1959 a 1962, uma cooperação encerrada quando os próprios agentes da Stasi constataram que Wolf nunca fornecera nenhuma informação relevante.

Por outro lado, desde meados dos anos 1960 até a dissolução da República Democrática Alemã, Christa e seu marido Gerhard Wolf estiveram sob contínua observação da Stasi. Suas fichas no arquivo do antigo serviço secreto alemão oriental preenchem 42 volumes.

Na época do debate sobre Christa Wolf na Alemanha, muitas pessoas no exterior não entenderam por que tanta indignação com o contato entre a escritora e a Stasi. Os ataques contra sua pessoa na Alemanha acabaram provocando reações de solidariedade, em forma de prêmios, homenagens e convites. Entre outras coisas, Christa Wolf foi nomeada membro honorário estrangeiro da American Academy of Arts and Letters, sediada em Nova York, e recebeu um convite do Getty Center, em Santa Monica.

No espaço de exílio de outros escritores alemães

Em Santa Monica, nas imediações de Los Angeles, Christa Wolf se confrontou com a cultura intelectual norte-americana e com histórias da emigração alemã (durante o Terceiro Reich, Heinrich e Thomas Mann, Lion Feuchtwanger e Bertolt Brecht, por exemplo, viveram em Santa Monica).

Os textos que ela escreveu durante sua permanência nos EUA captam a nova busca de sentido e de orientação após a reunificação alemã. Durante essa residência, Wolf escreveu o início de Medea, fez a viagem que serviria de fundo para a prosa narrativa Wüstenfahrt (Excursão ao deserto) e reuniu anotações que acabaram sendo inseridas no livro recém-publicado.

Stadt der Engel mistura elementos autobiográficos e fictícios, um traço característico da prosa de Christa Wolf. Nessa obra, a autora se mantém fiel à narração realista, um procedimento teorizado no ensaio "Lesen und Schreiben" (Ler e escrever), de 1968, e que consiste em basear a invenção na veracidade e na própria experiência.

Manuscritos trabalhados durante dez anos

Ingo Schulze (Bildergalerie Buchpreis-Kandidaten 2008)
Ingo SchulzeFoto: PA/dpa

Na leitura do escritor Ingo Schulze, o novo livro de Christa Wolf "finge ser um diário ou relato de viagem, mas no fundo apenas se utiliza desse gênero por ele permitir todo tipo de liberdade; na verdade, [o livro] é um tecido textual bem mais fino, uma estampa da vida".

Christa Wolf trabalhou mais de dez anos em Stadt der Engel oder The Overcoat of Dr. Freud. Durante sua residência nos EUA, na época da presidência de Bill Clinton, a autora diz ter se sentido absorvida por tudo o que vivia, todos os dias, de modo que começou a escrever de fato um diário. Ela retornou à Alemanha com um calhamaço de manuscritos, mas primeiro se dedicou a outros planos de livros. Desde então, retornou repetidamente a seus manuscritos californianos, alterando-os ao longo do tempo.

O trauma de uma sigla

"Acabou acontecendo de os estratos [desse trabalho] se tornarem legíveis na forma que a pilha de manuscritos foi assumindo. Acho que nunca acumulei tanto papel à minha volta quanto ao escrever este livro", descreveu Christa Wolf seu processo de trabalho.

Demorou bastante tempo até o romance chegar à forma final, até ter se tornado esta malha de lembranças e autoquestionamentos, de observações e episódios cotidianos, elementos da história estadunidense e da alemã, rastreamentos, dúvidas e autodescoberta.

O romance tem frases marcantes: "Você não pode imaginar o que sentiria se visse saltarem de uma ficha duas letras que são como uma sentença judicial, como uma pena de morte moral: IM!" IM é a sigla para a expressão alemã informeller Mitarbeiter (colaborador informal), atividade que Christa Wolf exerceu junto à Stasi no final da década de 1950 sob o codinome Margarete.

Para o escritor Ingo Schulze, o importante neste novo livro de Christa Wolf é o fato de "ele possibilitar que as experiências sejam classificadas e comparadas e torná-las toleráveis, sem relativizá-las".

Autoras: Silke Bartlick / Sonja Hilzinger (sl)
Revisão: Augusto Valente