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Mandetta reforça necessidade de isolamento social

28 de março de 2020

Segundo ministro, "não é hora de carreatas”. "Se a gente sair andando todo mundo de uma vez vai faltar [equipamento] para o rico, para o pobre." Titular da Saúde ainda disse que cloroquina "não é uma panaceia".

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Brasilien Brasilia | Luiz Henrique Mandetta, Gesundheitsminister | PK zum Coronavirus
Foto: Adriano Machado/REUTERS

Em coletiva de imprensa neste sábado (28/03), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta destoou repetidas vezes de declarações recentes presidente Jair Bolsonaro e reforçou a necessidade de medidas de isolamento no país.

Para o ministro, esse "não é hora de carreatas” e sim o momento de "ficar em casa, parado" até que o poder público "consiga colocar os equipamentos na mão dos profissionais que precisam”.

Mandetta chegou a criticar medidas amplas para forçar o isolamento que vêm sendo tomadas por governos estaduais, mas ao mesmo tempo procurou se distanciar das declarações recentes de Bolsonaro que vem instando a população a "voltar à normalidade”.

"Se a gente sair andando todo mundo de uma vez vai faltar [equipamento]  para o rico, para o pobre, para o dono da empresa, para o dono do botequim, para o dono de todo mundo", disse o ministro.

Bolsonaro vem defendendo uma forma de isolamento parcial (ou vertical), que incluiria apenas idosos e pessoas com doenças crônicas, uma medida que vai na contramão das ações que vem sendo tomadas pelos países mais atingidos pelo coronavírus. Bolsonaro chegou a afirmar friamente que "alguns vão morrer”, mas que não se pode "parar uma fábrica de automóveis porque tem mortes no trânsito".

Para Mandetta, essa fórmula de isolamento parcial não é indicada no momento. 

"As crianças, muitas das vezes assintomáticas, vão voltar para casa e levar o vírus”, disse. Ele ainda afirmou que os mais jovens também estão suscetíveis à doença e devem se preservar.  Neste sábado, o Brasil acumulava 114 mortes e quase 4.000 casos de coronavírus.

Mandetta também fez uma crítica velada àqueles que vem minimizando a pandemia. "Eu espero e rezo para aqueles que falam que não vai ser nada, que vai ser só uma… um pequeno estresse, que isso passa logo e acaba, espero e rezo todo dia para que estejam corretos nas suas avaliações”, disse Mandetta.

As falas de Mandetta também contrastaram com uma declaração que Bolsonaro fez na quinta-feira. Na ocasião, o presidente disse que Mandetta “já está convencido” que o isolamento parcial (ou vertical) era a melhor estratégia. 

Carreatas

Mandetta ainda disse que é preciso evitar a circulação de pessoas para evitar sobrecarregar os hospitais com atendimentos de outra natureza.

"Quando a gente manda parar diminuem acidentes, traumas e aumentam leitos de UTI quando precisamos", disse o ministro. "Ou seja, mais um benefício quando manda parar, além de diminuir a transmissão. Há informações que nós estamos tendo de queda de até 30%, 40% até 50% do nível de taxa de ocupação dos leitos que antes estavam sendo utilizados para pessoas politraumatizadas. Mais uma razão pra gente gente diminuir bastante a circulação de pessoas", ele 

Ao longo da coletiva, Mandetta mandou um recado para os apoiadores do presidente que, incentivados pelo Planalto, têm organizado carreatas em cidades do país para exigir a revogação de medidas tomadas por governos municipais e estaduais que restringem o funcionamento do comércio e de aglomerações. "Não é hora de fazer carreata”, disse o ministro.

"Fazer movimento assimétrico de efeito manada... Daqui a duas semanas, três semanas, os que falam 'vamos fazer carreata', vão ser os mesmos que ficarão em casa. Não é hora."

Na sexta-feira, Bolsonaro chegou a classificar o movimento de pessoas que saíram às ruas de carro para protestar contra a quarentena como "uma coisa fantástica". Seu governo também chegou a lançar uma campanha com o slogan "O Brasil não pode parar" para defender a retomada da vida cotidiana. A campanha foi suspensa neste sábado pela Justiça. 

Cloroquina

O ministro também evitou demonstrar o mesmo entusiasmo que Bolsonaro tem mostrado pela cloroquina no tratamento da covid-19.

"Cloroquina não é uma panaceia. Cloroquina não é o remédio que veio para a salvar a humanidade. Ainda”, disse Mandetta sobre o medicamento  que é usado normalmente no tratamento da malária. 

"Esse medicamento, se tomado, pode dar arritmia cardíaca e paralisar a função do fígado, então se sairmos com a caixa na mão e falar 'pode tomar', nós podemos ter mais mortes por mau uso de medicamento do que pela própria virose, então não façam isso", disse Mandetta.

Críticas aos governadores

Por outro lado, Mandetta criticou as ações amplas para forçar um isolamento geral que foram tomadas por diversos governos estaduais e municipais. O ministro disse que é contra um lockdown (confinamento obrigatório) em todo o território nacional, mas não descartou que essa medida possa ser tomada em áreas localizadas.

"Não existe quarentena vertical, horizontal. Existe a necessidade de arbitrar em determinado tempo qual o grau de retenção que uma sociedadade deve fazer", disse.

"O lockdown - parada absoluta ou total -, pode vir a ser necessário, em algum momento, em alguma cidade. O que não existe é um lockdown ao mesmo tempo, desarticulado. Isso é um desastre que vai causar muito problema pra nós da saúde", completou.

Mandetta ainda fez um apelo para que governadores e prefeitos não tomem atitudes unilaterais e defendeu mais coordenação e ação nacional. "Agora é preciso coordenar a ação nacional. Precisa sentar e organizar. Aqueles que pensarem localmente e não tiverem cabeça e visão para ver o mundo, terão dificuldades."

"Nós precisamos ter racionalidade e não nos mover por impulso neste momento. Nós vamos nos mover, como eu disse desde o princípio, vamos nos mover pela ciência e pela parte técnica, com planejamento”, disse Mandetta.

Apesar de manifestar a importância de a população permanecer em casa o quanto possível, algo que bate de frente com o plano da "volta à normalidade” de Bolsonaro, Mandetta disse que o presidente está certo em se preocupar com a economia.

"O presidente está certíssimo quando diz que a crise da economia vai matar as pessoas. E somos 100% engajados de achar as soluções junto com a equipe da economia”, disse. "Todo o comércio está falando ‘eu quero abrir'. Calma, que vamos fazer regrinha. Algumas coisas que vamos ter que colocar para serem pontos de referência. Vamos trabalhar isso bem bacana”, disse.

Ao final da entrevista, o ministro voltou se alinhou mais abertamente com a cartilha bolsonarista e distribuiu ataques à imprensa, afirmando considerar que por vezes o trabalho do meios de comunicação é "sórdido”.

"Desliguem um pouco a televisão. Às vezes ela é tóxica demais. A quantidade de informações e, às vezes, os meios de comunicação são sórdidos porque ele só vendem se a matéria for ruim. Senão, ninguém compra o jornal", disse.

JPS/ots

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