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Beckmann nos EUA

14 de outubro de 2011

O tradicional Museu Städel, em Frankfurt, agora com um novo e grande anexo, abre uma ampla mostra da obra tardia de Max Beckmann, datada da época em que o artista viveu nos Estados Unidos.

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'São Francisco': óleo sobre telaFoto: VG Bild-Kunst, Bonn 2011

As obras tardias de um artista são caracterizadas com frequência como "de pouca inspiração". Muitas vezes, ouvem-se críticas de que esses trabalhos teriam "perdido o bonde da história". A mostra Beckmann & os EUA é um exemplo que vem a provar o contrário.

Mesmo que o artista alemão, nascido em Leipzig, tenha vivido apenas seus últimos três anos de vida (1947-1950) nos Estados Unidos, ele passou ali um período verdadeiramente produtivo. O Museu Städel, em Frankfurt, que acaba de ter seus espaços ampliados com a inauguração de um enorme anexo, expõe as obras de Beckmann criadas neste período tardio de sua vida.

Viagem ao mundo novo

Embora tivesse tentado emigrar para os EUA durante um longo período de tempo, depois de ter sido expulso da Alemanha nazista e encontrado exílio em Amsterdã, Beckmann só deixou a Europa em meados de 1947. Na cidade norte-americana de St. Louis, ele conseguiu uma oportunidade para dar aulas. Naquele momento, o artista aproveitou para viajar pela imensidão do país e pintar. Quarenta e uma obras datadas desta época estão agora expostas no Museu Städel, entre estas desenhos e esculturas, todos desta fase tardia de produção do artista.

Max Beckmann Autstellung im Städel Museum Frankfurt Flash-Galerie
Max BeckmannFoto: Max Beckmann Archiv

"Olhando como um todo, Nova York é o que há de mais grotescamente gigantesco entre tudo o que a humanidade já produziu até agora... E isso combina comigo", anotou Beckmann em seu diário. E, de certa forma, ao observar o trabalho do artista, a impressão que se tem é a de que esse "gigantismo grotesco" sempre combinou com ele, já que seus quadros, em grande formato, têm cores fortes e reluzentes. Além disso, ele sempre adorou as pinceladas sem regras, que abandonam os limites da tela, envolvendo quase todas as formas e figuras como molduras em tons bastante escuros.

Cifrado e misterioso

Mas é claro que Beckmann também continuou pintando como na Velha Europa, jogando seus esboços mitológicos na tela, recorrendo à história e à religião, e não raramente fazendo uso de uma linguagem cifrada, simbólica, sempre carregada de um último segredo. Naquele momento eram as paisagens e as pessoas norte-americanas que adentravam seu universo pictórico. Muito impressionantes são também os diversos trípticos feitos pelo artista, três dos quais estão agora expostos no museu de Frankfurt.

Max Beckmann Autstellung im Städel Museum Frankfurt Flash-Galerie
'Partida', óleo sobre telaFoto: VG Bild-Kunst, Bonn 2011

Os primeiros pré-estudos para o monumental tríptico The Beginning (O Início) surgiram ainda em Amsterdã; e suas últimas pinceladas foram dadas no primeiro semestre de 1949. Na atual exposição, o observador é levado a descobrir todo o universo do artista, desde sua infância e juventude, passando por suas impressões a respeito dos EUA. Naquela época ele leu Olhe em direção à casa, anjo, a famosa saga familiar de Thomas Wolfe, confirmando uma tendência retrospectiva típica de sua obra. O quadro, que hoje pertence ao acervo do Museu Metropolitan, em Nova York, é um dos destaques da mostra de Frankfurt.

Considerado nos EUA

A série de autorretratos também foi perpetuada no Novo Mundo: Beckmann pintou propositalmente imagens de si próprio – com um cigarro e um cachechol verde, sempre muito elegante – logo depois de sua chegada aos EUA. Seu galerista, Curt Valentin, vendeu essa obra a uma colecionadora de Nova York, pouco depois de uma grande retrospectiva de seus trabalhos em St. Louis. Enquanto viveu na Europa, Beckmann era considerado "o" grande pintor expressionista alemão.

Max Beckmann Autstellung im Städel Museum Frankfurt Flash-Galerie
Autoretrato com cigarro e cachecolFoto: VG Bild-Kunst, Bonn 2011

E manteve essa posição em seus últimos anos de vida, quando, nos EUA, "jovens selvagens" como Mark Rothko, Barnett Newman e Jackson Pollock sugiram e, de súbito, tomaram conta da história da arte com o abstracionismo. Os trabalhos de Beckmann já foram expostos em diversos museus norte-americanos, em alguns até mesmo sob o rótulo de "Pintores Norte-Americanos Atuais".

Jutta Schütt, a curadora da exposição em Frankfurt, não acredita que ele teria se irritado com os novos rumos da arte. "Isso não o abalou. Ele sempre esteve muito ancorado e era muito rígido no que fazia, na pintura figurativa. Era aí que residiam seus objetivos." O tema da abstração, continua Schütt, poderia tê-lo irritado muito antes, embora ele não tenha dado importância ao assunto. "Isso nunca foi um problema para ele".

Obra posterior: impressionante

Beckmann se sentia irritado sobretudo com os cânones do mundo artístico de então, como os grandes franceses, Picasso, Matisse e outros. Ele sempre quis cortar a hegemonia deles. Algo que, em parte, conseguiu, também com seus últimos trabalhos feitos nos EUA.

Depois de ter sido expulso de seu país pelos nazistas, ter tido seus quadros expostos na famigerada mostra de Arte Degenerada, ter passado maus momentos no exílio em Amsterdã, Max Beckman conseguiu dar vazão a uma nova fase totalmente produtiva no Novo Mundo, deixando para a posteridade uma impressionante obra tardia.

Autor: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque