Às vezes me pergunto se o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, acreditam nos anúncios que fazem em relação à economia.
O presidente chegou a anunciar nesta segunda-feira (25/10) que considera privatizar a Petrobras nos últimos meses de seu governo. "Isso entrou no nosso radar", disse Bolsonaro em entrevista para uma rádio. Era óbvio que o presidente queria acalmar a economia após a turbulência da semana anterior.
Havia sido uma semana negativa para o presidente: ele foi acusado de inúmeros crimes no relatório final da CPI da Pandemia, no Senado. Depois, Guedes declarou que o governo considera furar o teto de gastos para viabilizar o novo programa social do governo, o Auxílio Brasil.
Os investidores reagiram em pânico ao pacote duplo de más notícias: o mercado financeiro reagiu mal, e a bolsa acumulou queda de 7,28% na semana. A inflação provavelmente permanecerá na casa dos dois dígitos por um longo tempo, e parece que a economia brasileira pode não apenas estagnar no próximo ano, mas também entrar em recessão.
O presidente foi rápido em apontar que havia sido eleito "presidente reformista" pelo empresariado, na esperança de que o máximo possível de reformas e privatizações ocorresse em seu governo. Para dizer com cautela, as esperanças foram frustradas: Bolsonaro permaneceu leal ao Estado forte e aos interesses a ele associados, como em seus sete mandatos parlamentares anteriores. Nenhum sinal de um presidente reformista.
Mas mesmo Guedes – que assumiu o cargo de superministro neoliberal, vê o Chile da época de Pinochet como modelo e prometeu uma reviravolta após meio século de política de esquerda – se parece cada vez mais com seu antecessor Guido Mantega, que foi ridicularizado pelos empresários e que, sob Dilma Rousseff, era puramente um destinatário de ordens da presidente e sem qualquer margem de manobra própria.
O que Guedes então faz? Ele está feliz com a ótima sugestão de seu chefe de pensar na privatização da Petrobras e destaca que as ações da estatal subiram 6% após o presidente Jair Bolsonaro dizer que iria estudar meios de privatizá-la. "Em mais duas ou três semanas, são 15 bilhões de reais criados. Isso não existia, não é tirar do povo. É uma riqueza que estava destruída: bastou o presidente dizer que ia estudar [a privatização] que o negócio saiu subindo", frisou o ministro na segunda-feira (25/10).
Desejava-se que ele estivesse permanecido em silêncio. Afinal, como uma estatal como a Petrobras – que é fundamental para a economia, a política e a sociedade brasileira – pode ser privatizada nos últimos meses de governo de um presidente fraco? Essa é uma tarefa monstruosamente difícil, que o governo não conseguiu realizar nem com os Correios nem com a Eletrobras.
Além do mais, qual investidor estaria interessado em uma empresa petrolífera na qual o governo não apenas deseja determinar o presidente, mas também quer ter a palavra final em todas as decisões estratégicas através da chamada "golden share"?
Que fantasia Bolsonaro e Guedes queriam apresentar aos brasileiros é demonstrado pela reação seca da Petrobras: num comunicado, a empresa informou ao mercado que questionou formalmente o governo federal sobre a existência ou não de estudos para a privatização da empresa.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. Clique aqui para ler suas colunas.
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