"Caça aos modernos" resgata artistas perseguidos no nazismo
27 de março de 2012A obra de Arthur Kaufmann A emigração intelectual expressa a questão com clareza, já desde o título. Quase de forma documental, enfileirados como numa foto de classe escolar, lá estão eles, lado a lado: Albert Einstein e Berthold Viertel, Arnold Zweig e Fritz Lang, Erika e Thomas Mann, e todos os outros. Ao todo 38 autores, compositores, cineastas, músicos, atores. Ao fundo do trítico, do lado esquerdo, uma bandeira nazista esvoaça, do outro lado está a norte-americana, no meio, o oceano.
O que o quadro mostra é uma parte da grande onda de emigração: o êxodo das personalidades culturais da Alemanha nazista para os Estados Unidos na década de 1930. A sangria intelectual foi tremenda. E, no entanto, todos os homens e mulheres retratados conseguiram escapar com vida. Outros tiveram menos sorte: foram perseguidos e mortos, impelidos ao suicídio, ou executados nos campos de concentração.
Perturbadores pequenos esboços biográficos lembram todos os que foram assassinados, forçados ao exílio, que tiveram sua obra destruída. Todo o ódio do regime nazista se abateu sobre as melhores cabeças do mundo da arte e da cultura: elas representavam vanguarda e novas formas, experimento e criatividade, mas também crítica social.
Esforço teuto-polonês
"Caça aos modernos – Arte proibida no Terceiro Reich" é o oportuno título da mostra no Museu de Arte de Mülheim, no estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália (NRW). Ela integra o Ano Polônia-NRW 2011/2012 e tem o mérito de examinar pela primeira vez, de forma conjunta, um capítulo obscuro da política de extermínio nacional-socialista.
"É novo o fato de a curadora alemã haver concebido a exposição juntamente com uma colega da Polônia, de duas pessoas de dois países terem se ocupado do tema, também para pesquisar e talvez escrever a história comum", destaca a diretora do museu, Beate Reese.
A mostra "Caça aos modernos", que já foi exibida em Cracóvia, e prossegue na Alemanha até 28 de maio, é notável em dois sentidos. Por um lado, as curadoras conseguiram expor aos visitantes, numa estrutura clara, porém cientificamente fundamentada, uma época da história da arte tão cheia de pontas soltas e rupturas abruptas – num desempenho que também pode ser admirado no excelente catálogo da mostra.
Por outro lado, o visitante é confrontado com artistas e personagens da cultura – além das artes plásticas, a exposição também contempla autores e músicos – que não pertencem necessariamente à lista dos "grandes e famosos".
Fora do mainstream
Isto se deve, sobretudo, ao triste fato de numerosos artistas terem sido assassinados pelos nazistas, dando um fim brusco a seu catálogo de obras. Ou eles foram obrigados a partir para o exílio. Para muitos, isso significou uma reorientação artística. E, acima de tudo, o fim forçado de uma elaboração da e dentro da própria terra natal, em termos de arte.
Quem já ouviu falar de Florenz Robert Schabbon, que cometeu suicídio em 1934? Ou quem ainda conhece Lotte B. Prechner, que fugiu para a Bélgica, desaparecendo na clandestinidade? Ou a quem ainda diz algo o nome de Julius Graumann, assassinado em Auschwitz em 1944?
O museu também exibe quadros de Emil Nolde e Max Pechstein, obras de Ludwig Meidner e Max Ernst, podem-se ver os livros de Thomas Mann e Else Lasker-Schüler, escutar composições de Kurt Weill e Hanns Eisler. Porém as grandes descobertas da mostra são os tantos artistas "desconhecidos", fora do mainstream.
Conexão com a Polônia
A mal afamada exposição "Entartete Kunst" (Arte degenerada) foi organizada em Munique pela ditadura nacional-socialista, com a função de fixar sua pérfida imagem estética do mundo. Realizada 75 anos depois, a mostra no Museu de Mülheim é também uma homenagem a todos aqueles profissionais da arte cuja produção foi tachada de "degenerada", na época.
"Todos os artistas que estamos mostrando foram, de alguma forma, perseguidos pelos nacional-socialistas ou tiveram suas obras proibidas", explica a curadora Judith Schönwiesner. Porém estão igualmente expostas numerosas obras de arte realizadas no exílio. Esta foi a meta de seus organizadores. "Para nós também era importante expandir a visão até a época do exílio, e mostrar como os artistas lidavam, no exterior, com sua situação de vida alterada."
Paralelamente, os visitantes têm a oportunidade de vislumbrar uma época artística praticamente desconhecida no país vizinho, Polônia. "Para muitos, será uma novidade ver a contribuição dos artistas poloneses à vanguarda da época. E também dar-se conta de tudo o que foi destruído em termos de produção cultural, naquela época, na Polônia", aponta Beate Reese.
Também neste país a mostra "Caça aos modernos" encontrou grande interesse público. Para os visitantes poloneses, o inusitado foi ficar sabendo algo sobre a história da arte e cultura alemãs. Em especial por se confrontarem com o fato de que na Alemanha houve igualmente numerosos artistas e profissionais da cultura perseguidos, sublinha a diretora do Museu de Mülheim: "Não era apenas uma geração de criminosos".
Autoria: Jochen Kürten / Augusto Valente
Revisão: Roselaine Wandscheer