Sexo e o Neandertal
6 de novembro de 2010Embora extinto há mais de 30 mil anos, o europeu Homo neanderthalensis continua a fascinar os cientistas. Um novo estudo na Inglaterra sugere que ele teria mais parceiros que o homem moderno.
Os cientistas chegaram a essa conclusão comparando a proporção entre os comprimentos dos diferentes dedos, técnica que permite determinar alguns aspectos comportamentais, incluindo a promiscuidade sexual.
A pesquisadora Emma Nelson, da Universidade de Liverpool, demonstrara em estudos anteriores que níveis elevados de andrógenos no útero materno aumentam o comprimento do dedo anular em relação ao indicador. O baixo quociente de comprimento resultante está relaciona a alta competitividade, agressividade e mais parceiros sexuais; taxas baixas, por sua vez, indicam monogamia.
Comparação entre quatro espécies
Em estudo publicado recentemente num jornal britânico, cientistas compararam as proporções entre os dedos indicador e anular de várias espécies de hominídeos extintos.
Entre eles o Ardipithecus ramidus, que viveu 4,4 milhões de anos atrás; o Australopithecus afarensis, há cerca de 3 a 4 milhões; o Homo neanderthalensis, desaparecido há 28 mil anos; e os primeiros Homo sapiens, que viveram há cerca de 95 mil anos.
"Crê-se que os andrógenos pré-natais afetem os genes responsáveis pelo desenvolvimento dos dedos das mãos e dos pés, assim como do sistema reprodutivo," diz Nelson."Mostramos recentemente que nas espécies promíscuas de primatas a razão aritmética entre o comprimento do dedo indicador e o do anelar é baixa, e nos monógamos, alta. Usamos esses dados para avaliar o comportamento social de espécies extintas de macacos e hominídeos. Embora o volume de fósseis desse período seja restrito, e mais deles fossem necessários para confirmar as descobertas, esse processo poderia ser uma nova e interessante maneira de entender como o nosso comportamento social evoluiu."
O estudo mostra que os humanos modernos têm um quociente de 0,957 entre o indicador e o anular, e são, em geral, uma espécie mais monogâmica, enquanto nos chimpanzés, gorilas e orangotangos a proporção média é de 0,91, sendo essas espécies mais promíscuas.
Pesquisadores também constataram que o fóssil de um Homo sapiens datando aproximadamente 95 mil anos, encontrado em uma caverna em Israel, tinha a proporção de 0,935, sendo, em princípio, mais promíscuo do que os humanos atuais. Por sua vez, os Neandertais apresentavam, em média, um quociente indicador-anular de 0,928. Emma Nelson comentou que sua equipe gostaria de provar seus estudos por outros meios.
Uma pesquisa mais profunda seria necessária
Os antropólogos ainda não chegara a uma conclusão sobre quando e por que os humanos e seus ancestrais começaram a migrar de um sistema de acasalamento mais promiscuo para um mais monogâmico, já que o primeiro teria a vantagem evolutiva de propagar os genes com maior rapidez e de maneira mais efetiva. Certo está que a relação de casal, no sentido amplo, é universal para os humanos.
Nem todos os cientistas concordam com essas deduções. Em entrevista para site norte-americano de notícias MSNBC.com, um outro antropólogo declarou que a correlação com o quociente indicador-anular não é boa base para prever comportamentos sociais.
"Além de usar um mau indicador, esse estudo tem outro problema, muito comum no trabalho com fósseis: sua quantidade é muito pequena, e não está muito claro qual primata vivo deveríamos comparar com eles", afirma John Hawks, professor de Antropologia da Universidade de Wisconsin, Madison.
Autor: Cyrus Farivar (mas)
Revisão: Augusto Valente