Mídia e moda na antiga Alemanha Oriental
13 de junho de 2019Um vestido chique com cinto largo, uma mão usando luvas pretas pegando num colar de pérolas. Assim, era a alta costura na antiga República Democrática Alemã (RDA), a moda para a mulher trabalhadora.
A mulher operária mais tarde tornou-se parâmetro: o glamour do mundo ocidental não se encaixava nas precárias condições econômicas sob o regime comunista. A engenheira de capacete combinava com a imagem de seu marido e ajudava a economia a se recuperar.
Tudo isso pôde ser visto durante décadas na Sybille, a revista feminina de moda e cultura fundada em 1956 por Sibylle Gerstner, a quem a publicação também deve o seu nome.
Atualmente, a Sibylle celebra seu retorno em forma de uma exposição itinerante. Mais de 200 obras relacionadas ao desenvolvimento da publicação podem ser vistas até 28 de agosto na Willy Brandt Haus em Berlim.
Em foco estão 13 fotógrafos e fotógrafas que marcaram a história da revista, como Sibylle Bergemann, Arno Fischer e Ute Mahler.
Na década de 1960, Arno Fischer tirou as modelos dos estúdios e as levou para as ruas de Berlim. Sibylle Bergemann marcou a revista nos anos 1980 com suas fotos silenciosas, estéticas e até melancólicas, como a imagem de uma mulher com um longo preto em frente a uma parede pintada de giz. Em suas fotos, Ute Mahler moldou a estética do indivíduo. Ela foi durante muito tempo fotógrafa de Sibylle e participou da organização da exposição.
"Tudo girava em torno de estilo, gosto e estímulo à individualidade. Os melhores fotógrafos do país trabalharam para Sibylle ao longo dos anos. Eles se tornaram conhecidos por seus retratos, reportagens, séries de ensaios ou imagens de paisagens. Por isso, a fotografia de moda também é tão especial no livro, porque todos nós fotografamos seguindo nosso estilo", disse a fotógrafa no contexto da exposição.
Faça você mesmo
Os modelos não posavam em terras distantes com cabelos esvoaçantes entre leões e elefantes, mas na estação de metrô, em pubs ou no trabalho, e depois também nas ruas de países aliados da Europa Oriental. Não havia moda para comprar, as mulheres costuravam a sua própria roupa com os moldes de Sibylle.
Quarenta páginas de moda, 40 páginas de cultura: de 1956 a 1995, a revista Sibylle era publicada a cada dois meses pela Editora para a Mulher (Verlag für die Frau) em Leipzig. Com uma circulação de 200 mil exemplares em seus melhores tempos, ela contribuiu significativamente para a imagem das mulheres da época e para a reflexão sobre as condições sociais.
Na primeira edição da revista, em agosto de 1956, uma "menina Sibylle" dirigia-se aos leitores. Ela pretendia olhos em todos os lugares, "em Praga e Florença, em Varsóvia e Viena, em Moscou e Nova York, em Pequim e Londres – e repetidas vezes Paris".
Sob a censura estatal nos anos 1970, a visão se voltou para o Leste e a cidade de Berlim Oriental, com a Alexanderplatz, que servia de pano de fundo para as modelos. Durante a Guerra Fria, os conflitos ideológicos também foram travados através revista feminina.
Além de moda, a revista também abordava temas como viagens, resenhas de artistas, cultura e conteúdo atual, com foco especial na juventude. Nos anos 1960, mostravam-se jovens com jaquetas de couro e mulheres de vestidos curtos; os temas da década de 1980 giravam em torno de hippies e poppers com seus penteados extravagantes, ombreiras e calças-balão.
Moda sob censura
Na década de 1960, quando ainda se acreditava que a ex-Alemanha Oriental iria conseguir se estabelecer economicamente, havia larga tolerância frente à juventude e suas festas.
Quando a economia não cumpriu o que o governo prometera, o SED (partido único da RDA) culpou a influência das forças ideológicas hostis pela falta de sucesso econômico do país. Em meados da década de 1960, a tolerância frente à Sibylle, porta-voz dos "jovens rebeldes", também chegou ao fim.
Em vez disso, a mulher deveria se tornar símbolo de uma economia em crescimento. As roupas das operárias eram processadas de maneira elegante, no espírito do "Estado operário" da RDA. Em muitos artigos sobre moda, eram apresentados fibras e tecidos sintéticos, com suas superfícies reluzentes e cores berrantes.
A tensão interna política se intensificou quando o compositor Wolf Biermann foi expatriado em 1976. Sibylle reagiu com histórias irônicas. A "era de chumbo" no início dos anos 1980, na qual a RDA não viu nem progresso econômico nem político, impulsionou a revista como um meio de refúgio.
Foi nessa época que Ute Mahler chegou à revista como fotógrafa. Sua imaginação e prazer em fotografar entusiasmavam os leitores e os tiravam por um momento de seu cotidiano.
Resistência através da fotografia
Um tema visto inicialmente de forma positiva e que durante muito tempo também se viu na moda, como a relação entre indústria e lifestyle, passou a ser abordado criticamente no período anterior à reunificação.
Sibylle Bergemann mostrou atitude ao fotografar modelos em ruas marcadas pelo concreto com chaminés de fumaça ao fundo. A revista se abriu para encenações fotográficas novas e não convencionais. Ela se tornou um fórum para a fotografia artisticamente ambiciosa numa fase de convulsão social.
No segundo semestre de 1989, o alvoroço atingia não somente a sociedade, mas também a redação. O então editor-chefe foi expulso pelos colegas. A última edição da revista ainda na antiga Alemanha Oriental, em 1989, definiu um ponto de virada.
A série Manuscritos apresentava, através de fotos de Sibylle Bergemann, peças exclusivas de estilistas da RDA. Eles apresentaram suas coleções do outro lado do Muro, em Berlim Ocidental, com grande sucesso na feira de moda Offline. Simbolicamente, a fotógrafa colocou suas modelos na frente do revestimento descascado de antigas paredes.
Após a queda do Muro de Berlim, uma empresa da Alemanha Ocidental comprou a revista Sibylle. Assim, sua existência foi inicialmente garantida, mas a publicação não teve o mesmo sucesso da RDA. As vendas caíram. Também uma nova tentativa numa editora própria fracassou. No início de 1995, a produção foi finalmente encerrada por razões financeiras.