Maximilian Schell, um dos maiores atores de língua alemã
3 de fevereiro de 2014Maximilian Schell foi um homem de muitos talentos. Dominava os palcos, assim como o fazia diante e atrás das câmeras. Ele ficou marcado na memória como o advogado de um criminoso de guerra nazista no filme O julgamento de Nurembergue, que lhe rendeu um Oscar em 1962. Para Schell, o resgate crítico da era nacional-socialista foi de grande importância em toda a sua vida de emigrante.
Schell gostava de se apresentar com grandes gestos, de forma inquieta e educada, com muito charme e numa eterna busca. "Na verdade, eu não tenho nenhuma profissão. Ando pela vida e por todas as esferas da arte", disse certa vez a jornalistas.
Seu lugar preferido era atrás das câmeras ou na sala de teatro – como diretor. Já aos 23 anos ele deu início à carreira artística: no teatro de comédia, em Basileia. Entre 1954 e 1957, trabalhou em Bonn, Munique, Berlim e no Festival de Salzburgo, onde mais tarde iria voltar várias vezes ao palco no clássico papel de Jedermann.
Maximilian Schell nasceu em Viena, em 8 de dezembro de 1930. Seu pai foi poeta e dramaturgo; sua mãe, Margarethe Noé von Nordberg, atriz. Após a anexação da Áustria pela Alemanha nazista, a família emigrou para a Suíça. Ali, ele cresceu no mundo do teatro –seus três irmãos se tornaram atores mais tarde. Aos 11 anos, ele interpretou seu primeiro papel importante: o filho de Guilherme Tell, que viu uma seta ser disparada numa maça sobre sua cabeça.
Carreira cinematográfica internacional
Em 1957, em Os jovens leões, seu primeiro filme internacional, Schell contracenou com Montgomery Clift e Marlon Brando. Na época, ele não falava bem inglês, mas aprendeu rapidamente nos ensaios com Brando.
"Fiquei feliz de conseguir um papel em Hollywood", admitiu Schell em retrospecto, mas não sem um toque de orgulho e autoconfiança. "De qualquer forma, a crítica americana escreveu na época que não foram as estrelas que teriam desempenhado o melhor papel, mas que 'Maximilian Schell transformou uma ponta num grande papel'."
Depois disso, sua carreira disparou: ele se tornou um cobiçado ator de língua alemã nos EUA e no Reino Unido. Em Londres, ele se apresentou pela primeira vez também em inglês no renomado Royal Court Theatre.
Por seu papel como apaixonado advogado de defesa de um juiz nazista (interpretado por Burt Lancaster) no filme O julgamento de Nurembergue, ele recebeu o Globo de Ouro e, em 1962, o Oscar de Melhor Ator – o alicerce de sua carreira hollywoodiana.
Mundo mágico do teatro
Em Nova York, o jovem ator europeu se apresentou na Broadway. Em 1963, o diretor alemão Gustaf Gründgens levou Maximilian Schell novamente para o teatro Deutsches Schauspielhaus em Hamburgo, para trabalhar como protagonista na lendária encenação de Hamlet – um grande sucesso na carreira do jovem ator.
"Tivemos que voltar ao palco 49 vezes. Foi mais de uma hora de aplausos", lembrou Maximilian Schell. Em seguida, vieram sucessos internacionais no cinema: Topkapi (1964) ao lado de Peter Ustinov, O dossiê de Odessa (1974), Júlia (1977) com Jane Fonda e Vanessa Redgrave.
Ele levou para as telas o livro do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt, O juiz e seu carrasco, mas sem sucesso comercial. Os seus documentários fizeram mais sucesso. Em 1983, ele conseguiu convencer Marlene Dietrich, já em idade avançada, para um encontro cinematográfico. No impressionante documentário Marlene, escuta-se somente a voz soturna e rouca da diva. Além de ser nomeado para o Oscar, o filme foi escolhido como melhor documentário pelo Prêmio da Crítica do New York Times. Seu documentário Minha irmã Maria (2002) também está entre as obras mais renomadas de Schell como diretor.
Ator de caráter
Em seus papéis no cinema, Maximilian Schell deu preferência a grandes personagens controversos, como Pedro, o Grande, Josef Stalin ou o sanguinário ministro na adaptação para as telas de Justiça, de Dürrenmatt. Outro exemplo foi o mafioso que interpretou no filme de gângster Pequena Odessa (1994). Em apenas um ano, o ator chegou a recusar 20 papéis porque eles não lhe pareciam adequados.
Ele era considerado difícil, mas via isso de forma diferente: "Eu só lutei contra a mediocridade. Por toda a minha vida." Em seus últimos anos, ele encontrou um desafio novo e excitante na direção de óperas. Para ele, música clássica era de grande importância. Até mesmo o célebre pianista Leonard Bernstein elogiou a forma de Schell tocar o instrumento. Convidado por Plácido Domingo, Schell encenou em Los Angeles a ópera Lohengrin, de Richard Wagner, e em 2005 O cavalheiro da rosa, de Richard Strauss.
Sem dúvidas, Maximilian Schell está entre os atores de língua alemã de maior sucesso internacional. Mas o "cidadão do mundo" sempre se manteve ligado às origens. Em casa, ele se sentia no alto de uma montanha na região austríaca de Kärnten, num antigo casarão de fazenda que pertence à sua família há dois séculos. Para ele, esse lugar era um refúgio da vida de jet set internacional. Ali se amontoavam os roteiros de seus projetos cinematográficos, como Beethoven, que ele não chegou a realizar.
Até o fim de sua vida, para Schell, não faltaram coragem e energia. No ano passado, ele se casou novamente, com a cantora de ópera Iva Mihanovic, 48 anos mais nova. "Sempre fui um romântico, não posso ser diferente", comentou uma vez. O ator morreu na madrugada de sábado (01/02), aos 83 anos, no Hospital das Clínicas de Innsbruck, em consequência de uma grave doença. Seu trabalho preserva a memória de um dos grandes artistas do cinema e do teatro do pós-guerra.