Novo governo de Israel afasta ultraortodoxos e favorece colonos
19 de março de 2013Benjamin Netanyahu precisou de 40 dias para compor seu terceiro governo, após as eleições de 22 de janeiro. A luta pelos cargos se manteve até o último segundo: os parceiros de coalizão Yair Lapid e Naftali Bennett se reuniram após o pleito, decidindo que, ou participariam juntos do governo, ou formariam oposição juntos. Por fim, Lapid e Bennett cederam na disputa pela vice-chefia de governo e entraram em acordo na tarde de sexta-feira (15/03). Dessa forma, foi possível empossar os novos ministros ainda nesta segunda-feira, dois dias antes da histórica visita do presidente americano, Barack Obama, a Israel.
Para conseguir o apoio de 68 dos 120 deputados, foi necessária uma coalizão governamental formada pela aliança Likud-Beitenu, presidida por Netanyahu; o partido de direita dos colonos Habait Jehudi (Lar Judaico), liderado por Naftali Bennett; assim como o Yesh Atid (Há Futuro) de Yair Lapid e o Hatnuah (Movimento), fundado pela política Tzipi Livni.
Com isso, Netanyahu conseguiu, de fato, alcançar sua meta: ele é, ao mesmo tempo, antigo e novo primeiro-ministro do 33º Gabinete do Estado de Israel. Desta vez, porém, as facções ultraortodoxas não estão de seu lado, mas sim na oposição, já que Lapid e Bennett descartaram uma participação deles na coligação.
"O que está acontecendo é quase uma guerra de culturas. Seguindo a vontade dos parceiros de coalizão, será coibida a influência dos ultraortodoxos, que também perderão alguns de seus privilégios", disse à Deutsche Welle Michael Mertes, diretor do escritório em Jerusalém da alemã Fundação Konrad Adenauer. Isso significa, sobretudo, que no futuro os ultraortodoxos não serão mais liberados do serviço militar para completar seus estudos religiosos.
O futuro dos assentamentos
A nova coligação governamental em Jerusalém põe em evidência a trincheira que separa as populações religiosa e laica de Israel, a qual vinha se aprofundando nos últimos anos. Para grande parte da classe média israelense, os ultraortodoxos pouco contribuem para o Produto Interno Bruto (PIB) do país e aproveitam, ao mesmo tempo, os benefícios estatais.
O jornalista Yair Lapid, que saiu como vencedor da eleição, também foi forçado a fazer concessões. Seu partido, o Há Futuro, obteve o Ministério da Educação, mas, em vez da pasta das Relações Exteriores que reivindicara, o novato da política ficou com a das Finanças.
"Para um partido que anunciou como programa reformas internas, esse é um ministério-chave", comenta Mertes. Durante a campanha eleitoral, o grupo de Lapid prometera cuidar para que houvesse justiça social. No entanto, ele não tem muito espaço de ação, pois o déficit dos cofres públicos equivalente a 9 bilhões de euros o obrigará a apresentar um orçamento drasticamente reduzido.
O calouro ultranacionalista Naftali Bennett será ministro da Economia e Comércio. Seu partido ficará também com a pasta da Construção Civil, encabeçada pelo ex-líder dos colonos Uri Ariel. Durante a campanha, Bennett anunciara repetidamente que preferiria anexar a maior parte dos territórios palestinos.
"O novo governo é de direita", afirma Michal Rozin, do partido oposicionista Meretz. "Todas as posições-chave no setor financeiro foram para Bennett e seus amigos. Eles utilizarão as verbas para ampliar os assentamentos e construir novos."
Ênfase na política interna
É certo que Tzipi Livni, que assume o Ministério da Justiça, também ficará encarregada das negociações com os palestinos. Porém, contando com apenas seis deputados, a influência de seu partido é considerada bastante limitada. Assim, Rozin a define como mera fachada nas negociações de paz.
Quem seguirá determinando a política externa e de segurança são, além do próprio Netanyahu, os ministros da aliança eleitoral Likud-Beitenu. Moshe Yaalon, linha-dura do Likud e antigo chefe do Estado-Maior, será ministro da Defesa, enquanto o cargo das Relações Exteriores fica reservado a Avigdor Lieberman – até o esclarecimento das acusações de corrupção que enfrenta.
"Acho que não é prematuro dizer que não será nada fácil avançar com o processo de paz israelo-palestino, nestas circunstâncias e com essa constelação política", avalia Michael Mertes. Além disso, sublinha, a política interna ficará em primeiro plano para o novo governo. Afinal de contas, os partidos que ganharam terreno nas eleições foram aqueles que defendiam uma agenda política de orientação claramente doméstica.
Nesse contexto, o negociador-chefe palestino, Saeb Erekat, se mostra otimista. "Esperamos que o governo israelense anuncie que aceita uma solução de dois Estados, com as fronteiras estabelecidas em 1967. Precisamos ouvir essa frase deles."