Crise política na Itália
16 de novembro de 2010O governo de Silvio Berlusconi ameaça entrar em colapso após vários membros de seu gabinete terem renunciado aos seus cargos. A longa crise política italiana não poderá ser remediada em breve por novas eleições, pois a moção de desconfiança contra seu governo deverá ser votada somente em meados de dezembro, após a aprovação parlamentar do orçamento público de 2011.
O destino do governo de Silvio Berlusconi será decidido no dia 14 de dezembro, quando a Câmara dos Deputados em Roma votará a moção de desconfiança contra o premiê apresentada pela oposição esquerdista. No mesmo dia, o voto de confiança requerido pelo chefe de governo será submetido ao Senado. Isso foi o que decidiram os presidentes das duas câmaras do Parlamento, Gianfranco Fini e Renato Schifani, nesta terça-feira (16/11), em encontro com o presidente italiano, Giorgio Napolitano.
Na segunda-feira, quatro membros do governo renunciaram aos seus postos: o ministro de Assuntos Europeus, Andrea Ronchi; o vice-ministro de Comércio Exterior, Adolfo Urso, e dois subsecretários, todos politicamente próximos ao presidente da Câmara, Gianfranco Fini, que retirou seu apoio a Berlusconi e passou a exigir a renúncia do premiê de 74 anos envolvido em escândalos sexuais. Fini declarou que a classe governante da Itália perdeu seu senso de dignidade, de responsabilidade e de dever, algo que "deveria se esperar de pessoas em cargos públicos".
Impasse orçamentário é prioridade
Entre outras coisas, Fini – um ex-neofascista que Berlusconi havia integrado ao seu governo – passou a criticar as leis de imunidade planejadas para impedir que o premiê possa ser julgado por corrupção. No final de julho, Fini abandonou o partido do governo, Povo da Liberdade, levando consigo 40 deputados e senadores, com os quais fundou sua própria bancada e recentemente o partido Futuro e Liberdade para a Itália (FLI). O FLI defende um governo sem Berlusconi, cogitando uma eventual coalizão com os oposicionistas de centro-esquerda.
Após o acirramento da crise de governo e a revelação de escândalos sexuais do primeiro-ministro, os italianos passaram a falar de forma cada vez mais aberta do iminente fim da era Berlusconi. No entanto, o primeiro-ministro não quer desistir, sendo acusado pela oposição de centro-esquerda de estar protelando propositalmente a votação do orçamento, a fim de se manter por mais tempo no poder. O debate parlamentar sobre o orçamento começou nesta terça-feira na câmara baixa do Parlamento e sua aprovação final pela câmara alta deverá ocorrer em dezembro.
Diante da gravidade da crise econômica na Itália e da instabilidade dos mercados financeiros, o partido de Berlusconi acredita que o orçamento de austeridade para o próximo ano passará pela Câmara e pelo Senado sem obstáculos. O pacote do governo prevê drásticos cortes de despesas públicas, com a meta de reduzir o déficit orçamentário de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2009, para 3,9% em 2011.
Voto de confiança ou novas eleições
De acordo com relatos de imprensa, o primeiro-ministro italiano quer convocar novas eleições, caso não seja confirmado no poder pelo voto de confiança do Parlamento. Isso foi o que Berlusconi concluiu após encontro com seus parceiros de coalizão da Liga Norte, segundo noticiou a mídia italiana. Se o governo não obtiver a maioria parlamentar, os eleitores terão novamente a palavra por meio de eleições antecipadas, declarou o ministro da Defesa, Ignazio La Russa.
Analistas políticos cogitam possíveis cenários para a crise política italiana: uma coalizão de governo sob Berlusconi com nova combinação partidária, um governo tecnocrático interino com outro primeiro-ministro, ou um governo de centro-direita encabeçado por Gianfranco Fini. Consensual, no entanto, é a previsão de que o atual governo Berlusconi não se sustentará até o fim oficial de seu mandato, em 2013.
A popularidade de Berlusconi vem caindo em decorrência da revelação de uma série de escândalos sexuais, inclusive seu suposto envolvimento com uma dançarina de 17 anos que afirma ter participado de algumas das festas do premiê. Mesmo assim, uma enquete divulgada no sábado pelo diário Corriere della Sera indica que seu partido ainda conta com 26,5% das intenções de voto do eleitorado italiano. Na sondagem, o Povo da Liberdade é imediatamente seguido pelo Partido Democrata (PD), de centro-esquerda (24,2%), pela agremiação populista Liga Norte (11,8%), e pelo FLI, de Fini (8,1%).
SL/dpa/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer