Religião
10 de julho de 2007O presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), Hans Joachim Meyer, declarou-se cético quanto à reabilitação da antiga missa em latim através do "Motu Proprio" Summorum Pontificum, assinado pelo papa Bento 16, no sábado (07/07).
Através do "Motu Proprio" (documento publicado por sua própria iniciativa), Bento 16 reabilita a celebração da missa seguindo o antigo ritual do Concílio de Trento (1545-1563).
Se um número "estável" de fiéis assim desejar, já a partir de 14/09 próximo, fica permitida a celebração da antiga missa em sua versão mais recente, ou seja, na forma que tinha antes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano 2° (1962-1965), em vigor a partir de 1970.
A celebração comum, na respectiva língua dos fiéis, continua sendo a regra. A antiga celebração, rezada em latim com o padre voltado com as costas para os fiéis, somente era possível, até agora, através de autorização especial.
Conservadores satisfeitos
Enquanto em meios conservadores o novo decreto é celebrado como forma de reconciliação com os tradicionalistas, Hans Joachim Meyer afirma que a grande maioria dos católicos alemães prefere a missa realizada em seu idioma vernáculo.
"No Império Romano, os apóstolos não pregaram a palavra de Cristo em aramaico (língua de Jesus), mas sim em latim ou grego", afirmou Mayer.
Já o conservador Fórum dos Católicos Alemães declarou estar satisfeito com a decisão de Bento 16, pois representaria uma reconciliação com os adeptos do bispo Marcel Lefèbvre, arcebispo católico francês excomungado em 1988, que se opôs às reformas do Concílio Vaticano 2°.
Reabilitação de Marcel Lefèbvre?
A ação iniciada pela fraternidade sacerdotal S. Pio 10°, fundada por Lefèbvre, informou que mais de mil padres em regiões de língua alemã estariam dispostos a celebrar a missa no antigo ritual.
Segundo Rainer Kampling, professor de Teologia católica na Universidade Livre de Berlim, existiriam cerca de 300 mil católicos adeptos do antigo rito. "Não é comum que se façam concessões a um grupo tão pequeno de fiéis", afirmou Kampling. Além disso, seria questionável se uma reconciliação com tal grupo seria possível. Para muitos tradicionalistas, somente a reabilitação da antiga missa não seria suficiente.
O texto papal não é claro, afirmou Rampling. A Conferência dos Bispos Alemães parte do princípio, por exemplo, que o antigo ritual não deve ser celebrado na Sexta-feira Santa, pois conteria passagens anti-semitas, o que vem gerando protestos de organizações judaicas, como a norte-americana Liga Antidifamação.
Bispos preocupados
Em declaração publicada na página de internet da Conferência dos Bispos Alemães, o presidente da Conferência, cardeal Karl Lehmann, afirma que a iniciativa de Bento 16 prestaria uma contribuição à reconciliação na Igreja.
No entanto, segundo o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), o bispo teria enviado uma carta ao papa para tentar evitar a completa reabilitação do ritual tridentino. Em sua edição de segunda-feira (09/07), o FAZ afirma que o cardeal Karl Lehmann, juntamente com seu colega francês, o cardeal Jean-Pierre Ricard, teria se dirigido a Bento 16 pelo temor de possíveis tensões que a decisão papal pode vir a criar nos bispados e paróquias.
Além disso, o jornal afirma que, para Lehmann, a reabilitação proposta pelo documento papal tornaria questionáveis as reformas introduzidas pelo Concílio Vaticano 2°. A Conferência dos Bispos confirmou, na segunda-feira (09/07) em Bonn, o envio da carta, mas não seu conteúdo. (ca)