Já faz algum tempo que o Borussia Dortmund é conhecido como um clube que lapida jovens talentos. Basta lembrar jogadores como o goleiro Eike Immel, o meia ofensivo Lars Ricken, além de Nuri Sahin, Christian Pulisic e Mario Götze, entre muitos outros. Todos tinham algo em comum: estrearam no time profissional aurinegro com apenas 17 anos de idade.
Não é de estranhar, portanto, que, para a próxima temporada da Bundesliga, o elenco comandado por Lucien Favre esteja apinhado de adolescentes sedentos por mostrar ao mundo do futebol a sua extraordinária intimidade com a bola.
A política de contratações que busca garimpar jovens talentosos deve-se a Michael Zorc, diretor de esportes do clube. Há uma semana ele anunciava orgulhosamente que o talento inglês Jadon Sancho, de apenas 20 anos, ficaria pelo menos por mais uma temporada defendendo as cores do Dortmund. E, assim, Zorc encerrava especulações quanto à eventual transferência do jogador para o futebol inglês. Alguns dias depois do anúncio, veio a público a informação de que o contrato de Sancho com os aurinegros havia sido prorrogado até 2023.
É inegável a importância de Sancho para o atual vice-campeão alemão. Na temporada passada, ele marcou 17 gols, além de dar 16 assistências, e poderá acoplar sua proverbial eficiência e seu instinto matador a uma provável liderança sobre a molecada que está chegando ao elenco.
O próprio Sancho já se manifestou a respeito: "Eu sei como é quando a gente chega dos times de base e, de repente, passa a fazer parte da equipe profissional. Vou tentar ajudar essa turma. Mostrar o que é bom e o que não é”, declarou logo após os amistosos contra o Altach e o Austria Viena, que terminaram com estonteantes goleadas de 6 x 0 e 11 x 2, respectivamente. Nesses dois jogos, além de Sancho, outros jovens valores brilharam.
Foi o caso de Jude Bellingham, de 17 anos, contratado no começo do mês por 23 milhões de euros pagos pelo Borussia ao Birmingham. Especialistas são unânimes em afirmar que o meio-campista terá um grande futuro, não apenas no clube, mas também na seleção da Inglaterra. Bellingham assinou um contrato com o Dortmund até 2023 e terá tempo de sobra para se adaptar à Bundesliga. Uma coisa, porém, é certa: pelo que já mostrou nos dois amistosos, logo, logo Bellingham vai reforçar o time titular.
Outro diamante em lapidação é Giovanni Reyna, também de apenas 17 anos e que está há um ano no clube, onde atuou pelo time sub-19 em 11 partidas, tendo marcado quatro gols e dado sete assistências. É um meia ofensivo de enorme potencial, demonstrado à exaustão inclusive na seleção sub-19 dos Estados Unidos. O técnico Lucien Favre percebeu isso, e Reyna já estreou na Bundesliga com o time principal. Atuou em 15 partidas, entrando em campo sempre no segundo tempo. Na nova temporada, deverá desempenhar um papel mais importante na equipe titular.
O caso mais espetacular dessa nova geração de valores talvez seja o de Youssoufa Moukoko, de apenas 15 anos, centroavante de dupla nacionalidade. Nasceu em Camarões e foi trazido pelo pai à Alemanha em 2014. Passou pelo time juvenil do St. Pauli e desde 2017 integra os times de base dos aurinegros. É titular na equipe sub-19, na qual em 20 jogos marcou 34 gols. Em novembro, vai completar 16 anos e se juntará ao time principal, mas por enquanto, será só para treinar com os profissionais. Sem esquecer que é titular absoluto na seleção alemã sub-16, onde em quatro jogos marcou três gols.
O atual centroavante titular Erling Haaland (20 anos) está impressionado com Moukoko: "Em toda a minha vida, jamais vi um jogador que, com apenas 15 anos, esbanjasse tanto talento. Estou até me achando velho quando vejo essa molecada dando show de bola”, brincou.
Sancho, Haaland, Reyna, Bellingham e Moukoko – um quinteto ofensivo que vai dar o que falar. A torcida do Borussia Dortmund já pode se preparar para as muitas alegrias que essa jovem molecada vai lhe proporcionar.
Lucien Favre, estrategista por excelência, sabe disso e, entusiasmado depois das duas goleadas, exclamou: "São muito jovens, mas jogaram como se fossem muito experientes. Poderíamos ter feito até mais gols.”
O treinador sabe também que, em sua terceira temporada no clube, com o material humano à sua disposição, terá a obrigação de levar a equipe à conquista de um título importante, mesmo porque o seu contrato vence em junho de 2021. Desde que Favre chegou ao clube, em 2018, o Borussia Dortmund venceu apenas a Supercopa alemã em 2019.
A última conquista numa competição relevante foi em 2017, quando, ainda sob o comando de Thomas Tuchel, o time conquistou a Copa da Alemanha. Desde então, saiu de mãos abanando de qualquer uma das três grandes competições que disputou. Está nas mãos de Favre mudar essa sina.
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br