"Meu envenenamento foi um aviso", diz membro do Pussy Riot
30 de setembro de 2018O russo Pyotr Verzilov, ativista do grupo de anti-Kremlin Pussy Riot, tornou-se famoso como um dos quatro falsos policiais que em julho último invadiram o gramado do estádio Luzhniki, em Moscou, perturbando a final do Mundial de futebol.
Em 11 de setembro, poucas horas após uma audiência de tribunal, ele apresentou distúrbios motores, de visão e fala, acabando por perder a consciência. Inicialmente atendido num hospital da capital russa, foi transportado para Berlim, a pedido de sua família e com apoio da iniciativa social privada Cinema for Peace, para tratamento no Hospital Charité.
Verzilov parte do princípio que foi envenenado pelo GRU, o serviço secreto militar da Rússia, devido a suas atividades investigativas, hipótese considerada "plausível" dos médicos alemães, que o diagnosticaram com síndrome anticolinérgica (relativa a substâncias que bloqueiam os neurotransmissores do sistema nervoso central e periférico).
Na última quarta-feira (26/09), o ativista recebeu alta, e desde estão se encontra sob proteção policial.
DW: Como está se sentindo, agora?
Pyotr Verzilov: Comparado com a semana passada, quando eu estava inconsciente e não entendia o que estava se passando, é claro que houve um bom progresso. Mas eu não estou realmente bem, não participaria de uma maratona, ou algo assim. Continuo tendo problemas de visão. É estranho, não consigo nem ler de óculos, nem ver bem nítido.
Então, ainda há uns impedimentos. Mas em princípio esse gás dos nervos provavelmente só teve efeitos bem passageiros e depois desapareceu. É o que muitos supõem, foi o que vimos acontecer comigo.
Tudo indica que a sua vida está em perigo. Tem medo de voltar para a Rússia?
Não, definitivamente não tenho medo. Acho que a Rússia precisa das pessoas mais fora do comum. Nós não temos medo de nada. Enquanto em Berlim faz sentido andar protegido por guarda-costas, em Moscou isso é inútil, pois quem quer lhe fazer mal consegue, mesmo assim. Então, se você faz política de oposição na Rússia, precisa estar preparado para tudo.
No momento você está sob proteção policial?
Sim. Quando eu saio ou encontro alguém, eles me acompanham.
Qual você acha que foi o motivo principal do seu envenenamento?
Acho que o mais importante foi nos avisar para não mergulharmos fundo demais no que aconteceu na África [Na República Centro-Africana, três jornalistas russos foram mortos em julho, sob circunstâncias não esclarecidas]. Trabalhar com veneno se transformou numa espécie de linguagem. E eu acho que a história na África foi o motivo principal.
O motivo não terá sido você ter invadido o campo na final da Copa do Mundo para protestar contra a repressão?
Pode ser. Mas nós todos vimos que nos últimos meses a polícia moscovita tentou fazer passar essa norma para poder nos colocar na prisão por mais 15 ou 30 dias. E não conseguiu, a cada vez o tribunal em Moscou mandou os papéis de volta, dizendo: "Não podemos trabalhar com isso."
Você não publicou nenhum relatório das suas investigações sobre a morte dos jornalistas russos na República Centro-Africana, mas diz que tem novas informações. Quando vai divulgá-las?
Depende do que vamos fazer na segunda fase das pesquisas, e se sequer vamos começar uma segunda fase. Pois se nós divulgarmos as informações agora, isso pode dificultar as investigações.
Você gostaria de permanecer em Berlim? Com toda a liberdade criativa aqui, poderia desenvolver bastante ativismo artístico.
O ativismo artístico é especialmente importante na Rússia, devido à nossa realidade política e social, que é especial. Aqui na Alemanha tem bilhões de maneiras de se engajar politicamente, de mudar alguma coisa, de se expressar artisticamente. O nosso ativismo se baseia na falta de possibilidades de nos expressarmos, no Ocidente há um monte delas.
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