Museu da imigração para renegociar identidade
2 de janeiro de 2006A onda de violência nas periferias de diversas cidades francesas nas noites de outubro e novembro passados chamou a atenção pública para os imigrantes argelinos, marroquinos, tunisianos e da África Negra na França. Sua integração se tornou uma urgência para a opinião pública local.
No entanto, a discriminação de que os jovens imigrantes reclamam hoje também poderia ser testemunhada por poloneses, húngaros, italianos e portugueses imigrados há gerações.
Reunir a memória dos imigrantes na França é uma das principais metas de um museu a ser inaugurado no início de 2007, em Paris. Fanny Servole, porta-voz da instituição, ressalta que o foco desta iniciativa é bem diferente das notícias no horário nobre da tevê, onde só se viram carros queimando durante os conflitos do ano passado.
Picasso era estrangeiro
História da cultura será a prioridade do museu. "Quando chegou à França, Picasso era um estrangeiro e também deve ter sido vítima de discriminação. Mas hoje o Museu Picasso [em Paris] é um dos mais visitados do mundo", lembra Servole.
A alemã Ute Sperrfechter, integrante da equipe do projeto, confirma que a idéia do museu é suprir a lacuna da historiografia oficial da França, enfatizando a história da imigração e valorizando a contribuição dos estrangeiros ao país.
A oferta do futuro museu de imigração de Paris será bem diversificada. Uma mostra permanente e exposições temporárias reunirão peças históricas, como passaportes, documentos de arquivos franceses, objetos da vida privada dos imigrantes, materiais e vestuário de trabalho, documentação de tradições.
A arte moderna será uma outra perspectiva de abordagem da imigração no museu. Tudo isso com recursos informativos audiovisuais sobre as estações da imigração na França desde a Revolução Francesa.
Intercâmbio autocrítico e dinâmico
O museu vai se chamar "Cité nationale de l'histoire de l'immigration". "Cité" é o termo francês que denomina as periferias urbanas desfavorecidas, povoadas sobretudo por imigrantes e seus descendentes. Fanny Servole explica que o nome "cité" também implica diversidade: não é só museu, teatro ou centro cultural, mas um ponto de intercâmbio contemporâneo.
Segundo Ute Sperrfechter, "'cité' porque deverá ser um lugar de movimento, onde se poderá negociar sobre identidade, onde a mentalidade pode ser repensada, onde as pessoas entram e saem diferentes de como chegaram".
O museu deverá ser o primeiro passo para a futura criação de uma rede de informações sobre as conquistas dos imigrantes na França e em toda a Europa.