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Morre o primeiro presidente da Ucrânia independente

11 de maio de 2022

Leonid Kravchuk conduziu o país à independência em 1991. Ele foi um dos articuladores do fim da União Soviética e aproximou Kiev da Europa. Zelenski lamenta morte e diz que ex-líder "desejava paz para a Ucrânia".

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Leonid Kravchuk, que governou a Ucrânia de 1991 a 1994, morreu aos 88 anos
Leonid Kravchuk, que governou a Ucrânia de 1991 a 1994, morreu aos 88 anosFoto: Olena Khudiakova/Ukrinform/IMAGO

Leonid Kravchuk, o líder comunista que levou a Ucrânia à independência após o colapso da União Soviética, morreu nesta terça-feira (10/09) aos 88 anos, na 11ª semana da invasão russa ao seu país. O anúncio foi feito pelo prefeito de Kiev, Vitali Klitschko.

"Uma grande perda para toda a Ucrânia. Hoje, Leonid Kravchuk morreu, o primeiro presidente da Ucrânia, o primeiro presidente da Rada [Parlamento ucraniano], e o homem que esteve na origem do Estado ucraniano moderno", afirmou Klitschko em mensagem no Telegram. 

O ex-presidente, que governou o país de 1991 a 1994, estava com a saúde fragilizada. Em junho de 2021, ele foi submetido a uma cirurgia no coração e acabou entrando em coma antes de ser internado em uma clínica em Munique, sul da Alemanha, para reabilitação.

Durante os últimos anos da União Soviética, Kravchuk liderou a Ucrânia como chefe do Partido Comunista. Ele teve um papel decisivo no esfacelamento do regime soviético, depois de se tornar o primeiro presidente da Ucrânia independente, em 1991.

Ele é considerado como uma das principais forças envolvidas na declaração da independência ucraniana. Em 8 de dezembro de 1991, ele assinou, juntamente com os líderes da Rússia e de Belarus, um acordo que declarava formalmente o fim da União Soviética.

Articulador do fim da era soviética

Sua morte ocorreu uma semana após o falecimento do primeiro presidente de Belarus na era pós-soviética, Stanislav Shushkevich, de complicações de covid-19, o que fez de Kravchuk o último sobrevivente dos três líderes que assinaram o acordo de 1991. O ex-líder russo, Boris Yeltsin morreu em 2007, aos 76 anos.

Alguns que estiveram presentes naquele 8 de dezembro de 1991 na floresta de Belovezha, hoje no território de Belarus, confirmam o papel fundamental de Kravchuk no fim do regime soviético.

A Ucrânia declarou sua independência em agosto daquele ano, após um golpe de Estado liderado pela linha dura do Partido Comunista enfraquecer a autoridade do líder soviético Mikhail Gorbatchev.

Uma semana antes do acordo de Belovezha, Kravchuk se elegera presidente, em uma votação onde também foi aprovada a independência do país, por ampla maioria.

Segundo testemunhas, o líder ucraniano teria rejeitado todas as propostas para transformar a União Soviética através de reformas.

"Kravchuk estava concentrado na independência da Ucrânia", afirmou Shushkevich, em uma entrevista no ano passado. "Ele estava orgulhoso pela Ucrânia ter declarado sua independência em um referendo e o eleger presidente em 1º de dezembro de 1991."

Kravchuk (2º a esq.) e lideres de Belarus e Rússia, formalizam fim da União Soviética em dezembro de 1991
Kravchuk (2º a esq.) e lideres de Belarus e Rússia, formalizam fim da União Soviética em dezembro de 1991Foto: Novisti/AFP/Getty Images

Kravchuk concordou em transferir as armas nucleares soviéticas que se encontravam em território ucraniano para o controle da Rússia, em um pacto apoiado pelos Estados Unidos.

Em janeiro de 1994, ele assinou um acordo com o presidente americano, Bill Clinton, que assegurava 1 bilhão de dólares em compensações, depois de abrir mão do terceiro maior arsenal nuclear da era pós-soviética.

Como presidente, ele deu início à aproximação do país com a Europa Ocidental, ao assinar o primeiro acordo de cooperação com a União Europeia.

Em 1994, com o país afundado em uma crise econômica e em meio a escândalos de corrupção, ele não conseguiu se reeleger, sendo derrotado nas urnas pelo ex-primeiro-ministro Leonid Kuchma. Kravchuk foi acusado de "saquear" o país. Após a derrota, ele permaneceu como membro do Parlamento até 2006.

Inflexível com Moscou

Em julho de 2020, ele voltou à política como representante da Ucrânia no grupo de contato que buscava uma solução para o conflito no Donbass, no leste do país, onde se localizam as províncias separatistas de Donetsk e Lugansk.

Sempre com um posicionamento inflexível em relação a Moscou, ele disse que não esperava nada da Rússia, cujo objetivo era "destruir a Ucrânia".

Desde a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, e do início da insurgência dos grupos separatistas no Donbass, o presidente russo, Vladimir Putin, vem tentando colocar em dúvida a legitimidade do Estado ucraniano, retratando o país como uma construção artificial do antigo regime comunista.

Pouco antes do início da invasão russa ao país vizinho, em fevereiro, Putin culpou "erros estratégicos históricos" de antigos líderes comunistas pela queda do Estado soviético.

Ele disse que "desde o momento da independência", a Ucrânia se voltou para Moscou diversas vezes para pedir recursos financeiros, em uma aparente alusão ao governo de Kravchuk.

Zelenski lamenta morte

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, lamentou a morte do ex-líder. Ele lembrou que o Kravchuk compreendia os horrores da guerra, por ter vivido quando criança sob a ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

"Ele desejava a paz para a Ucrânia com todo o seu coração", disse Zelenski. "Estou certo de que faremos com que isso aconteça, atingiremos nossa vitória e nossa paz."

rc (AFP, Lusa, Reuters, AP)