Power to the people
12 de janeiro de 2012Há quase quatro décadas Nina Hagen, hoje com 55 anos, dita tendências na música pop alemã. Conhecida por sua aparência pouco convencional, por suas manias dignas de uma diva de ópera e pelo inegável talento, a cantora nascida e criada na extinta Alemanha Oriental já recebeu títulos que vão de "ícone do punk" até "mãe da iconoclastia".
Nina Hagen é também uma declarada ativista da paz. Ela já foi adepta do hinduísmo e não esconde sua predileção por homens mais jovens. Hoje parece ter encontrado o verdadeiro amor e desfruta da vida em família. O que parece ter suavizado um pouco seu lado ruidoso, embora nem tanto.
No mais, continua afirmando ter visto, aos 17 anos, depois de uma "viagem" de LSD, o semblante de Deus. Em 2009 resolveu aderir ao cristianismo e ser batizada. No ano seguinte escreveu suas memórias e, no final de 2011, lançou seu mais recente álbum – Volksbeat –, com versões de canções de Bob Dylan, Wolf Biermann e Curtis Mayfield. Na entrevista abaixo, Nina Hagen fala de música, de política, de sua vida e de seus planos para o futuro.
Deutsche Welle: Por que o título Volksbeat (Beats do povo) para o álbum?
Nina Hagen: Ora, porque as canções são o pulsar do coração de um povo, o ritmo de um povo. Já houve muita gente propagando por aí "Adolf Hitler também usava a palavra povo" e coisa e tal. Mas nós somos o povo. Não importa quais psicopatas já tenham feito mau uso da palavra "povo" para alcançar seus objetivos horrendos. We are the people – isso pode ser conferido nos textos de Patti Smith. Power to the people – John Lennon. Nós somos o povo, basta. E somos o povo de um bom espírito, do amor, da paz e da liberdade. Precisamos lutar por isso agora, com a única arma que é realmente eficaz: nosso amor.
Por que seu álbum é tão inspirado pela música dos anos 1970?
Todas essas canções de protesto do passado não perderam sua atualidade. O engraçadinho de um programa de TV, onde estive outro dia, falou que eu faço pregações no meu disco. Bom, se isso for pregar, estou muito orgulhosa. Acho que a juventude está tateando um pouco no escuro. Os jovens que encontro têm suas atenções muito desviadas, eles têm brinquedos demais, está tudo bem (ou mal) demais com eles. Mas eles não veem um palmo à frente do nariz. Eles não se preocupam, como eu, por exemplo, com todas as tensões no Oriente Médio.
Sou, desde minha infância, uma pessoa antifascista e política. Meu pai foi um antifascista, um sobrevivente da Segunda Guerra, da tortura nazista e da ditadura. Meu avô não sobreviveu a tudo isso. E sou filha de uma mãe legal, que desde a minha mais tenra infância já arranhava um violão, cantando uma música atrás da outra: esse é o meu pessoal. Eles me trouxeram ao mundo. É deles que tenho também os fundamentos do meu saber, foi deles que recebi, digamos assim, minha formação profissional. Por isso há comigo sempre "beats do povo", mesmo que com outros nomes.
Qual é sua mensagem?
Quero a verdade e nada além da verdade. Quero paz, nada além de paz – e quero que haja mais amor e menos medo. Exatamente aquilo que está escrito na Canção das Crianças de Brecht. Essa é também uma prece, uma prece das crianças. É a primeira canção de Volksbeat. Nesse sentido, é também uma declaração de desafio e um grito em prol do nosso engajamento pelos direitos humanos, uma prece pelo desarmamento – tanto militar quanto humano.
Sua fé parece ser muito importante para você…
Meu coração bate por todas as vítimas de tortura deste mundo, por todas as pessoas que buscam refúgio, pelos bebês que vêm ao mundo na África e são ameaçados pelos mosquitos transmissores da malária. E assim por diante. Sinto-me como um membro completo da humanidade. Na condição de mãe já velha, espero que futura avó, e como poeta, pensadora, letrista e cantora, penso muito sobre como atingir o maior número de pessoas com minha música e minha mensagem legal: não importa se você acredita na vida eterna ou não, é nossa obrigação, como pessoas, fazer com que os princípios civilizatórios e éticos sejam respeitados. E nesse sentido podemos nos unir e ter força.
O que vem a ser a canção Soma Koma, inspirada nas obras de Orwell e Huxley?
Os livros de Aldous Huxley e George Orwell são visões terríveis da humanidade, onde há uma raça de escravos e diversos indivíduos gamma [uma das classes inferiores na sociedade descrita em Admirável Mundo Novo], sempre muito engraçados e que executam bem dispostos todo o trabalho sujo. Tudo é controlado, todos carregam chips, todos são manipulados geneticamente. E estamos a caminho de um cenário de horror como esse se não nos informarmos pela internet e nos unirmos.
Quais são seus planos para o futuro? Vai haver alguma turnê em breve?
Em março começamos uma maravilhosa turnê pela Alemanha, alguns shows na França e assim por diante. Nós não somos, claro, preguiçosos. Já estou há muito tempo de volta ao estúdio, trabalhando em coisas muito legais com a minha mãe, minha filha, meu filho e os amigos dele. Estamos fazendo uma música bem legal com toda a família. Vai ser uma ótima música para dançar. E eu estou adorando fazer.
Entrevista: Marc Mühlenbrock (sv)
Revisão: Alexandre Schossler