Merkel ataca candidato social-democrata em discurso
7 de setembro de 2021A chanceler federal alemã, Angela Merkel, elogiou nesta terça-feira (07/09) o candidato de seu partido, Armin Laschet, como a melhor escolha para sucedê-la, num momento em que as pesquisas mostram sua popularidade em queda a poucas semanas da eleição.
Laschet, o candidato a chanceler do bloco conservador de Merkel – formado por União Democrata Cristã (CDU) e seu partido irmão da Baviera, a União Social Cristã (CSU) –, foi por muito tempo o favorito para ser o próximo chefe de governo alemão, mas seus índices despencaram após uma série de erros de campanha.
O líder na corrida agora é o vice-chanceler e ministro das Finanças, Olaf Scholz, embalado nas últimas semanas antes da votação de 26 de setembro pela alta nas pesquisas do seu Partido Social-Democrata (SPD).
"Essa é uma eleição especial, não apenas porque nenhum chanceler em exercício está concorrendo à reeleição pela primeira vez desde 1949", disse Merkel no último debate parlamentar antes das eleições e no que provavelmente foi seu último discurso como chanceler federal no Parlamento alemão.
"Também é uma eleição especial porque é uma decisão sobre os rumos do nosso país em tempos difíceis – e não é irrelevante quem governa este país", acrescentou.
"O melhor caminho para nosso país é um governo liderado por CDU/CSU, com Armin Laschet como chanceler, porque seu governo representaria estabilidade, confiabilidade, moderação e centrismo."
Conservadores em queda
Merkel, que deixa o cargo e se aposenta após 16 anos no poder, não se envolveu na disputa para escolher um candidato de seu partido nas eleições. Mas após os conservadores terem despencado nas pesquisas, amargando seu nível de popularidade mais baixo no período do pós-guerra, o partido agora está encorajando tantas aparições conjuntas quanto possível entre Merkel e Laschet.
Uma pesquisa para a emissora NTV publicada nesta terça-feira mostrou a aliança conservadora com apenas 19%, com o SPD na frente, com 25%, e os verdes em terceiro, com 17%.
O bloco CDU/CSU obteve 33% dos votos na última eleição parlamentar alemã, em 2017, que reelegeu Merkel.
A líder alemã, que continua imensamente popular entre os eleitores, apareceu ao lado de Laschet em uma cúpula digital na segunda-feira, e também o acompanhou no fim de semana em uma excursão por duas cidades duramente atingidas por enchentes em julho.
Na Renânia do Norte-Vestfália, onde Laschet é governador, Merkel disse a repórteres que ele estava "liderando com muito sucesso o maior estado da Alemanha".
A resposta de Laschet às enchentes em seu estado marcou o início da queda vertiginosa de popularidade para o político de 60 anos, depois que ele foi pego pelas câmeras rindo ao lado de autoridades locais durante um tributo às vítimas das enchentes.
Scholz sob pressão
Se a sorte da aliança CDU/CSU não melhorar logo, ela pode ter que deixar o governo em favor de uma aliança liderada pelo SPD – provavelmente em coalizão com o Partido Verde e o Partido Liberal Democrata (FDP) ou com os socialistas do partido A Esquerda.
Scholz está sob pressão para descartar uma cooperação com A Esquerda, que se recusa a reconhecer a Otan e votou contra a recente missão de resgate dos militares alemães no Afeganistão.
"Temos que trabalhar por uma Europa forte e soberana, que é capaz de cuidar de seus próprios assuntos com suas próprias mãos", afirmou Scholz, ressaltando que isso "só seria possível dentro da Otan".
Em seu discurso no Parlamento, Merkel também pediu que os eleitores não escolham uma coalizão de esquerda. "Os cidadãos terão a escolha entre um governo do SPD e dos verdes que aceita o apoio do partido A Esquerda – ou que pelo menos não o descarta – e um governo federal que conduz nosso país ao futuro com moderação e equilíbrio", disse a governante.
Tom incomum
O tom da chanceler é incomum já que durante seus discursos no Bundestag nos últimos anos, Merkel sempre fez questão de enfatizar a harmonia com seu atual parceiro de coalizão, o SPD de Scholz.
Merkel expressou críticas diretas a seu vice-chanceler. "É claro que nenhum de nós era e é, de forma alguma, uma cobaia", disse, referindo-se às declarações feitas por Scholz durante a campanha eleitoral. Ela afirmou que cada pessoa vacinada recebeu uma vacina suficientemente testada e que os políticos devem convencer as pessoas a se vacinarem "e não argumentar com imagens tortas".
Na semana passada, Scholz disse em uma entrevista de rádio que "50 milhões já foram vacinados duas vezes", acrescentando: "Todos fomos cobaias para aqueles que esperaram até agora. Portanto, como um desses 50 milhões, eu digo – foi tudo bem. Por favor, junte-se a nós".
Em seu discurso no Parlamento, logo após Merkel, Scholz defendeu sua declaração à rádio, argumentando ser preciso convencer a população da vacinação de forma descontraída e também com piadas, de que muitos riem, segundo ele.
"Se alguns não querem rir e ficam irritados com isso, talvez isso tenha a ver com o fato de que eles têm pouco do que rir quando olham para suas pesquisas", alfinetou o social-democrata.
md/ek (AFP, Lusa, DPA)