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Não é brincadeira de criança

Detlev Karg / lk20 de junho de 2003

A primeira tropa conjunta da União Européia vai enfrentar no Congo, em meio à anarquia do país, um inimigo que lhe é completamente desconhecido: crianças drogadas que vão à luta sem o menor resquício de medo.

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Soldado francês em patrulha na cidade de BuniaFoto: AP

A participação das Forças Armadas alemãs na missão da União Européia no Congo foi aprovada com grande maioria pelo Bundestag. A decisão parlamentar representa o sinal verde para o envio de até 350 soldados da Bundeswher, um número que, como o ministro da Defesa, Peter Struck, acentuou inúmeras vezes, não deverá ser esgotado.

Ao contrário dos planos iniciais, a Bundeswehr não vai instalar uma base logística em Entebbe, na Uganda. Segundo as informações de um porta-voz do Ministério da Defesa, os aviões de transporte alemães, quando solicitados pela França, vão partir deste país vizinho, carregando materiais, e voar para Entebbe com escalas em Creta e no Djibuti. Depois do descarregamento na Uganda, eles retornam à Alemanha passando pelo Djibuti.

Nos debates que precederam à decisão do parlamento, a bancada conjunta da CDU e CSU alertaram para a necessidade de medidas complementares de apoio. A missão militar do UE no Congo só faz sentido, argumentaram os parlamentares democrata-cristãos, se acompanhada de medidas políticas. Os países membros da UE precisariam exercer pressão maciça sobre a Uganda e Ruanda, já que esses países há anos vêm se enriquecendo inescrupulosamente com as matérias-primas do Congo. Christian Ruck, porta-voz da bancada para assuntos militares, criticou que o governo alemão continue fornecendo ajuda ao desenvolvimento aos dois países.

Missão questionada

Joachim Krause, diretor do Instituto de Política de Segurança, de Kiel, vai ainda mais longe em sua crítica: "Estão sendo enviados 1400 soldados para basicamente cuidar da segurança do aeroporto e de um campo de refugiados, sem nenhum outro mandato claramente definido. Isto me lembra de experiências dolorosas da época das guerras na antiga Iugoslávia", censurou em declaração à DW-WORLD.

Crianças como inimigos

O ministro Struck, entretanto, teme que ocorram lutas contra crianças soldados, admitindo que, nesta missão, a situação é completamente diferente das anteriores, no Kosovo ou no Afeganistão. Os menores, que lutam sob a influência de drogas, "não têm o menor respeito pela vida humana", afirma. Ainda no início desta semana, soldados franceses mataram dois rebeldes. Antes, a tropa da UE fora, ela própria, alvo de tiroteios na cidade de Bunia. Consta que os ataques tenham partido de milicianos dos hemas que, ao que tudo indica, estavam alcoolizados e drogados. Um porta-voz declarou que toda e qualquer ameaça à população ou aos soldados da UE terá uma resposta apropriada — sabendo perfeitamente que, nessa região, as palavras têm pouco efeito.

O perigo de que a situação escale está no ar, e os europeus logo podem se sentir sobrecarregados, alerta o especialista Krause: "A UE só pode realizar operações deste tipo dentro de certos limites e não estará de jeito nenhum em condições de dar conta sozinha de um mandato mais robusto, e muito menos de esboçar uma solução mais ampla. Em ambos os casos, é necessária a ajuda maciça dos EUA e a inclusão da Otan no processo".

Limite da capacidade?

Os soldados alemães vão atuar principalmente na Uganda, voando para as regiões em crise apenas excepcionalmente, assegura o ministro da Defesa. Eles estarão encarregados sobretudo do transporte de materiais e colocarão à disposição, ainda, aviões equipados para a assistência médica. Alguns oficiais alemães ajudarão a compor a equipe de comando. "Nossa participação é marginal", critica Krause, o que mostra, segundo ele, "como a reforma da Bundeswehr está caminhando devagar".

Apesar de tudo, Struck defende que existe uma necessidade política para esta missão. Para poder fortalecer o braço europeu da Otan, é preciso também atender, quando as Nações Unidas solicitam ajuda, argumenta. Para Krause, isto não basta: "Caso a comunidade internacional tenha realmente a intenção de resolver os problemas do Congo, seria necessário atuar numa frente mais ampla. Não se deveria fazer a coisa de uma hora para outra, nem mesmo por meio de uma ampliação de mandatos do Conselho de Segurança já existentes." Nesse meio tempo, Peter Struck já admitiu que existe a possibilidade de as Nações Unidas solicitarem uma hora dessas a ampliação do mandato. "Teríamos então uma nova situação", declarou evasivo em entrevista à TV.