Com viagem ao Oriente Médio, Obama tenta melhorar imagem em Israel
18 de março de 2013Quando desembarcar em Tel Aviv nesta quarta-feira (18/03), o presidente americano, Barack Obama, não levará consigo um plano de paz para o Oriente Médio, como já admitiu a própria Casa Branca. O assunto estará naturalmente em pauta, e ele vai se esforçar para mostrar que uma saída política seria de interesse de israelenses e palestinos. Mas a viagem a Israel, Jordânia e Cisjordânia terá o foco, sobretudo, em melhorar sua imagem no Estado judeu – nos últimos anos arranhada por atritos com o premiê Benjamin Netanyahu.
Apesar do extenso apoio militar e financeiro americano a Israel, Obama é alvo frequente de críticas por sua postura e atuação perante o país. As reclamações – não apenas dos israelenses, mas também do Partido Republicano – são fruto, sobretudo, de uma repreensão feita por Obama ao primeiro-ministro israelense em março de 2010.
Na ocasião, o premiê israelense era recebido como convidado na Casa Branca, mas Obama se recusou a realizar uma entrevisa coletiva conjunta e deixou de forma abrupta uma reunião com ele. Desde então, as relações entre os dois líderes esfriaram, e o presidente americano teve que abandonar seus planos de obter um compromisso de Netanyahu sobre o congelamento das colônias israelenses.
"Ele está muito interessado em falar com o povo israelense durante a visita", diz Josh Earnest, porta-voz da Casa Branca. "E enxerga uma oportunidade de expressar seu apoio e demonstrar seu comprometimento com Israel e com a segurança de sua população, algo que já destacamos com frequência no ano passado."
Discurso a jovens
Por essa razão, em vez de discursar no Parlamento israelense (Knesset), desta vez o presidente americano optou por falar aos jovens em um centro de conferências.
"(A visita) é uma tentativa de esclarecer os mal-entendidos de que o presidente seria hostil a Israel ou que não teria nenhum envolvimento emocional com o país", diz Aaron David Miller, conselheiro de seis secretários de Estado, republicanos e democratas, para assuntos relacionados a Oriente Médio.
Dessa forma, afirma Miller, é improvável que Obama venha a exercer qualquer pressão sobre Netanyahu na questão dos assentamentos. O objetivo seria discutir com Israel o imbróglio nuclear com o Irã, outro assunto-chave na região. "As sanções não causaram efeito e, se a diplomacia não trouxer resultados, o presidente será forçado a se confrontar com a opção militar", afirmou o especialista.
Processo de paz fora das prioridades
Há uma série de tópicos a serem discutidos, como a frágil situação do Egito e a crise na Síria – ambos de grande interesse para os dois líderes e que contribuíram para que o processo de paz no Oriente Médio acabasse em segundo plano na agenda americana. Para o presidente israelense, Shimon Peres, a visita de Obama é, no entanto, uma oportunidade de dar nova força ao processo de paz.
"A sobrevivência política do líder palestino (Mahmoud Abbas) vai depender do progresso realizado em relação à criação de um Estado independente", explica Khaled Elgindy, do Brookings Institut em Washington.
Elgindy foi por muitos anos consultor da Autoridade Nacional Palestina. E, segundo ele, Abbas não de hoje deposita suas esperanças num comprometimento maior dos EUA. Mas, após um otimismo inicial, o processo de paz acabou deixando de ser prioridade, principalmente após a renúncia, em maio de 2011, do então enviado especial americano ao Oriente Médio, George Mitchell.
Nos últimos anos, o presidente se concentrou nas políticas domésticas de saúde, imigração, na reforma da lei de armamentos e, agora, nas eleições de 2014, onde os democratas esperam retomar a maioria na Câmara dos Representantes.
Momento desfavorável a acordo
Para Miller, não há muito o que Obama possa fazer na questão do processo de paz, uma vez que os dois lados estão envolvidos com seus respectivos problemas domésticos. "É difícil imaginar que, nessas circunstâncias, um presidente americano possa fazer alguma coisa", afirma.
Segundo ele, para que isso acontecesse, israelenses e palestinos teriam que apoiar plenamente o processo, o que não seria possível no momento. Não teria sentido, afirma o especialista, tentar atingir grandes objetivos durante essa visita, também porque tanto o secretário de Estado, John Kerry, quanto o atual enviado especial ao Oriente Médio, Phillip Gordon, são novos em seus cargos.
"Obama vai tratar das questões essenciais", afirma Miller. "O processo de paz é como o rock'n roll: nunca morrerá. Para para que o presidente possa de fato agir, a iniciativa deve vir das partes envolvidas, ou deve haver uma pressão tão grande ao ponto que deixar as coisas como estão não seria mais possível."
Tanto para Miller quanto para Elgindy, esse ainda não é o momento. Os assentamentos israelenses ainda são um sério empecilho. "A solução de dois Estados pode se tornar inviável em razão dos assentamentos, um processo que caminha rapidamente."