Exposição em Moscou inaugura Ano da Alemanha na Rússia
23 de junho de 2012Os presidentes russo, Vladimir Putin, e alemão, Joachim Gauck, montam juntos um quebra-cabeça na Praça Manege, em Moscou, diante das portas do Kremlin. O modelo é o quadro Autorretrato com manto de pele, do famoso artista alemão Albrecht Dürer (1471-1528). Assim deveria ter começado o Ano da Alemanha 2012/2013 na Rússia. Mas o plano falhou. Ambos os políticos se mantiveram longe do evento de abertura, na última quarta-feira (20/06), sem que se mencionassem os motivos exatos.
Alguns veículos da imprensa alemã falaram em problemas em coordenar compromissos. Outros especularam sobre "distúrbios atmosféricos" entre Putin, ex-membro do serviço secreto soviético KGB, e Gauck, velho inimigo do regime do SED – o partido único da Alemanha Comunista. Os dois já haviam se encontrado, porém, em 1º de junho em Berlim, quando o chefe de Estado russo realizou uma visita-relâmpago à Alemanha.
Além da política
Os organizadores acentuam que a política não está em primeiro plano no Ano da Alemanha na Rússia, mas sim a cultura e a história. Pois há mais do que gasodutos unindo os dois países, e é importante mostrar que, embora o gasoduto do Mar Báltico seja um projeto internacional de ponta, as relações entre a Rússia e a Alemanha não se restringem ao setor energético.
Essas foram as palavras de Mikhail Chvidkoi, encarregado especial de Putin para contatos culturais internacionais, durante a inauguração da exposição Russos e alemães: mil anos de história, arte e cultura, no Museu Nacional Histórico, em Moscou. Trata-se apenas do evento de abertura do ano comemorativo, que incluirá mais de cem eventos.
"Não esquecemos do dia 22 de junho de 1941, quando a Alemanha nazista invadiu a União Soviética", comentou o embaixador alemão em Moscou, Ulrich Brandenburg. O diplomata fala de um "capítulo obscuro" na história teuto-russa.
"Costumamos restringir nossas relações aos trágicos acontecimentos do século 20 ou a eventos simbólicos isolados", ressaltou Chvidkoi à Deutsche Welle. A mostra de arte visa demonstrar que a convivência de cerca de mil anos entre os dois povos também resultou em muitos impulsos positivos.
Da Idade Média ao Beijo fraternal
A exposição em Moscou trata tanto das relações econômicas na Idade Média quanto da onda de emigração da Rússia para a Alemanha, no início do século 20. O espaço de tempo abarcado é efetivamente de cerca de um milênio, desde as armas dos cavaleiros medievais alemães até a mala contendo a farmácia de viagem do czar Pedro, o Grande, manufaturado na Alemanha, no século 17.
A arte contemporânea também se faz presente com O beijo fraternal ou Meu Deus, ajudai-me a sobreviver este amor mortal, que o artista russo Dmitri Wrubel pintou no Muro de Berlim em 1990. O mural mostra os chefes de Estado Leonid Brejnev, da URSS, e Erich Honecker, da RDA, num íntimo ritual de saudação.
Outra presença que não poderia faltar é a de Catarina, a Grande. A czarina russa de raízes alemãs pode ser vista ao lado de numerosos outros retratos de personalidades influentes da história comum teuto-russa.
Objetos raros
Os curadores se orgulham pelo fato de a exposição ser uma espécie de première, pois marca a reabertura do Museu Nacional Histórico, na Praça Vermelha, após longos anos de trabalhos de reforma. Além disso, grande parte dos mais de 700 objetos expostos, vindos de 75 museus internacionais, não vinha a público há muito tempo, e alguns são exibidos pela primeira vez.
Em outubro de 2012, a mostra irá para o Neues Museum de Berlim, pois, paralelamente, transcorre na Alemanha o Ano da Rússia, num projeto promovido no país pelo Ministério das Relações Exteriores alemão. O órgão entende como finalidade do monumental empreendimento fortalecer e honrar a parceria estratégica entre os dois países, sob o slogan: "Rússia e Alemanha – formando o futuro juntas".
Autores: Jegor Winogradow/Roman Goncharenko (av)
Revisão: Luisa Frey