Mais de 4 mil detidos em protestos na Rússia
6 de março de 2022O governo russo continua a reprimir fortemente os protestos de cidadãos contra a guerra na Ucrânia. Neste domingo (06/03), foram detidos pelo menos 4.640 participantes em 65 cidades da Rússia, segundo dados do projeto de mídia russo OVD-Info, que monitora detenções em protestos oposicionistas.
Vídeos nas redes sociais, postados por opositores do regime do Kremlin e blogueiros, mostram milhares de ativistas entoando "Não à guerra!" e "Tenham vergonha!". Vê-se também a polícia de Ecaterimburgo, no distrito dos Urais, espancando um manifestante caído no chão. Um mural protagonizado pelo presidente russo, Vladimir Putin, foi pichado.
O Ministério russo do Interior confirmou ter detido 1.700 cidadãos em Moscou e 750 em São Petersburgo – as duas maiores metrópoles do país –, além de 1.061 em outras cidades, sobretudo Ecaterimburgo e Novosibirsk, na Sibéria.
Assim, foram mais de 13 mil detenções em passeatas consideradas ilegais pelo governo, desde 24 de fevereiro, quando Putin ordenou sua assim chamada "operação militar especial" na Ucrânia.
"Os parafusos estão sendo apertados até o fim; essencialmente estamos testemunhando censura militar", comentou a porta-voz da OVD-Info Maria Kuznetsovam. "Estamos vendo protestos bastante grandes hoje, mesmo em cidades siberianas onde só raramente há tais números de detenções", completou.
Protesto no Cazaquistão
A agência de notícias Reuters cita vídeos nas redes sociais que também mostrariam uma manifestação na cidade de Almaty, no Cazaquistão, contra a guerra na Ucrânia, reunindo 2 mil participantes. A multidão brada slogans como "Não à guerra!", agitando bandeiras ucranianas. Balões azuis e amarelos foram colocados na mão de uma estátua de Vladimir Lenin (1870-1924), na praça de onde partiu a passeata. A veracidade das imagens, contudo, não pôde ser verificada.
A última vez que a Rússia presenciou manifestações destas dimensões foi em janeiro de 2021, quando milhares exigiram a libertação do líder oposicionista Alexei Navalny, preso logo após seu retorno da Alemanha, onde passara cinco meses se recuperando de um envenenamento com o gás da era soviética Novichok. Atualmente, ele cumpre dois anos e meio de prisão, sob ameaça de uma pena de até 15 anos.
Na quarta-feira, o crítico do Kremlin conclamara seus compatriotas a se manifestarem diariamente contra a guerra, sem medo de serem detidos. Navalny frisou que a Rússia não podia ser uma "nação de covardes assustados" e tachou Putin de "czar insano".
Na sexta-feira, o chefe do Kremlin assinou uma lei prevendo penas de prisão de até 15 anos para quem publique o que o governo classifica como "notícias falsas" sobre as Forças Armadas russas.
av/le (Reuters,AFP,AP)