Zelenski pede ações imediatas contra crise alimentar global
10 de maio de 2022Dois meses e meio após o início da guerra na Ucrânia, o presidente do país, Volodimir Zelenski, apelou à comunidade internacional para que ajude imediatamente a acabar com um bloqueio russo a portos ucranianos, de modo a permitir o transporte de grãos e, assim, evitar uma crise alimentar global.
Zelenski fez as declarações após conversar sobre a questão com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que visitou a cidade ucraniana de Odessa, onde fica o maior porto no Mar Negro para exportação de produtos agrícolas e que foi atingida por mísseis nesta segunda-feira (09/05).
Segundo Zelenski, ele e Michel discutiram "medidas imediatas para desbloquear os portos da Ucrânia para exportação de grãos".
"Pela primeira vez em décadas, não há um movimento regular da frota mercantil. Isso provavelmente nunca ocorreu em Odessa desde a Segunda Guerra Mundial", disse em mensagem em vídeo.
"E isso é um golpe não só para a Ucrânia. Sem nossas exportações agrícolas, dezenas de países em diferentes partes do mundo já estão à beira da escassez de alimentos. E com o tempo, a situação pode se tornar terrível", prosseguiu.
"Isso é uma consequência direta da agressão russa, que só pode ser superada em conjunto – por todos os europeus, por todo o mundo livre. Só pode ser superada pressionado a Rússia, forçando efetivamente a Rússia a parar com esta guerra desgraçada", disse.
No Telegram, Zelenski havia dito que "medidas imediatas devem ser tomadas para desbloquear os portos ucranianos para a exportação de trigo", sem especificar a que tipo de medidas se referia.
Após fazer uma visita surpresa a Odessa nesta segunda-feira, o presidente do Conselho Europeu – do qual fazem parte os chefes de Estado ou de governo dos 27 países-membros da UE e a presidente da Comissão Europeia –, disse ter visto silos cheios de trigo e milho prontos para serem exportados, mas bloqueados.
"Esses alimentos tão necessários estão retidos por causa da guerra e do bloqueio aos portos no Mar Negro, provocando dramáticas consequências para países vulneráveis. Precisamos de uma resposta global", escreveu Michel no Twitter.
Importante exportador de grãos
Antes da guerra, a Ucrânia exportava 4,5 milhões de toneladas de produtos agrícolas por mês através de seus portos – 12% do trigo mundial, 15% do milho e 50% do óleo de girassol, segundo a agência de notícias AFP.
Mas a invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro, abalou a capacidade de exportação ucraniana, com a destruição de infraestrutura de transporte e o bloqueio à cidade portuária de Odessa. E o conflito levou a uma alta do preço dessas commodities agrícolas.
A Ucrânia foi o quarto maior exportador de milho do mundo na temporada 2020/21 e o sexto maior exportador de trigo, de acordo com os dados do Conselho Internacional de Grãos. Mas quase 25 milhões de toneladas de grãos estão agora retidas no país, segundo a ONU.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU apelou na semana passada para a reabertura dos portos na região de Odessa, afirmando que centenas de milhões de pessoas no mundo dependem do fornecimento de grãos pela Ucrânia.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a segurança alimentar não pode ser garantida mundo afora sem a restauração da produção ucraniana para o mercado mundial.
Ajuda à Ucrânia
Moscou diz que sua "operação militar especial" na Ucrânia foi projetada para desarmar e desnazificar o país vizinho, o que a Ucrânia e o Ocidente classificam como um falso pretexto para uma guerra de agressão.
Os países da Otan, incluindo os EUA, descartaram uma intervenção armada na Ucrânia por temores de desencadear uma guerra de maiores proporções.
Nesta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sancionou uma lei que reavivou um programa utilizado durante a Segunda Guerra Mundial, que ajudou a derrotar a Alemanha nazista, para agilizar a ajuda à Ucrânia. A estratégia chamada lend-lease ("empréstimo e arrendamento"), aprovada por democratas e republicanos, permite a transferência rápida de equipamentos militares e outros recursos para Kiev.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que visitou Kiev no último domingo, afirmou que seu país ajudaria a Ucrânia a encontrar opções para exportar grãos armazenados.
lf (Reuters, AFP, ots)