Morre Justus Rosenberg, herói da luta contra o nazismo
19 de novembro de 2021"Justus era uma das últimas testemunhas oculares do Holocausto. Como membro da Resistência Francesa, ele era também um herói na luta contra o fascismo”, afirmou o presidente da Faculdade Bard, Leon Botstein, em uma carta em homenagem a seu ex-colega escrita após a sua morte.
Justus Rosenberg encerrou sua carreira como professor emérito de línguas e literatura na Faculdade Bard, uma instituição liberal de artes no estado de Nova York. Ele morreu no dia 3 de outubro, informou o jornal New York Times nesta quinta-feira (18/11).
Rosenberg nasceu em 1921 na atual Gdansk, na Polônia, que na época se chamava Cidade Livre de Danzig, uma cidade-estado semiautônoma que existiu entre 1920 e 1939.
As leis raciais daquele tempo fizeram com que ele fosse expulso da escola, por ser filho de judeus. Ele acabaria sendo enviado para estudar em Paris e, mais tarde, se matricularia na Sorbonne.
Refúgio em Marselha
Quando os nazistas tomaram Paris em 1940, Rosenberg fugiu da cidade, assim como milhares de pessoas, e conseguiu chegar a Marselha.
"À época, o Comitê Americano de Resgate, fundado nos Estados Unidos, enviou para Marselha um cavalheiro de nome Varian Fry, com 3 mil dólares nos bolsos”, conta Rosenberg em um vídeo publicado pelo Comitê Internacional de Resgate.
Fry possuía uma lista de nomes de pessoas que, potencialmente, estariam sob ameaça do regime de Adolf Hitller. O plano era retirá-los sigilosamente do território nazista. "Eu era um mensageiro”, diz Rosenberg no vídeo.
"Cumpria tarefas, mas, estas não eram tarefas comuns. Era andar com documentos falsos, dinheiro, vários documentos, para tentar levá-los aos refugiados que buscavam escapar da Alemanha ocupada”, afirmou.
Naquela época, Rosenberg aparentava ser muito mais jovem do que a sua idade real. Ele era loiro e de aparência germânica, portanto não era parado com frequência pelos soldados para verificarem seus papéis.
Em suas próprias palavras: "eu tinha um ar tão inocente e angélico naquele tempo”. No vídeo, o professor confessa que ele nem sempre estava ciente dos riscos que corria. Para ele, era mais uma questão de aventura e romance.
Entre as muitas pessoas que Rosenberg ajudou a fugir estavam a filósofa Hanna Arendt, o pintor Marc Chagall, os escritores Heinrich Mann, Golo Mann e Franz Werfel, cuja esposa, Alma, era viúva do compositor Gustav Mahler.
No total, as operações do jornalista americano Varian Fry ajudaram 1,5 mil pessoas a escaparem dos nazistas. Mas, os resgates foram interrompidos em 1941, após serem expostos e expulsos pelo governo colaboracionista e antissemita de Vichy, liderado pelo marechal Philippe Pétain.
Rosenberg foi deixado aos seus próprios cuidados e conseguiu escapar de ser mandado para um campo de trabalhos forçados na Polônia. Ele aderiu a Resistência Francesa e lutou ao lado dos americanos na invasão da Normandia.
Após o fim da guerra e a capitulação do regime nazista, Rosenberg trabalhou em um campo de refugiados administrado pela ONU.
Herói relutante
Mais tarde, ele voltou a estudar na Sorbonne e foi para os Estados Unidos em 1946, onde completou seu doutorado e lecionou línguas e literatura na Faculdade Swarthmore e, mais tarde, na Bard.
Em 2020, ele publicou um livro de memórias intitulado A arte da resistência: meus quatro anos na clandestinidade francesa. Ao New York Times, a esposa de Rosenberg, Karin, que conheceu o marido nos anos 1980, disse que durante muitos anos nada soube de seus atos heroicos. "Oh, eu não queria me gabar”, disse-lhe, certa vez.
"Eu acredito que ele era um herói, mas ele não queria pensar assim de si mesmo. Em seu entendimento, ele apenas fez o que precisava ser feito”, disse Karin.
"Foi um milagre Justus ter cumprido a famosa saudação de aniversário de seu país de nascimento, que fala em ‘100 anos de vida'”, disse Botstein, o presidente da Bard. Ele se referia à canção polonesa de aniversário Sto Lat, o que significa, "que você viva por 100 anos”.
"Justus alcançou essa marca, contra todas as expectativas. Na Polônia, pouco menos de 3 milhões de judeus – quase 90% de todos os judeus poloneses – foram assassinados entre 1939 e 1945”, acrescentou Botstein.
rc (DW, DPA)