Museu em Dresden resgata história militar alemã
24 de abril de 2013"Antigamente era melhor. Havia tecnologia, tanques de guerra, foguetes. Agora é preciso ler tanto", diz um motorista de táxi ao falar sobre o Museu Histórico Militar, em Dresden. O "antigamente" a que ele se refere são os tempos da RDA (República Democrática Alemã), quando o Museu pertencia às Forças Populares Nacionais do país, cumprindo uma clara incumbência: educar a população do ponto de vista político-militar. Havia uma exposição de armas de viés patriótico, que já começava na praça em frente ao museu, hoje vazia.
Segundo o historiador e diretor do Museu Histórico Militar, Matthias Rogg, não há mais uma incumbência específica a ser desempenhada, como ocorria no passado. Rogg é militar e, embora ocupe um cargo de liderança na Bundeswehr, é simpaticamente pouco afeito às formalidades militares.
Uma coisa é clara: desde a reabertura do museu, em outubro de 2011, reina sobre o lugar um novo espírito. Ali, os militares não são mais glorificados, mas categorizados historicamente e até mesmo questionados. Os efeitos das guerras e a questão da "violência intrínseca ao ser humano" são abordados tanto quanto as atuais missões da Bundeswehr no Afeganistão. "Queremos soldados e cidadãos autônomos, mas também não somos um museu antiguerra ou um museu pacifista", comenta Rogg.
Um raio que atravessa o prédio
A diferença entre o atual museu e o anterior não poderia ser maior. Trata-se de uma ruptura visível até mesmo na aparência do prédio. Uma cunha monumental de vidro e concreto atravessa a construção histórica, que entre o século 19 e o fim da Primeira Guerra Mundial servia de arsenal de armas do Exército da Saxônia. O projeto do museu é assinado pelo famoso arquiteto Daniel Libeskind, conhecido por suas propostas radicais.
O cume do anexo do prédio, afunilado, serve de mirante. E se destaca em meio à paisagem da cidade, exatamente ali onde começou o bombardeamento traumático de Dresden, no fim da Segunda Guerra Mundial. Trata-se de uma arquitetura altamente simbólica, afirmam especialistas; é uma "devastação do prédio antigo", contradiz a vendedora de uma lanchonete na estação ferroviária.
Fantasmas do campo de batalha
"Não somos um museu leve", diz Alexander Georgi, responsável pela assessoria de imprensa da instituição, demonstrando uma pontinha de orgulho. Segundo ele, o observador deve estar em condições de formar sua própria opinião ao visitar o local. É ele quem decide se quer mergulhar profundamente nos 700 anos de história militar alemã ou não. É possível, por exemplo, abandonar a volta cronológica e se voltar mais para a economia da guerra, para a história das vítimas, para a tecnologia bélica. E deixar-se levar pelas imagens temáticas recorrentes no espaço.
Há, por exemplo, um grupo de armamentos da Idade Média, que surgem da escuridão como fantasmas de uma batalha. Estão também expostos 60 sapatos, resquícios do campo de concentração Majdanek – não, como de costume, jogados uns sobre os outros, como símbolo do extermínio nazista, mas dependurados isoladamente: são sapatos em tamanho grande, pequeno, masculinos, femininos e infantis, que remetem de imediato à existência das pessoas que um dia os calçaram.
Museu militar para todos os sentidos
"Nosso ponto de partida são as pessoas", explica o coronel Rogg ao falar sobre o novo conceito do museu. São experiências como o peso real da mochila carregada pelos soldados ou sobre o odor de uma trincheira da Primeira Guerra Mundial – tudo isso está reconstruído, podendo ser assimilado pelo observador.
A exposição incita explicitamente o visitante a tocar nos objetos, descobrir, criar referências. Um foguete V2, desenvolvido sob o regime de Hitler, dependurado no teto, forma, ao lado de uma cápsula aeroespacial soviética, um eixo de visão sobre uma casa de bonecas da época da Segunda Guerra Mundial. A guerra e o dia a dia, bem como os brinquedos num quarto de criança, constituem o que se pode chamar de "história da cultura da violência".
Este é um setor temático que ocupa muito espaço no museu, lançando, por exemplo, questões relativas à especificidade de gênero da violência. Ou seja, questionamentos que ultrapassam em muito o conceito tradicional de um museu militar.
Cachorros para atentados suicidas
"O que esses bichos estão fazendo aqui", pergunta um garoto de 12 anos ao observar uma ovelha empalhada. Esses animais, explica o pai depois de se informar, são usados com frequência como "detectores de minas". E cães eram treinados para carregarem bombas para atentados.
São perversões da condução de uma guerra, sobre as quais o museu não silencia, muito pelo contrário: ali, as consequências de uma guerra são levadas a debate. Isso faz com que a instituição seja visitada por um número crescente de escolares, que usam as informações obtidas no museu para aulas nos diversos campos do saber, como história, ética e política.
Desde sua reabertura, o Museu Histórico Militar de Dresden já recebeu mais de 300 mil visitantes. Há ali um milhão de peças – um volume de material impossível de ser observado em apenas um dia.
Já existem planos de visitas guiadas voltadas especificamente para crianças. Uma tarefa não muito fácil, admite Alexander Georgi. A questão é, diz ele, saber a partir de qual idade uma criança está apta a saber mais sobre a guerra.
Autora: Andrea Kasiske (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer