Buraco na Cabeça
14 de agosto de 2008Parece coisa de filme de terror, mas não é. Nem mesmo tortura. O método da trepanação, que consiste na abertura intencional do crânio através do trépano, um instrumento cirúrgico próprio para perfurar ossos, vem sendo utilizado há mais de 10 mil anos na extração de tumores cerebrais, sendo considerado uma das mais antigas técnicas cirúrgicas utilizadas em operações na cabeça.
Esse é o tema da exposição "Buraco na Cabeça – As Mais Antigas Operações do Mundo" (em alemão "Loch im Kopf – die ältesten Operationen der Welt"), no Museu de Neandertal, nas proximidades de Düsseldorf.
Com cerca de 17 mil visitantes anualmente, o museu é um dos mais modernos e bem visitados museus arqueológicos europeus, conhecido pela acurada utilização de meios multimídia em suas exposições, como encenações teatrais, músicas, filmes e jogos interativos.
Os visitantes têm durante a exposição a chance de ver os fósseis de aproximadamente 24 pacientes submetidos a uma operação de trepanação craniana ainda no tempo das cavernas.
Para afastar os maus espíritos
Tais operações, no entanto, não eram somente utilizadas por motivos médicos, como por exemplo o alívio para fortes dores de cabeça ou, em casos piores, para retirada de objetos pontiagudos enterrados na cabeça de nossos ancestrais, resultado de desentendimentos durante a caça ou festividades.
Estudiosos confirmam também razões religiosas para as perfurações no crânio, já que muitos acreditavam estar liberando maus espíritos ou até mesmo aumentando o poder da consciência ao permitirem ter suas cabeças perfuradas. Não há registros se essas operações eram feitas com ou sem algum tipo de substância anestésica existente à época.
Além dos crânios esburacados, estão também à mostra gravuras pré-históricas de trepanações, assim como os instrumentos utilizados na mais antiga operação de trepanação craniana registrada na Europa.
Nos dias atuais
Curiosidades como a exibição de cenas de trepanação extraídas de séries de televisão e filmes, entre eles um documentário protagonizado por Amanda Fielding, artista inglesa que nos anos 60 se "autotrepanou" com uma furadeira elétrica em frente às câmeras, complementam a mostra. Workshops para crianças a partir de 8 anos e palestras com médicos e historiadores também fazem parte da programação.
Ponto alto da exposição é, porém, a sala cirúrgica montada pelo Departamento de Neurocirurgia da Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf, onde os visitantes aprendem a técnica da trepanação. E mais: com a ajuda de um neurocirurgião da mesma universidade, eles podem colocar esses ensinamentos em prática, realizando trepanações em abóboras e cocos.
Afinal, o método da trepanação ainda é utilizado pela medicina moderna, entre outros na remoção de tumores, na drenagem de coágulos ou no tratamento de fraturas cranianas. (mb)
A exposição está aberta ao público no Museu de Neandertal, em Mettmann, até 2 de novembro.