Cultura e escândalos
25 de julho de 2010Os escândalos fazem tanto parte do Festival quanto Mozart de Salzburgo. Essa é uma das constatações a que leva a exposição Grosses Welttheater. 90 Jahre Salzburger Festspiele (Grande Teatro do Mundo), dedicada aos 90 anos do importante evento cultural.
Durante a inauguração da mostra, neste sábado (24/07), a diretora do festival, Helga Rabl-Städler, riu após dar uma olhada por trás de pesadas faixas de veludo vermelho: "Vejo casais copulando!", comentou.
Discretamente oculta atrás da cortina, encontrava-se uma vídeo-instalação sobre as montagens teatrais que criaram polêmica em Salzburgo. No caso, a versão do diretor húngaro George Tabori (1914-2007) da peça O Livro dos Sete Selos, estreada em 1987. Ao contrário de Rabl-Städler, os responsáveis na época não tiveram motivos para rir, pois a encenação foi cancelada, por suposta obscenidade.
A cidade é o palco
Para além dos pruridos moralistas, inúmeras fotos, figurinos e adereços originais, assim como instalações de áudio e vídeo, documentam de forma viva a história do festival. E, refletindo a ideia original de que "toda a cidade é um palco", a exposição não se limita às dependências do Museu de Salzburgo.
A casa onde nasceu Wolfgang Amadeus Mozart abriga festivais de música, realizados em honra do gênio musical entre 1842 e 1910, precursores do atual espetáculo cultural. Já o museu da catedral da cidade aborda uma outra particularidade salzburguense: a peça Todo Mundo (Jedermann), de Hugo von Hofmannsthal (1874-1929), que abre o evento neste domingo, 25 de julho.
Desde a primeira edição do Festival de Salzburgo, em 1920, o diretor Max Reinhardt estabeleceu a tradição de montar ao ar livre, na praça da catedral, essa obra alegórica, calcada nos mistérios religiosos medievais. E lançou, assim, um desafio para futuras gerações de encenadores e atores. Em seus 45 metros de extensão, a galeria da Arquiabadia Sankt Peter coloca lado a lado os protagonistas de todas as montagens realizadas nos 90 anos do evento, de Will Quadflieg e Maximilian Schell a Klaus Maria Brandauer e Ulrich Tukur.
Salzburgo de "A" a "Z"
Foco das diversas mostras são os artistas e diretores artísticos que marcaram o Festival de Salzburgo, desde o dramaturgo Von Hofmannsthal até o "reformador" Gérard Mortier. Passando pelo excêntrico regente Karajan: uma colagem crítica intitulada Being Herbert von Karajan mostra o maestro em todos os papéis possíveis, no palco e fora dele.
Começando com "A", de "arquitetura", uma enciclopédia do festival apresenta, ainda, temas diversos dessa movimentada história. Fechando a cronologia e criando uma ponte para a edição atual do evento, estão os manuscritos da ópera Dionysos, de Wolfgang Rihm (*1952), baseada nos Ditirambos de Dionísio, de Friedrich Nietzsche. "Esta é a primeira vez que uma ópera é exposta em museu, antes mesmo da estreia", comenta com humor a diretora da exposição, Margarethe Lasinger.
O período nazista é tampouco considerado tabu. Em um mural, num canto completamente negro do Museu de Salzburgo, estão expostos fatos e imagens: os artistas judeus que ficaram proibidos de se apresentar na cidade austríaca às margens do Rio Salzbach; a retirada de Todo Mundo do programa, e a integração do festival à propaganda nazifascista.
Segundo o diretor do museu municipal, Erich Marx, foi "um trabalho sem fim" reunir todas as peças de exposição; sobretudo as mais antigas, que ele exibe, orgulhoso: ingressos para a primeira apresentação da obra de Hofmannsthal, em 22 de agosto de 1920; o livro de direção original de Max Reinhardt; ou um cartaz de 1928. Com ligeiras variações, ele constitui, até hoje, a logomarca do Festival de Salzburgo.
AV/dpa
Revisão: Soraia Vilela