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Estação dividida

11 de agosto de 2011

Mostra na estação de trem Friedrichstrasse, no centro de Berlim, lembra o tempo que o terminal era um posto de fronteira na cidade dividida pelo Muro, lugar de espiões e de tentativas de fuga de alemães-orientais.

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Estação Friedrichstrasse em 1990
Estação Friedrichstrasse em 1990Foto: picture alliance/ZB

No dia 13 de agosto de 1961, exatamente às 00h21, a estação berlinense de Friedrichstrasse fechou para o trânsito entre Alemanha Oriental e Ocidental. O lado comunista começou a se isolar por um muro, e os trens ficaram impedidos de transitar para o lado oeste de Berlim.

Alto-falantes anunciavam que, a partir dali, a viagem estava interrompida. Embora a rede de telefonia e o fornecimento de energia entre Berlim Ocidental e Oriental tenham sido interrompidos pela Alemanha Oriental em 1952, o trem urbano continuava a transitar num intervalo de cerca de 5 minutos através de todas as fronteiras dos setores ocupados pelas potências vencedoras da Segunda Guerra, transportando diariamente mais de um milhão de passageiros.

Liberdade em troca de 20 centavos de marco

Ninguém até ali achava que aquilo seria possível. Era tão impensável quanto a construção do Muro. A estação Friedrichstrasse era um magnífico edifício envidraçado em estilo guilhermino, construído no final do século 19 na fervilhante rua Friedrichstrasse, como símbolo da ascendente metrópole Berlim.

Nos dourados anos 1920, era aqui que a vida da cidade pulsava mais forte. Em torno da estação, se enfileiravam salas de música, bares, restaurantes e hotéis. Após a guerra, terminada em 1945, a área caiu na zona de ocupação soviética e se transformou na década de 1950 em uma brecha única para o Ocidente. O cidadão comprava um bilhete por 20 centavos de marco, se sentava no trem e, minutos depois, estava do lado de lá, sem quaisquer problemas, a não ser algumas poucas revistas de bolsas.

Passageiros no controle de fronteira
Passageiros no controle de fronteiraFoto: ullstein - Mrotzkowski

Milhares de alemães utilizaram essa possibilidade até que a Alemanha Oriental começou a construção do Muro. A estação Friedrichstrasse passou por reformas rápidas e se tornou um dos maiores e mais frequentados postos de fronteira entre Berlim Ocidental e Oriental, uma espécie de unidade de segurança máxima, monitorada permanentemente por guardas armados alemães-orientais.

Entre as plataformas de onde saíam os trens para Hamburgo ou Paris, e os trens urbanos para a estação Zoo, em Berlim Ocidental, ou a plataforma de onde partiam os trens urbanos para o Leste, foi erigida uma grande parede de aço cinza com vários centímetros de espessura.

Unidade de segurança máxima com 140 câmeras

Nas catacumbas da estação passou a existir um labirinto de corredores, portas fechadas, barreiras, postos de controle e revista de passaportes, ninguém deveria saber por onde estava passando. Com o absurdo efeito colateral que até mesmo os cada vez mais poderosos serviços secretos do leste alemão se perdiam na estação, como lembra Wolf Kühnelt, um dos idealizadores da exposição A Estação Dividida que relembra, no 50º aniversário da construção do Muro, a influência da divisão da cidade sobre a estação de trem. "Mais de 140 câmeras foram instaladas nesse lugar. Até mesmo nos banheiros", observa.

Só os ocidentais podiam passar para o lado oriental
Só os ocidentais podiam passar para o lado orientalFoto: ullstein - ADN-Bildarchiv

Manfred Migdal ainda se lembra, com certo horror, da estação dividida. "Terrível, era um pesadelo, que até hoje ainda dá arrepios." Com a construção do Muro, ele se tornou um cidadão de Berlim Oriental da noite para o dia porque justamente no dia 12 de agosto 1961 fora visitar sua mãe no lado comunista da cidade.

Em 15 de maio 1962, ele planejou fugir para o lado ocidental com dois amigos, pela estação Friedrichstrasse. Na estação de operação Rummelsburg, no mais profundo leste berlinense, onde acontecia a limpeza dos trens que iam para o oeste, eles conseguiram entrar sem serem observados em um trem para Hamburgo e se esconderam dentro de um vagão.

"Mas não contávamos com os guardas de fronteira, que revistavam completamente os trens", lembra Manfred Migdal. Ele está agora com 68 anos e ainda se lembra vivamente do momento em que os guardas de fronteira o descobriram, o retiraram do trem e o conduziram a tapas através dos labirintos da estação.

Ele pegou um ano e meio de prisão por sua tentativa de fuga. Ainda assim, tentou fugir outras vezes depois de sua libertação, tendo sido pego e condenado a, ao todo, a quatro anos de prisão. Em 1971, a Alemanha Ocidental pagou pela liberdade de Manfred Migdal. "Toda vez que chego aqui na estação, meu olhar passeia pela plataforma onde fui preso...Aquelas barreiras, aqueles vários olhares que nunca se esquece. Terrível."

Espiões, lágrimas, parede de aço e ladrilhos marrons

Arredores da estação, no começo do século 20: ponto de agitação
Arredores da estação, no começo do século 20: ponto de agitaçãoFoto: picture-alliance / IMAGNO /Austria

A história de Manfred Migdal é uma das muitas lembradas na instalação A Estação Dividida, que ainda pode ser visitada até o dia 15 de agosto. A exibição inclui fotos, documentos e filmes de treinamento da guarda da Alemanha Oriental que fazia o controle de fronteira. Para fazer ressuscitar a arquitetura ameaçadora da estação dividida, uma linha branca no chão do prédio marca onde ficava a antiga fronteira.

O curador Frank Ebert lembra como a situação era estressante na estação Friedrichstrasse para os alemães-orientais. Eles podiam ouvir os anúncios das outras plataformas invisíveis, de onde partiam os trens para o lado ocidental e para as quais eles nunca teriam acesso.

Lágrimas de despedida, de alegria, saudade, raiva e desespero, estes são os sentimentos que muitos ainda associam com a estação Friedrichstrasse. Ela também era o lugar em que espiões e colaboradores da Stasi, a polícia secreta do regime oriental, passavam através de portas secretas para o lado ocidental. Um lugar onde agentes entravam e saíam. Hoje, nada mais lembra as longas esperas ou despedidas dolorosas que famílias e amantes enfrentavam no local.

Tanto os feios azulejos marrons das paredes como o muro de aço sumiram da estação ferroviária Friedrichstrasse. O lugar é hoje um centro de tráfego ferroviário moderno, com áreas comerciais. Tudo isso faz esquecer que, durante a divisão alemã, ele era mais do que uma estação. Era um símbolo da Guerra Fria, um terminal de emoções. E hoje é um local verdadeiramente histórico.

Autor: Christoph Richter (md)
Revisão: Roselaine Wandscheer