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Jovens alemães distanciam-se da Igreja

Carola Hossfeld (gh)10 de agosto de 2005

Encontro mundial da juventude não espelha a realidade religiosa alemã e européia. Organizações ecológicas ou de defesa dos direitos humanos têm mais prestígio entre os jovens alemães do que a Igreja.

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Jovem rezando: cena cada vez mais rara na AlemanhaFoto: dpa


A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que este ano acontece na Alemanha, foi idealizada pelo papa João Paulo 2º em 1985 como meio de uma "nova evangelização, um instrumento para fortalecer os jovens católicos". A mensagem central do megaevento é: "Os jovens são o futuro da Igreja, e a Igreja é jovem".

Sem dúvida, os jovens são o futuro. Mas há motivos para duvidar que a Igreja seja jovem, pelo menos na Europa Ocidental. Pesquisas na Alemanha indicam que a juventude pouco tem a ver com a Igreja.

A Igreja Católica alemã passa por apertos financeiros e sofre uma evasão contínua de fiéis. São pouquíssimos os alemães que têm idéia do que os cristãos crêem. O 13º Estudo Shell sobre a Juventude, realizado em 2000, revelou que a religião praticamente está ausente do cotidiano.

"Igreja elitista"

Galerie Weltjugendtag Segnung Papsthügel für den Weltjugendtag 2005
'Elitismo do clero é repugnante'Foto: dpa - Bildfunk

Muitos têm apenas noções vagas do conteúdo da religião cristã. Apenas 65% dos 82 milhões de alemães pertencem a alguma Igreja. Dependendo da pesquisa, entre 4 e 6% dos jovens alemães ainda freqüentam um culto dominical – e isso apenas esporadicamente.

"A Igreja institucionalizada é elitista e alienada do mundo. Ela faz seu próprio negócio, sem realmente se preocupar com as pessoas. Ela está distante do povo", diz a jovem Katrin, de Colônia.

Essa sensação é confirmada pelo Estudo Shell. "A instituição Igreja – não os padres isoladamente, mas os bispos, cardeais e sua presença na sociedade – é altamente repugnante para os jovens", afirma Reiner Münchmeier, um dos autores da pesquisa.

Os jovens, acrescenta Münchmeier, têm a impressão de que as igrejas não assumem posições. Elas são percebidas como organizações incapazes de dizer um "sim" ou "não" claro sobre temas referentes à juventude. Ainda há um certo reconhecimento de valores cristãos como o engajamento social, mas organizações ecológicas ou de defesa dos direitos humanos têm mais prestígio do que as igrejas.

Tendência ao sincretismo

Há uma certa tendência religiosa entre os adolescentes, mas as instituições não lhes dizem nada. Eles constroem sua própria fé particular. O padre Gregor Giele, do bispado de Dresden-Meissen, tenta explicar com a psicologia do desenvolvimento a tendência ao sincretismo religioso na Europa Ocidental e Alemanha.

"Os jovens hoje estão mais estressados do que antigamente. Mas nós interpretamos o estresse erroneamente como acúmulo de compromissos. O estresse, na verdade, é uma tensão psíquica interna, especialmente alta na juventude. E ela é agravada hoje pelo fato de que o jovem tem de construir e organizar sozinho sua própria vida. A sociedade moderna lhe oferece uma infinidade de possibilidades. A família ou o meio não estabelecem mais regras, de modo que ele precisa escolher", explica Giele.

Isso vale mais para jovens com orientação cristã do que para jovens muçulmanos na Alemanha, que recorrem às doutrinas tradicionais. As ofertas religiosas são sondadas e, dependendo da situação de vida, integradas na própria visão de mundo.

"A vida é mais que dinheiro"

Weltjugendtag in Toronto 2002 - Galerie
JMJ 2002 em Toronto: fé como megaeventoFoto: AP

Segundo Giele, a competência desenvolvida para lidar com outros aspectos da vida também é usada para lidar com a religião. "O jovem serve-se do grande pool das religiões cristãs, do mundo religioso, e constrói um sentido próprio para a vida."

De acordo com o Estudo Shell, a maioria dos jovens diz que a vida tem de ser mais do que a caça ao dinheiro e o reconhecimento profissional. Convicções religiosas particulares são preferidas à religiosidade institucionalizada. Acredita-se num destino, num poder superior. Mas isso não tem nada a ver com a doutrina das igrejas.

A Jornada Mundial da Juventude em Colônia é apenas um exemplo de que a fé é vivida como evento. Em alguns casos, isso tem efeito sustentável, como adrenalina para a autoconfiança de jovens cristãos numa sociedade descristianizada.

"O jovem normal da comunidade é o que mais se alegra por esse acontecimento de um grande encontro da fé, porque não vivencia isso no seu dia-a-dia. Ele espera que o evento o fortaleça para poder agir como cristão na escola, na profissão, in loco. Essa é a motivação principal", diz Giele.

Prevê-se que a Jornada Mundial da Juventude reunirá a maior multidão na história da Alemanha, mas não conseguirá "converter" os jovens alemães e europeus ocidentais para a linha do Vaticano. Em questões como o uso de camisinha ou nos temas relacionados à sexualidade, os jovens têm suas próprias visões. "Religião sim, doutrinação não", diz Katrin.