Milhares saem às ruas em Hong Kong contra lei chinesa
24 de maio de 2020A polícia de Hong Kong disparou gás lacrimogêneo e canhões de água contra manifestantes em um popular distrito de compras neste domingo (24/05), quando milhares saíram às ruas em protesto contra um projeto de lei da China que pode minar a autonomia do território semiautônomo.
Apoiadores do movimento pró-democracia criticaram fortemente a proposta chinesa de uma nova lei de segurança que visa aumentar os mecanismos de controle de Pequim sobre Hong Kong. Eles alegam que o projeto vai contra a estrutura de "um país, dois sistemas", que garante liberdades no território não promovidas na China continental.
A proposta prevê que Hong Kong adote em sua Lei Básica normas para proibir e punir "qualquer ato de traição, separação, rebelião e subversão" contra o Estado chinês, além da interferência estrangeira na região ou atos que colocariam em risco a segurança nacional.
Como já se esperava após a apresentação do projeto de lei na sexta-feira, multidões de manifestantes vestidos de pretos se reuniram no distrito de Causeway Bay neste domingo, entoando slogans como "libertem Hong Kong", "independência de Hong Kong é a única saída e "a revolução dos nossos tempos".
"As pessoas poderão ser processadas pelo que dizem ou escrevem contra o governo", disse um manifestante de 25 anos, citado pela agência AFP, referindo-se ao projeto de lei.
O protesto deu seguimento a um forte movimento pró-democracia que emergiu no ano passado em Hong Kong, com manifestações que muitas vezes terminaram em confrontos violentos entre policiais e manifestantes. O movimento acabou enfraquecido nos últimos meses.
Neste domingo, a polícia teria primeiro levantado bandeiras azuis pedindo que os participantes do ato se dispersassem, mas acabou disparando várias rodadas de gás lacrimogêneo. Mais tarde, agentes lançaram canhões de água contra os manifestantes.
Em rede social, a polícia afirmou que alguns dos presentes jogaram tijolos e lançaram líquido não identificado contra os agentes, ferindo ao menos quatro deles.
Em outra postagem, a corporação informou que ao menos 120 pessoas foram detidas durante o protesto, a maioria por reunião ilegal. Um dos presos foi Tam Tak-chi, um ativista do Partido do Poder Popular, segundo o jornal South China Morning Post.
Tam foi levado por agentes depois de conduzir o que chamou de uma "palestra sobre saúde" do lado de fora de uma loja em Causeway Bay, o que lhe deixaria isento das regras de distanciamento social impostas no território. As medidas atuais proíbem reuniões de mais de oito pessoas.
O Congresso Nacional da China revelou na última sexta-feira detalhes sobre seu projeto de lei de segurança nacional para Hong Kong, anunciado por Pequim. A proposta permitirá ao governo chinês estabelecer agências de segurança nacionais no território semiautônomo, e obrigará o chefe do Executivo da região administrativa a enviar relatórios à China regularmente.
O projeto insta ainda Hong Kong a concluir a aprovação de sua própria legislação de segurança nacional. Além disso, as instituições administrativas, legislativas e judiciais do território devem coibir e punir atos considerados prejudiciais à segurança nacional.
Hong Kong também poderá criar uma agência dedicada à segurança nacional atrelada à miniconstituição do território autônomo, a chamada Lei Básica.
Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, defendeu que a lei de segurança seja aplicada o mais rápido possível. "É imperativo que a lei de segurança nacional de Hong Kong e o seu mecanismo de implementação sejam aplicados sem demora", disse Wang em entrevista coletiva na sede do Parlamento chinês, em Pequim.
"Os atos violentos e terroristas continuam aumentando, e as forças estrangeiras interferiram profunda e ilegalmente nos assuntos de Hong Kong", afirmou Wang, considerando tratar-se de "uma séria ameaça à prosperidade, a longo prazo", daquele território.
EK/afp/ap/dpa/rtr/lusa
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